A insegurança generalizada, que se agrava e afeta o cotidiano dos cidadãos nas residências, nos palácios, nos hospitais, no trabalho, nos engarrafamentos, no transporte público, nas rodovias e ferrovias, até nas aldeias indígenas e, de modo amplo, onde quer que ele se encontre, é reflexo direto da crise de governabilidade que atinge todas as regiões brasileiras e da qual nenhuma instituição de governo pode considerar-se imune ou isenta.
A violência urbana continua a ser um problema que nenhuma Unidade de Polícia Pacificadora, seja no Rio, São Paulo, Belo Horizonte ou nas demais metrópoles estaria apta para resolver. Ela alojou-se de tal modo no organismo urbano, que sua erradicação constituirá desafio permanente para as políticas públicas sociais.
A impunidade aguça e estimula a violência. Haja vista as ocorrências, recorrentes, em estádios de futebol. Ou o que aconteceu, no começo do mês, em estações do metrô paulistano, quando uma falha, na Linha 3 (Vermelha), paralisou uma composição e, no conflito que se seguiu, seguranças coagiam velhos, crianças e mulheres grávidas a abandonar os vagões; senão, a Polícia seria chamada para dispersá-los, mediante a ameaça do lançamento de bombas de efeito moral.
As mensagens passadas pelas passeatas, sobretudo as de junho do ano passado, aparentemente foram jogadas no esquecimento. E, esse ato, pressupõe também uma violência praticada institucionalmente contra os cidadãos, na medida em que os seus interesses são negligenciados, em favor do compadrio, das vantagens políticas, das benesses feitas com o dinheiro do contribuinte, nas duas Casas do Congresso e em outras áreas mais.
Quando se constata que a receita líquida do governo federal, em 2013, foi 12,5% maior do que a de 2012, e a despesa de custeio da máquina administrativa chegou a 13,6%, temos aí uma demonstração inequívoca de que o contribuinte sofreu outro tipo, não menos grave, de violência. Afinal, por que não prestar ao cidadão que paga impostos, serviços públicos essenciais de qualidade?
A agravar ainda mais a sensação de insegurança urbana temos a infraestrutura obsoleta das cidades; a falta de medidas de emergência para prevenir estragos ocasionados pelos tradicionais sítios de alagamentos em cada enchente do ano; a carência de obras de manutenção permanentes em São Paulo, o que se observa nas centenas de semáforos que se apagam toda vez que as chuvas ganham maior intensidade; o desvio dos recursos para obras em áreas de risco, como aconteceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro em outras regiões; a constatação de que ainda há “escolas de lata” em funcionamento; o problema dos sem-teto, dentre eles aqueles que se consideram como tais, embora possuam até carros e recebam bolsas do governo e as filas intermináveis nos hospitais públicos desaparelhados. Quanto ao abastecimento d´água, é suficiente ver e ouvir o anúncio da Sabesp pedindo para o consumidor economizá-la, quando ela própria não evita a perda de 25% do líquido, por conta de fraudes e vazamentos.
Então, mais uma vez, repete-se outra violência: o apagão. Em época de intenso consumo de energia, e de reservatórios abaixo da cota mínima, há curtos-circuitos na linha de transmissão entre Tocantins e Goiás. Resultado: 11 estados das regiões Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste são atingidos, deixando perto de 6 milhões de pessoas sem energia. Não é necessário dizer nada. Basta citar o engenheiro Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras, em artigo na FSP: “A trajetória tarifária e a deterioração da qualidade do setor elétrico é injustificável para um país dotado de excelentes recursos tecnológicos, humanos e naturais…” “… o governo, em vez de desmontar a máquina de aumentar custos, intrínseca ao modelo vigente, criou uma sangria bilionária de recursos públicos para manter uma inexequível promessa de reduzir tarifas sem reduzir custos. Transfere dezenas de bilhões de reais do País e destrói patrimônio público.”
Para não ficar apenas nas críticas e sem oferecer soluções, queremos lembrar, mais uma vez, que as empresas de engenharia do País têm plenas condições para corrigir distorções e recolocar obras públicas atrasadas nos trilhos. Para isso, basta que recorram aos recursos disponíveis na prateleira: os softwares. Eles detectam os atrasos e os estouros dos orçamentos em tempo real, de forma transparente, com supervisão de profissionais da engenharia competentes. Vale aqui um exercício de memória: Quem se lembra, hoje, de alguma obra pública concluída e entregue no prazo e dentro do orçamento originalmente estabelecido?
Fonte: Revista O Empreiteiro