O Palácio dos Correios de Niterói (RJ) é um edifício em estilo art nouveau localizado no centro da cidade. Foi inaugurado em 1914 e é composto de três pavimentos, possuindo dois torreões que ostentam cúpulas metálicas.
O monumental edifício foi o primeiro grande prédio a abrigar uma repartição pública civil do governo federal na cidade. O prédio histórico dos Correios, após passar por reforma e restauro, foi reaberto em 21 de março de 2014, no ano de seu centenário. As obras de reforma e restauro foram iniciadas em 2011 e ficaram a cargo da Dimensional Engenharia.
Foram restauradas as características originais do prédio, com a recuperação de todas as fachadas e esquadrias. O prédio recebeu iluminação monumental, climatização e circuito interno e externo de câmeras.
O Palácio dos Correios possui área construída de 4.501,74 m² e é tombado pelo patrimônio histórico. O projeto manteve a destinação pública do prédio, inserindo elementos modernos de segurança, controle de ?uxo, monitoramento, acessibilidade e tecnologia da informação; porém, respeitando o ritmo, as modulações, os vãos e os espaços monumentais do projeto original.
A maior dificuldade enfrentada pela engenharia no trabalho de restauração, segundo a Dimensional, foi a sucessão de reformas que foram realizadas no prédio ao longo de seus 100 anos de existência que não respeitaram as características originais do prédio.
Assim, a arquitetura do Palácio sofreu diversas agressões, como o emassamento e pintura de elementos de cobre e de mármore e a substituição de elementos decorativos e ornatos de época por materiais não compatíveis de todas as espécies.
Reverter essa situação demandou a utilização de técnicas específicas de restauração, inclusive com o apoio de pesquisadores e historiadores ao resgatar informações valiosas sobre as características originais do Palácio. Algumas técnicas específicas foram desenvolvidas in house na obra, como a forma de reprodução de mosaicos com o auxílio de modelagem computacional.
No canteiro de obras foi montado um atelier de restauração com a capacidade de se criar formas especiais para fundição in loco de elementos metálicos, execução de serviços de funilaria, além de recuperação e moldagem de elementos em gesso ou em argamassa armada.
Para garantir a durabilidade e confiabilidade do desempenho do prédio, todas as instalações hidráulicas, sanitárias, elétricas e mecânicas foram substituídas por novas, inclusive com a montagem de uma subestação transformadora. A impermeabilização e os telhados também foram completamente refeitos.
Em relação à estrutura, foram desenvolvidos estudos com a colaboração de consultores especializados para efetuar um diagnóstico completo de seu estado, com proposição de reforços e reconstruções de pontos específicos que não possuíam resistência compatível com as novas cargas atuantes.
Nesse item, metade da laje do segundo pavimento, cujo modelo construtivo era uma argamassa armada apoiada sobre estrado metálico, teve que ser completamente substituída. A solução adotada foi a substituição da subestrutura metálica conjugada com a utilização de painel-wall, que proporcionou simultaneamente uma maior resistência da laje e um alívio no peso próprio da estrutura do prédio, diminuindo as cargas atuantes na fundação.
A edificação foi adaptada às atuais exigências da legislação e novas necessidades de uso do prédio sem, contudo, descaracterizar os aspectos essenciais da construção. Desta forma, os acessos e circulações de serviço, banheiros, vestiários de funcionários e sanitários acessíveis foram acomodados em um único salão aos fundos, com o objetivo de minimizar a descaracterização dos grandes espaços.
No prédio, atualmente funciona a principal agência dos Correios na cidade e a sede da Região de Negócios que atende Niterói, São Gonçalo e Região dos Lagos. Passou a abrigar também o Espaço Cultural Correios Niterói.
Intervenções
Dentre as inúmeras intervenções, destaca-se a restauração das cúpulas de cobre do prédio com a reforma e reconstrução das subestruturas de madeira bastante degradadas devido à existência de infiltrações, cupins e ações das intempéries. Em relação às pétalas de cobre que formam as cúpulas, é importante destacar que são 3.520 elementos por domo, totalizando 7.040 peças que foram individualmente numeradas, retiradas, embaladas, jateadas tratadas, desempenadas, embaladas novamente e remontadas.
Como as cúpulas haviam sido pintadas, ao limpar as pétalas foi descoberto que várias delas tinham sido substituídas por elementos de ferro. Assim, se tornou necessário a criação de um molde para fundição de novas pétalas de cobre para reprodução das peças faltantes. Para a recolocação, cada peça foi posicionada em seu lugar original, seguindo o projeto contendo a numeração de cada elemento, produzido antes da desmontagem.
Além das cúpulas, toda a cobertura do prédio precisou ter a estrutura reformada e restaurada. Parte das estruturas laterais da cobertura, constituída de peças metálicas, apresentava oxidação e precisou ser substituída, bem como a estrutura do telhado, que era constituída de peças de madeira que apresentavam problemas de desgaste devido às inúmeras infiltrações e pragas. As telhas foram limpas e trocadas aquelas que apresentavam problemas de integridade.
Todas as fachadas foram restauradas. As fachadas, originalmente em argamassa pigmentada, receberam pintura na cor da pigmentação original, que foi descoberta através da prospecção estratigráfica das camadas de tintas aplicadas ao longo do tempo. Foram mantidos os ornatos conforme a construção original.
Nas paredes internas do prédio também foram feitas prospecções estratigráfcas de modo a revelar a pintura original das salas. Uma gratifcante surpresa foi a descoberta de desenhos decorativos tipo afrescos em diversos cômodos. Como a restauração de todas essas pinturas seria inviável financeiramente, devido ao budget do empreendimento,a solução vislumbrada pela Dimensional foi a recuperação de uma amostra da pintura em cada sala de 50 cm x 50 cm, tipo uma janela histórica, e a restauração total de uma sala, que se tornou um marco cultural, recompondo a pintura decorativa dos tetos, roda tetos, sancas, cambotas, roda meios e rodapés conforme a concepção original da edificação. Para realizar este trabalho a equipe da obra contou com artistas plásticos especializados em restauração de pinturas.
O piso hidráulico da varanda foi removido cuidadosamente uma peça de cada vez, restaurada, sendo as peças faltantes reproduzidas e posteriormente reassentadas. Os mosaicos em pastilha foram restaurados com o auxílio computacional. Os elementos decorativos foram fotografados, recompostos com o auxílio de PhotoShop, posteriormente modelados em Autocad e plotados em tamanho real. Em cima das plantas em escala 1:1 foram coladas as pastilhas, uma a uma, de forma invertida, e por trás das mesmas foi aplicada uma argamassa, criando placas de cimento que foram assentadas nos lugares originais, como se fossem um piso comum.
Todas as trincas das paredes estruturais da edificação foram reforçadas com manta de fibra de carbono e resina epóxi, aumentando a resistência das mesmas sem, contudo, comprometer a arquitetura do prédio.
As esquadrias de madeira existentes, as fechaduras, dobradiças e cremonas foram restauradas e as faltantes substituídas por réplicas. Os pisos em peroba rosa e peroba do campo também foram restaurados.
O piso do primeiro pavimento, onde iria funcionar a agência, foi revestido com granito, assim como na cafeteria do segundo pavimento e nos sanitários. A claraboia na cobertura também foi totalmente restaurada.
As fachadas receberam uma iluminação monumental para durante a noite destacar a beleza da arquitetura do prédio, projetada com o auxílio de software computacional de modelagem luminotécnica fisicamente fundamentado, e não através de uma simples renderização tridimensional. Essa ferramenta foi fundamental para a obtenção do efeito visual final
Fonte: Revista O Empreiteiro