O estádio, que deverá ficar pronto até o final do ano, reforça pilares para suportar extensão da cobertura
Augusto Diniz – Belo Horizonte (MG)
Mesmo com as chuvas que têm castigado Belo Horizonte (MG) neste verão, os trabalhos no estádio Mineirão para a Copa do Mundo seguem o cronograma. A expectativa é reinaugurar o estádio no dia 21 de dezembro próximo, depois de 2,5 anos de intervenções. Porém, dificuldades, a serem superadas pela engenharia, ainda são esperados pela frente, principalmente por se tratar de uma obra de reforma.
A primeira delas diz respeito à cobertura, que receberá uma extensão de estrutura metálica pesando cerca de 2 mil t – na mesma largura (30 m) da marquise já existente.
Para que a antiga estrutura de concreto do estádio de quase 50 anos suporte o prolongamento, os pilares de sustentação da arquibancada superior estão sendo reforçados. Local mais evidente desta ação encontra-se no último degrau da arquibancada superior (na junção com a laje da cobertura), onde se veem vergalhões aflorando debaixo e sobre a estrutura, onde será empregado concreto protendido a partir de fevereiro.
Os pilares que estão sendo reforçados são mais visíveis do lado externo, onde, associados às vigas, formam 88 pórticos (com distância de 7,5 m um do outro) que circundam o estádio e integram a fachada, que está tombada pelo patrimônio histórico.
Antes, porém, da concretagem para reforço dos pilares na sua face interna, será feito processo de se suspender a laje da cobertura, por meio de macacos hidráulicos, como explicou o engenheiro Severino Braga, gerente de Operações da Minas Arena, consórcio gestor do novo estádio.
Em seguida, chapas de aço serão colocadas do lado interno e externo, abraçando a laje da cobertura. Elas suportarão as treliças que compõem a extensão adicional da cobertura de estrutura metálica, a ser feita no estádio a partir de março.
Em outra vertente, tirantes de cabos de aço tensionados, que partirão da face externa do estádio e passarão na parte mais alta de seus pilares, serão fixados no ponto mais extremo da extensão da cobertura, proporcionando-lhe estabilidade.
Está prevista para julho a colocação da membrana translúcida na estrutura metálica que cobrirá todos os assentos da arena.
A cobertura também terá em toda sua extensão placas de células fotovoltáicas para captação de energia solar. Essas placas terão potência total de 1,6 MW e atenderão parte das demandas de energia do estádio e de residências no entorno.
O ESTÁDIO
A demolição e terraplanagem no interior do estádio foram concluídas. Até meados do mês passado estavam sendo terminadas as fundações da arquibancada inferior, que no passado era ocupada por lances de arquibancada e geral, que foram colocados abaixo.
A execução das fundações da arquibancada inferior tem exigido cuidados. Antes de executá-las, foi preciso fazer contenção e rebaixamento do terreno, pois não havia espaço para operação de perfuratrizes, por conta da permanência da arquibancada superior (que não foi demolida e que hoje passa por processo de reforma do piso).
O projeto da arquibancada inferior foi feito respeitando a inclinação ideal exigida, o chamado sightline da Fifa (linha de visão adequada entre o espectador e o campo).
Neste mês (fevereiro) quatro gruas entraram em operação no estádio, informa o engenheiro Severino Braga. Elas serão posicionadas uma em cada extremo do campo e transportarão de fora para o interior do estádio as arquibancadas pré-moldadas a serem instaladas na parte inferior no estádio.
O Mineirão era conhecido por vibrar demais em dias de grande público. Para acabar com esse fenômeno e manter a frequência segura, 176 absorvedores dinâmicos TDM (multiplexação por divisão do tempo) foram distribuídos embaixo da arquibancada superior.
Para modificar os acessos às arquibancadas superiores do estádio — antes estreitos e agora maiores —, usou-se estroncamento nos referidos acessos, porque os mesmos funcionavam também como parte da estrutura. Segundo Severino Braga, essa tarefa foi dificultada devido à pouca área de trabalho.
Atualmente, serviços de alvenaria em banheiros e bares estão em andamento. A partir de julho, serão iniciadas a colocação de cadeiras nas arquibancadas e assentado gramado no campo, que, a propósito, foi rebaixado em 3,4 metros para melhorar as condições de visibilidade.
ESPLANADA
Uma esplanada de 80 mil m² no mesmo nível dos acessos ao interior do estádio do Mineirão está sendo erguida no entorno do estádio. A esplanada é toda em pré-moldado. Cerca de 2 mil peças já foram colocadas – no total, serão usadas 6.200 peças. As lajes da esplanada são do tipo alveolares, de 12 a 15 cm de espessura. Uma capa com 6 cm de concreto cobrirá a estrutura depois de pronta. Este concreto será depois polido, para ganhar aspecto de granito.
No total, 25% da estrutura da esplanada estão montadas, e 90% das peças pré-moldadas já foram fabricadas. A esplanada tem inclinação máxima de 8% em alguns lugares. Ela terá um ou dois níveis, dependendo do local, porque há variações topográficas no entorno do estádio.
A esplanada é composta pelos acessos sul e norte. O local, que poderá receber até 65 mil pessoas, terá restaurantes, lojas e um museu do futebol. Além disso, estará apto para receber eventos diversos, como shows.
Estacionamento também será acomodado na esplanada — 2.521 vagas para carros (1.534 vagas cobertas e 987 descobertas), além de 52 vagas para deficientes, 71 para bicicletas, 41 para carga e descarga, 61 para motos e duas para os Bombeiros.
Em novembro, será feito o paisagismo da esplanada, abrangendo uma área total de 20 mil m² e reunirá, ao todo, 921 árvores de espécies nativas da flora brasileira. A preocupação será integrar às áreas verdes já existentes no campus da Universidade Federal de Minas Gerais e da Lagoa da Pampulha, ambos espaços localizados ao lado da área total da arena que receberá jogos da Copa do Mundo.
Está prevista ainda a construção de uma passarela do estádio do Mineirão para o ginásio Mineirinho, localizado ao lado da arena, com 15 m de largura. O Mineirinho será um centro de apoio às atividades da Copa do Mundo.
O PROJETO
Gustavo Penna, arquiteto responsável pelo projeto de reforma do Mineirão, explica que o trabalho desenvolvido no estádio teve a função de “complementação e respeito à arquitetura existente”. O foco no legado também foi observado. A esplanada, de acordo com ele, foi pensada nessa direção.
Já com relação à estrutura para o prolongamento da cobertura, a preocupação, segundo Penna, foi evitar ao máximo impacto na visão dos espectadores. “O prolongamento vem atender as características multiuso que passa a ter o Mineirão”, afirma.
FICHA TÉCNICA – MINEIRÃO
• Proprietário: Governo de Minas Gerais
• Capacidade: 64 mil lugares
• Área construída: 209.000 m²
• Término da obra: dezembro de 2012
• Números de operários (fev/2012): 1,5 mil
• Número de máquinas em operação: cerca de 100
• Custo total: R$ 666 milhões
• Gestão geral: Secopa (Secretaria de Estado Extraordinária da Copa do Mundo de Minas Gerais)
• Projeto básico: Gustavo Penna Arquitetos e Associados
• Projeto executivo: BCMF Arquitetos
• Consórcio construtor: Nova Arena (Construcap, Egesa e Hap)
• Consórcio gestor: Minas Arena (Construcap, Egesa e Hap)
– 25 anos de concessão (incluído período de construção)
• Pré-moldados: Premo e Precon
• Andaimes: Mills, Estub e Ulma
• Amortecedores arquibancada superior: Gerb
• Projeto da cobertura: Schlaich Bergermannund Partner (SBP)
Estrutura metálica da cobertura
• Aço: Mannesmann
• Beneficiamento: Forte Metal
• Tubulação: V & M Brasil
Belo Horizonte prevê 66 novos hotéis até o Mundial
A Copa do Mundo de 2014 poderá reduzir o déficit hoteleiro de Belo Horizonte — um problema que castiga os viajantes frequentes hoje na capital mineira. Pelo menos essa é a expectativa do Comitê Executivo Municipal da Copa naquela capital.
A gerente executiva do órgão Flávia Rohlfs reconhece o problema, mas se baseia na Lei 9.952, que instituiu a Operação Urbana de Estímulo ao Desenvolvimento da Infraestrutura de Saúde, de Turismo Cultural e de Negócios, para acreditar que a virada acontecerá nos próximos dois anos.
A norma, que entrou em vigor de 5 de julho de 2010 a 31 de julho de 2011, visa aumentar o potencial construtivo na capital mineira, que sofre por falta de espaço, e, com isso, atrair novos investidores.
Os empreendedores que aderiram ao programa terão que construir seus hotéis até março de 2014 (portanto, antes da Copa) e operá-los durante 10 anos. “Em um terreno, por exemplo, aumentamos em cinco vezes a possibilidade se construir. Tornamos uma construção mais atraente para o investidor. Deu muito certo”, explica Flávia Rohlfs.
A lei valeu somente para novas construções. Portanto, ficou de fora do benefício o Hotel Del Rey, fechado há cerca de uma década. Localizado em ponto nobre do centro da cidade, o imponente prédio de 18 andares, que foi um marco do turismo mineiro, aguarda ainda um comprador.
Estão em construção em Belo Horizonte 28 novos empreendimentos hoteleiros e seis já estão licenciados para serem erguidos — sendo 1 cinco estrelas e 13 quatro estrelas. Mais 17 novos hotéis estão em processo de licenciamento.
Na região metropolitana de Belo Horizonte, de acordo com a Secretaria de Estado Extraordinária da Copa do Mundo de Minas Gerais (Secopa), 314 hotéis estão em funcionamento, perfazendo um total de 30.194 leitos. Há previsão também de construção de 24 novos hotéis nas cidades do entorno de Belo Horizonte.
Os investimentos na área devem chegar a R$ 2,5 bilhões.
Mobilidade
O projeto de maior impacto em andamento relacionado à mobilidade em Belo Horizonte para a Copa do Mundo é a implementação de duas linhas de BRT (Bus Rapid Transit): um percorrendo as avenidas Antônio Carlos/Pedro I, e outro a avenida Cristiano Machado. Juntos, devem transportar cerca de 750 mil passageiros por dia.
Com investimentos na ordem de R$ 1,388 bilhão — R$ 1 bilhão proveniente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) —, as obras serão concluídas em etapas.
O BRT Antônio Carlos/Pedro I, no trecho Centro/Pampulha (região do estádio Mineirão), está previsto de ficar pronto em agosto de 2012. Para sua extensão, será necessária a duplicação da avenida Pedro I, com várias desapropriações ainda a serem feitas e término previsto para março de 2013. O projeto de implantação do BRT nesse outro trecho ainda é uma incógnita.
O BRT Cristiano Viana deverá também ficar pronto em março de 2013.
Nos BRTs das avenidas Antônio Carlos/Pedro I e Cristiano Machado serão implantados 94 estações, para cobrança externa de passagem, embarque e desembarque em nível e sistemas de controle da operação e de informações ao usuário. Ao todo, serão 41 km de pistas para o BRT.
Um BRT na área central da cidade também deverá ser implementado, mas sem previsão ainda de obras. O objetivo é consolidar a integração dos meios de transporte da cidade, que conta também com metrô, composto por uma linha de 28 km de extensão e 19 estações. Está prevista ainda para esse ano o início das obras de ampliação da linha 1 existente e a construção das linhas 2 e 3 — uma história que se arrasta há anos. Analistas do setor comentam que Belo Horizonte foi a capital menos privilegiada por recursos para construção de metrô nas décadas recentes — fato debitado às rivalidades políticas entre o governo estadual e União.