Uma obra de arquitetura revisitada 43 anos depois

O acaso e a curiosidade levaram-me, com os colegas de redação Guilherme Azevedo e José Carlos Videira, a visitar, dias atrás, uma obra de arquitetura e de engenharia objeto de matéria publicada na revista há mais de 40 anos. A obra está ali, a alguns passos do largo da Batata, na rua Pedro Cristi, São Paulo (SP), e suscita surpreendentes lembranças.

 

Trata-se da edificação que abriga as instalações do mercado distrital de Pinheiros. São 4.196 m² de área construída e estacionamento com 1.742 m². Ele chama a atenção pela concepção inteligente do projeto, formato ovoide, pé-direito elevado e espaços no térreo e subsolo que recebem aeração e iluminação naturais, proporcionadas pelos amplos acessos laterais e pela cobertura que lembra, de certo modo, uma espinha de peixe.

 

A cobertura se distribui como uma grande aba circular de concreto que protege a estrutura da incidência da luz solar. E é dentro dessa estrutura, no térreo e no subsolo, que estão distribuídos os boxes e a pequena, mas acolhedora praça de alimentação.

 

Inaugurado em 1971, o mercado acabou constituindo um exemplo de projeto de arquitetura que ensejou construção sólida, equilibrada, equacionada com as possibilidades do concreto na esbeltez dos pilares, da cobertura e do conjunto da estrutura.

 

Visitei a obra na fase em que ela avançava nas fundações e, mais tarde, na inauguração. Nas duas ocasiões foi gratificante a conversa com os arquitetos que desenvolveram o projeto em 1968: Eurico Prado Lopes e Luiz Benedito Castro Telles, já falecidos. A construção ficou a cargo da Construtora Passarelli, que ao longo de mais de 80 anos tem realizado obras importantes para a evolução urbana de São Paulo. Um pormenor: a impermeabilização dessa obra foi feita pela empresa Asfaltadora Brasileira, que estava nas mãos do engenheiro Zeno Pirondi, pai do arquiteto Cyro Pirondi, um dos grandes lutadores em favor da arquitetura brasileira.

 

O mercado vem recebendo manutenções periódicas, mas reconhecidamente insatisfatórias. Merece maior atenção do poder público, tanto pela sua importância funcional quanto, sobretudo, pela sua importância referencial para a história paulistana.

 

Ele é um exemplo de obras de arquitetura e engenharia pontuais, que ajudam a montar o cenário da cidade, mas cujos arquitetos e construtores somente são lembrados por acaso ou quando a curiosidade instiga pesquisas específicas. 

 

Eurico Prado Lopes faleceu em 1985 e Luiz Benedito Castro Telles, no dia 23 de fevereiro último. Ambos são autores de outros projetos significativos da arquitetura paulista. Dentre eles, o do Centro Cultural São Paulo, inaugurado no dia 13 de maio de 1982, construído pela Método (estrutura de concreto), com projeto estrutural da Maubertec, acústica de Igor Sresnewsky e paisagismo de Koiti Mori e Klara Kaiser. Foi concebido, na origem, como o primeiro complexo cultural multidisciplinar do País.

 

O Mercado Municipal de Pinheiros, um ícone paulistano

 

Fonte: Revista O Empreiteiro

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