Túneis da Rota do Sol – RS-486

 

Filosofia dos fundadores contribui até hoje para a solidez e crescimento da companhia

 

José Carlos Videira

 

A Toniolo, Busnello completa 60 anos de história que se confunde com a do desenvolvimento do Brasil no mesmo período. Uma das mais importantes do mercado tuneleiro, com cerca de 300 km de túneis pelo País afora, a empresa surgiu, no Rio Grande do Sul, a partir do empreendedorismo das famílias Toniolo e Busnello. O trabalho árduo dos irmãos Joaquim e Germano Toniolo, juntamente com o primo Octaviano Albino Busnello, formou os pilares de sustentação da companhia, referência no setor.
 

Seriedade, qualidade, pontualidade na entrega, comprometimento com contratos e foco no cliente, sempre. Essa é a principal filosofia de trabalho dos fundadores, que a geração atual de gestores tem como desafio dar continuidade. Os fundadores também eram conhecidos por botar a mão na massa. A empresa garante que essa prática ainda persiste. “A participação da diretoria da Toniolo, Busnello nas obras ainda é permanente.”

 

Empresa familiar, de capital fechado, com diretoria profissionalizada, emprega mais de 3 mil colaboradores, em 11 estados. Há cinco anos, a empresa faturava anualmente R$ 300 milhões. Em 2013, o faturamento chegou a R$ 550 milhões. “Nossa estimativa é atingir R$ 700 milhões no final deste ano”, prevê Henrique Busnello, diretor da empresa e filho de Octaviano. “No entanto, para nós, o mais importante não é o quanto faturamos, mas a solidez desse faturamento”, ressalta.

 

Os investimentos se concentram na renovação dos equipamentos produtivos. “Em média, aplicamos entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões por ano para aumentar, principalmente, nossa frota produtiva”, destaca Busnello.

 

A saga da família

Os primórdios da empresa remontam à década de 1940, quando os jovens, na faixa de 25 e 30 anos, Joaquim, Germano e Octaviano tiveram a oportunidade de se unir para construir um túnel na serra gaúcha. “Nem tinham ainda conhecimento das técnicas construtivas de túneis”, conta Humberto Busnello. “Era só a vontade de trabalhar”, resume. O primeiro túnel construído pela empresa foi em Bento Gonçalves, em 1948.

 

A partir de então eles começaram a construir um túnel por vez. De 1945 a 1954, a empresa tinha outro nome. Mas em 1954 assumiu a denominação de Toniolo, Busnello, marco do início da trajetória até os dias atuais.

 

“Os três trabalhavam juntos com os empregados e utilizavam ferramentas rudimentares naquela época”, detalha Humberto Busnello. Segundo ele, as primeiras detonações nos túneis, com pólvora, eram precedidas de “buraquinhos escavados com percussão de ponteiras, martelos batedores”, explica. Com a experiência acumulada, obra após obra, a partir dos anos 50, a empresa adquiriu uma carregadeira, um transportador para movimentar materiais de dentro dos túneis, martelos para furação, compressores, entre outras ferramentas”, lembra Humberto. Ali começava a evolução da companhia para o que ela representa hoje para o setor tuneleiro. Atualmente detém uma das maiores frotas de jumbos para perfuração subterrânea, com 29 unidades, de dois e três braços.

 

 

Usina Hidrelétrica (UHE) de Monjolinho, no Rio Grande do Sul           Trecho São Leopoldo-Novo Hamburgo (RS) da linha da Trensurb
 

Até 1960, a Toniolo, Busnello construía um túnel por vez. Mas esse ritmo viria a mudar, ressalta o diretor, após vencer concorrência para construir sete túneis, no tronco ferroviário principal sul, que liga Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “Esse foi nosso grande salto”, frisou. A empresa passou a construir túneis para o 1° Batalhão Ferroviário do Exército (atual 10º BEC, de Lages-SC), que à época tinha sede em Bento Gonçalves (RS). Essa foi a primeira incursão da construtora para fora dos limites do Rio Grande do Sul.

 

Humberto Busnello: “Vontade de trabalhar”

 

Humberto Busnello lembra que, a partir de 1967, com o ritmo menor nas construções ferroviárias no sul, e com o crescimento das rodovias, a Toniolo, Busnello também começou a diversificar seus negócios, partindo para o setor rodoviário. ”Mas sem nunca abandonar as obras no setor subterrâneo”, ressalta. Ele conta que nessa época houve a compra de instalações de britagem e equipamentos para o setor rodoviário.

 

Consolidada na região Sul, em 1975, surge uma grande obra que expande mais uma vez as fronteiras da Toniolo, Busnello. A empresa incursiona desta vez para Minas Gerais para participar da construção dos túneis da Ferrovia do Aço, uma das obras mais importantes para o País na época. No total, mais de 3 mil m de extensão de túneis no município mineiro de Congonhas do Campo.

 

Know-how italiano

Nesse mesmo período, Humberto Busnello conta que a construtora também passou a investir mais em novas tecnologias para a confecção de túneis. Contratou cinco técnicos italianos com experiência internacional em túneis. “Passamos a usar o Novo Método Austríaco para Abertura de Túneis (NATM, na sigla em inglês)”, informa o diretor. Segundo ele, até então, a construtora só trabalhava com túneis em rocha, comuns no Rio Grande do Sul. “Em Minas Gerais, a geologia é superdiversificada inclusive em solos”, afirma.

 

Ele frisa que naquela época a empresa também adquiriu equipamentos modernos para escavações subterrâneas. “Foi nesse período que compramos o primeiro jumbo”, afirma. A partir daí, a Toniolo, Busnello continuou desenvolvendo essa atividade e crescendo ainda mais pelo Brasil.

 

Os técnicos italianos permaneceram na companhia por cerca de seis anos. “Eram técnicos experientes na construção de túneis na Itália, África, Índia, entre out
ros locais”, ressalta Busnello. Os técnicos italianos ficaram encarregados da perfuração de túneis. “Isso ajudou muito a qualificar nosso pessoal, que assimilou esse know-how.”

 

A empresa continua sempre com um misto de obras subterrâneas e obras rodoviárias (terraplenagem e pavimentação, principalmente, em regiões com grandes desmontes de rocha). “Nos tornamos experts em desmonte, qualificação desenvolvida nas obras da serra gaúcha, que tem terreno acidentado e com muita rocha”, frisa Humberto Busnello.

 

Sem perder o foco nos demais negócios, nos anos 80, a Toniolo, Busnello entra na área de minas subterrâneas. “Já tínhamos experiência em mina de carvão, no Rio Grande do Sul”, frisa Busnello. Ele explica que a empresa não tem lavra própria. “Atuamos somente na prestação de serviços junto a mineradoras na abertura das minas”, destaca. Entre os destaques, a execução da Mina do Leão II, em Butiá (RS), com mais de 8 km de galerias.

 

Nos anos 90, a Toniolo, Busnello também intensifica a atuação em obras na área subterrânea de hidrelétricas e PCH´s. “Casas de máquinas, túneis para desvios de rios etc. são alguns de nossos trabalhos para esse segmento”, exemplifica Busnello. Entre as obras, a UHE Mauá, no Paraná, a PCH de Pipoca (MG), entre outras.

 

A Transposição do Rio São Francisco gerou um grande desafio para a Toniolo, Busnello na década de 2000. Em consórcio, a empresa constrói dois túneis, um com 4 km e outro com 15 km (só para transportar água), com seções de quase 100 m2.

 

Foco

“Hoje, nosso grande foco é a iniciativa privada”, revela o diretor da Toniolo, Busnello. Do faturamento total, 75% vêm de empresas privadas e somente 25% têm origem no setor público. “Embora a companhia tenha bastante atividade em obras públicas, como os túneis da Transposição do São Francisco”, pondera o executivo.

 

“Em 2004, nosso planejamento estratégico detectou que os governos, municipal, estadual e federal, à época, iam ter dificuldade para sustentar investimentos em infraestrutura”, revela Busnello. A partir daí, a empresa decidiu concentrar esforços em clientes da iniciativa privada. “Até agora a estratégia mostrou-se vitoriosa.”

 

Obras concluídas

Tipo

Túnel – especificação

Rodoviário

Linha Amarela – RJ – 4.400 m

Rota do Sol – RS – 1.150 m

Grota Funda – RJ – 766 m

Rodoanel – SP – 2.100 m

Túnel da Mata Fria (BR-381) – SP – 252 m

Ferroviário

Ferrovia do Aço – MG – 3.154 m

Estrada de Ferro 491 – RS – 3.290 m

Lages – SC – 3.066 m

Costa Lacerda – MG – 288 m

Hidráulico

UHE Mauá – PR

UHE Monjolinho – RS

UHE Guaporé – MT

UHE Monte Claro – RS

PCH São João – MG

PCH Criúva e Palanquinho – RS

PCH Pipoca – MG

Integração do Rio São Francisco – PB/PE

Mina Subterrânea

Mina do Leão II – RS

Minas em Crixás – GO

Jacobina – BA

Mina de Raposos – MG

Pilar de Goiás – GO

Fazenda Brasileiro – BA

Caiamar – GO

Corpo Alemão – PA

Fortaleza de Minas – MG

Pau a Pique – MT

 

bras concluídas

Trensurb

Extensão – 9,31 km de elevados e cinco estações elevadas

Municípios: São Leopoldo e Novo Hamburgo/RS

Sistema viário no entorno do Estádio Beira-Rio

8 km de sistema viário com viaduto estaiado

Município: Alegre/RS

Canal do Castanhão

34 km de Canais com 1 túnel de 1.300 m

Municípios: Pacajus e Itaitinga/CE

Rodovia BR-448

Extensão: 9,14 km

Municípios: Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas/RS

 

Principais obras em andamento

Duplicação da BR-290

Extensão total: 30,8 km

Municípios: Eldorado do Sul (km 142 ao km 148,68), Arroio
dos Ratos (km 148,68 ao km 161), São Jerônimo (km 161
ao km 161,99) e Butiá (km 161,99 ao km 172,08).

Dois túneis na BR-381

Extensão total: 1.280 m

Túnel Antônio Dias – 560 m

Túnel Prainha – 720 m

L
ocal: Antônio Dias/MG

Alteamento de barragens

Barragem: 794.373 m³

Município: Santa Bárbara/MG

Drenagem de cavas de Carajás

Concreto projetado – 5.865 m³

Concreto convencional – 4.279 m³

Aplicação de geocélula – 20.623 m²

Escavação, carga e transporte – 88.119 m³

Município: Parauapebas/PA

Túnel da Mina Brucutu

Extensão total: 612 m

Local: São Gonçalo do Rio Abaixo/MG

 

Obra de túnel para passagem de água da Transposição do Rio São Francisco

 

Diversificação

Humberto Busnello lembra que a companhia é muito diversificada. “Às vezes, tem empresa de engenharia que tem foco só em rodovias, ou só em aeroportos, mas nossa empresa, dentro da engenharia de infraestrutura, é muito diversificada”, garante.

 

“Nosso foco continua subterrâneo, mas com uma grande diversificação”, diz. Segundo ele, a empresa pretende crescer em tudo o que for subterrâneo, em qualquer atividade: ferrovias, rodovias, hidrelétricas, PCH´s e mineração. “Tudo o que estiver em baixo da terra, em qualquer atividade, nos interessa”, frisa Busnello.

 

Segundo o diretor, os sócios ainda têm holdings em vários setores, além da construtora. Entre esses negócios estão a distribuição de veículos, automóveis e caminhões, de várias marcas. Outra holding é voltada à participação em concessões rodoviárias.

 

A Toniolo, Busnello atua ainda na área imobiliária no Estado do Rio Grande do Sul. Para o futuro, a empresa prevê a consolidação de todas essas atividades.

 

 

Fonte: Revista O Empreiteiro