Política que só vê eleições arruína a boa gestão pública

Só a política pode explicar por que duas empresas estatais consideradas modelos de gestão nos seus respectivos segmentos de atuação — a Eletrobrás e a Petrobras — estão sendo literalmente desmontadas. A Eletrobrás perdeu bilhões do seu valor de mercado após a antecipação forçada das concessões das usinas pelo governo federal e a mirabolante redução de 10% nas contas de luz dos consumidores, às vésperas das eleições municipais de 2012. Imaginem a adoção dessa medida com uma canetada, sem que se soubesse quem pagaria a conta, num país com inflação em alta e onde as centrais termelétricas ainda são acionadas, a altíssimo custo, para atender a demanda.

A Petrobras sofre há anos com a defasagem dos preços dos derivados que importa do mercado internacional e com os preços no varejo praticados internamente. Além disso, ainda comprou refinarias no exterior, a preços exorbitantes, sem atentar para cláusulas contratuais leoninas, tendo de arcar, depois, com prejuízos bilionários.

Em São Paulo, o estado mais rico da federação, a Sabesp e a Companhia do Metropolitano eram dadas também como empresas modelares no abastecimento d’água e na operação do metrô – um dos poucos no mundo que não sofria com pichações e outras formas de vandalismo e que vinha sendo mantido com zelo pelos usuários. Eis que pode faltar água na capital e em outros municípios da região metropolitana no ano da Copa do Mundo! O crescimento demográfico paulistano, ao longo do tempo, foi ignorado pelos planejadores, que ainda ignoraram durante décadas os milhões de pontos de vazamento na rede de abastecimento. E o preço irrisório da água tratada?

As estações abarrotadas do metrô e as frequentes panes nos trens metropolitanos, muitas vezes atribuídas a supostos atos de vandalismo, escancaram a insuficiência de investimentos do estado e da prefeitura para ampliar e melhorar esse meio de transporte. A prefeitura, aliás, não aporta recursos há tempo e sua participação acionária na empresa é reconhecidamente irrisória.

E, em São Paulo, a mais rica entre as capitais brasileiras, os semáforos continuam se apagando a cada chuva, enquanto são aguardados os estudos encomendados ao IPT. Com todo respeito a esta venerada instituição tecnológica, e independentemente das suas conclusões sobre este problema histórico da cidade, um programa de contingência para mobilizar os marronzinhos da CET nos principais cruzamentos da cidade quando da previsão de chuvas já seria uma boa providência prática e lógica!

As enchentes, então. A administração Marta Suplicy recebeu um estudo com videomapeamento dos principais pontos de obstrução da rede de drenagem da capital, que foi ignorado pela administração José Serra e ainda não saiu da gaveta na administração Fernando Haddad. Fez bem o Ministério Público em acionar a prefeitura pelos prejuízos materiais das enchentes, em defesa da população que não tem a quem apelar, já que São Pedro com certeza não dispõe de dotação orçamentária para cobrir tais prejuízos.

Enquanto isso, novas faixas de ônibus são pintadas a cada dia nos principais corredores, ignorando-se as condições físicas locais. Exemplo: na confluência das avenidas Santo Amaro, São Gabriel e Brigadeiro Luiz Antonio — três vias de grande fluxo — sobrou uma única faixa para os ônibus, inclusive articulados, subirem a Brigadeiro, e uma única faixa para os carros! Não há notícia de que o poder concedente – a prefeitura – tenha diligenciado com as empresas de ônibus a ampliação e renovação de suas frotas. E nem se fala na introdução de tecnologias de GPS para rastrear os veículos e melhorar a fiscalização, ainda feita por fiscais nas ruas.

Em Paris, os pontos de ônibus dos principais corredores têm um placar eletrônico indicando o tempo que falta para passar o próximo veículo da linha. Em Los Angeles (EUA), um serviço de som embarcado nos ônibus anuncia o próximo ponto de parada e ainda identifica o ponto seguinte, alertando os passageiros para os cuidados com os degraus ao descer. Aqui, País da Copa do Mundo, os estádios estão prontos, ou quase. Mas a torcida ainda vai ter de enfrentar os ônibus superlotados para acessá-los. E quem pretende ir de carro já sabe que vai pagar no mínimo R$ 50,00 para o “flanelinha” tomar conta. É a mobilidade urbana padrão Fifa.

Passa o tempo e as administrações públicas não se emendam. De olho apenas na política cometem atos desastrosos: estão aí o imbróglio da Petrobras (governo federal) com a compra da refinaria de Pasadena (foto de cima), a falta de água na RM de São Paulo (governo estadual) e a preferência da prefeitura paulistana pelas faixas de ônibus, postergando obras prioritárias

Fonte: Revista O Empreiteiro

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