Nildo Carlos Oliveira — Cidade do Panamá (Panamá)
Ocrescimento da Cidade do Panamá está à vista. É notório a partir do Aeroporto Internacional de Tucumen, que carece de melhorias, e se torna mais evidente na medida em que o fluxo do tráfego de veículos rumo ao centro da cidade mostra o que é preciso ser ampliado ou modernizado na área da infraestrutura viária. O crescimento tem essa peculiaridade: escancara à curiosidade do observador o potencial do que tem construído e revela o que ainda é necessário ser feito para garantir e manter o que conseguiu realizar.
Contudo, uma pergunta, que deve ser comum aos interessados em saber do passado e das projeções futuras desta cidade por onde andaram Vasco Nuñes Balboa e seus companheiros em uma das aventuras mais fascinantes da humanidade – a descoberta do Pacífico, lá nos idos dos anos 1500 – insiste em manter-se à tona: Acaso a “mina de ouro” resultante da construção e exploração do Canal do Panamá, durante cerca de 100 anos, pelos Estados Unidos, não poderiam ter se traduzido em benefícios maiores para a população da cidade, hoje da ordem de 1,5 milhão de habitantes?
Acreditamos que sim. Caso parte substancial dos recursos proporcionados pela travessia marítima tivesse sido destinada à infraestrutura local, hoje a cidade seria outra. Lastimavelmente, a autonomia panamenha sobre o canal é algo recente. E,só depois que ele e as instalações militares norte-americanas passaram à responsabilidade do governo panamenho, em dezembro de 1999, é que começou a verificar-se o notável impulso ao desenvolvimento do país e desta capital. É como se a partir da autonomia, nova página começasse a ser escrita.
Autoridades panamenhas dão conta de que o impulso da economia do país é muito forte. A própria expansão do canal do Panamá, que inclui a construção de um terceiro conjunto de eclusas, um empreendimento da ordem de US$ 5,25 bilhões, é o sinal de novos tempos. Em consequência, a cidade se abre para receber novas obras: a primeira linha do metrô; a interconexão entre a Cinta Costera e a ponte de Las Americas; as obras de saneamento, com projetos para preservação dos manguezais; um programa de investimentos da ordem de US$ 4,4 bilhões em obras de energia elétrica; estímulo ao setor hoteleiro, o que levou a Associação Panamenha de Hotéis (Apatel) a prever para o período 2010-2012 investimento de US$ 2,4 bilhões na construção de novos hotéis e o programa do próprio governo, que até 2014 pretende aplicar US$ 13,60 bilhões em equipamentos e serviços urbanos.
Hoje, dinheiro ali não está faltando. Um passeio pela cidade permite a constatação de que ela está satisfazendo o apetite da curiosidade e do consumo dos turistas. Dispõe de shopping centers luxuosos; de hotéis que podem figurar entre os mais suntuosos de qualquer região e edifícios corporativos ou residenciais que espelham as tendências futuristas mais avançadas. Alguns observadores afirmam que não é necessário voar ao Oriente Médio para ver Dubai, uma vez que Dubai está ali, na Cidade do Panamá. Além do que, ela se beneficia da chamada Zona Franca de Colón, criada em 1948 e que é apontada como o maior centro de importação e redistribuição de mercadorias do mundo.
Mas ao lado dessa face cor-de-rosa há outra, escura, que mostra a contradição existente nos grandes centros urbanos: a miséria e a violência. É o caso do bairro de Curundu, onde está sendo possível reverter esta situação, mediante processo de urbanização e de medidas sociais para milhares de moradores.
*A Cinta Costera, uma das principais obrasque altera e inova a paisagem urbana
Presença brasileira na infraestrutura
A chegada do novo milênio acenou com um novo Panamá e, por extensão, com uma nova Cidade do Panamá. Cerca de 90% das receitas do país provêm do pedágio para a travessia do canal, o que tem permitido ao governo investir pesadamente em obras de infraestrutura. E uma das empresas de engenharia que vem contribuindo para as mudanças, nessa área, é a Construtora Norberto Odebrecht, que ali aportou em 2006, disposta a aplicar todo o conjunto de recursos humanos e técnicos de que dispunha.
Ela executou, por exemplo, o projeto Remigio Rojas, que tinha em vista irrigar área de 3,2 mil ha para cultivo agrícola. Ao mesmo tempo, conquistou contrato para construir trecho de 42 km da autopista Panamá Colón, entre as cidades de Panamá e Colón, que são considerados os principais polos da economia do País. Atualmente ela responde pela construção de um novo trecho, de 12,5 km de extensão, que vai de Quebrada Lopes a Cuatro Altos, na chamada Zona Livre de Colón. E revitaliza um trecho de 5,8 km da via Transistmica e executa outras obras adicionais. No segmento energético, a empresa brasileira construiu três centrais hidrelétricas – Gulaca, Lorena e Prudencia – que permitem o fornecimento de 117 MW de energia limpa. Na província de Chiriqui, ela canalizou o rio Caldera, que vem sendo explorado pelo turismo local.
Contudo, um dos projetos de maior peso para a infraestrutura urbana da Cidade do Panamá é a Cinta Costera, que faz a interconexão entre as avenidas Balboa e Los Poetas. A Cinta Costera possibilita uma visão ampla da paisagem urbana. Projeta-se entre o centro da cidade e a ponte Las Americas, conectando regiões próximas que são atualmente alvo da crescente indústria do turismo. Além do que, facilita a logística para o transporte da produção agrícola.
Esse projeto começou efetivamente em 2007, quando o governo, segundo a direção da Odebrecht, licitou a construção de um grande parque urbano linear de 25,8 hectares, além da ampliação da avenida Balboa, que passaria a contar com quatro pistas de concreto para aliviar o tráfego local. Resumidamente, ao longo do traçado foi construído um aterro de 31.800 m² sobre o mar, que abriga, além das pistas, 13.200 m² de áreas verdes, estacionamentos, quadras poliesportivas, ciclovias, vias para pedestres eum cais com 3 mil m².
A Cinta Costera, uma travessia com mais de 2 milhões de m³ de solo e rocha, vai da foz do rio Matasnillo até o Mercado do Marisco e compreendeu a duplicação da avenida Balboa numa extensão de 3,2 km. Ali foram construídos 2,5 km de viadu
tos, implantação do interceptor de esgoto e dos sistemas de drenagem, iluminação pública e outros serviços.
*As obras de escavação da 1ª linha dometrô avançam em duas frentes eutilizam duas tuneladoras, batizadascarinhosamente de Marta e Carolina
Outras obras consideradas como de grande impacto social são aquelas que deverão melhorar as condições sanitárias da cidade e da Baía do Panamá, aí incluindo a ampla área dos manguezais. O sistema de esgotamento sanitário em construção, que deverá ser concluído até 2013, destina-se a evitar que o esgoto doméstico, tradicionalmente lançado nos rios e na baía, continue a produzir a poluição que hoje degrada aquele meio ambiente.
São dois contratos que estão em andamento. Um deles consiste na construção de um túnel interceptor de 8 km de comprimento e 3 m de diâmetro interno, para o transporte de resíduos coletados nas redes primárias e secundárias da capital até a planta de tratamento de águas residuais. O outro contrato diz respeito à construção da estação de tratamento. Pelo contrato, o consórcio formado pelas empresas Odebrecht e Degrémont (francesa) vai explorar a planta durante quatro anos, em regime de concessão.
A Odebrecht informa que já concluiu a escavação e a cobertura do túnel interceptor. E executou essa obra com seis meses de antecedência. Usou o Tunnel Boring Machine (TBM), chamado tatuzão, que venceu os 8 km de escavação em 19 meses. A chegada da máquina à etapa final foi oficialmente festejada. Contou com a presença do presidente da República, Ricardo Martinelli, do ministro Franklyn Vergara, da Saúde, do diretor-superintendente da Odebrecht no Panamá, André Rebello, e dos trabalhadores.
Esta, segundo André Rebello, é a primeira vez, na história da engenharia no Panamá, que um túnel do gênero é executado com TBM. As obras registraram mais de 2 milhões de horas/homens trabalhadas. Cerca de 450 trabalhadores atuaram no pico dos trabalhos.
O túnel interceptor se conectará ao interceptor costeiro para conduzir as águas residuais geradas no centro da capital até a estação de bombeamento, de onde serão enviadas, por pressão, até a Planta de Tratamento de Águas Residuais, ainda em construção.
Muito importante, nesse conjunto de obras, é a criação do Parque Urbano de Manguezais da Cidade do Panamá, que terá 50 hectares de área protegida e se destina à educação ambiental, pesquisa científica e participação comunitária.
A primeira linha do metrô
A modernização da cidade implica a modernização do sistema de transporte público. A companhia brasileira constrói a Linha 1 do metrô, que atenderá ao eixo norte-sul, com 13 estações, ao longo de um traçado de 13,7 km. Por ali viajarão cerca de 15 mil passageiros/hora. A obra, resultante da parceria entre a Odebrecht e a projetista espanhola FCC, foi estimada em US$ 1,447 bilhão e terá trecho em via elevada e trecho em túnel.
O engenheiro Germinio Costa, do Consorcio Linea Uno, informa que atualmente o trecho em túnel vem sendo construído em duas frentes e apresenta um avanço de 1.500 m. Duas tuneladoras operam no trecho: a tuneladora Marta, que foi a primeira a iniciar os trabalhos e avançou 1.120 m, e a tuneladora Carolina, que avançou 380 m.
No tramo subterrâneo, as obras progridem conforme o cronograma, estando as estações 5 de Mayo e a Fernandez de Córdoba já com as estruturas concluídas. Ali está sendo iniciada a etapa de acabamento. As demais estações do tramo ainda se encontram em fase da execução das estruturas.
As obras do trecho elevado, cujo início fora postergado para construção de uma nova rede de adutora de água potável a fim de se eliminar a rede existente, que coincidia com o eixo definido para a Linha 1, já se encontram, atualmente, adiantadas.
*Os pilares do trecho elevado do metrô. As vigas préfabricadascomeçaram a ser colocadas este mês
“Para as estruturas do viaduto”, informa o engenheiro, “já demos um avanço considerável. Conseguimos fazer 50% de fundações, pilares e travessas. As vigas pré-fabricadas, que servirão de apoio para a montagem dos trilhos, serão instaladas no começo deste mês (julho). Da mesma forma, a construção da área de pátios e manobras se encontra em bom ritmo, permitindo prever o começo de montagem das vias permanentes até setembro próximo. O conjunto dessas obras deverá estar concluído em 2014.
Técnicos do Metrô do Panamá acrescentam que os trens que circularão da estação Los Andes até a estação Albrook serão de tecnologia avançada, com menor consumo de energia. Serão 19 trens com três vagões de “última geração”.
Curundu, uma solução social
A violência, gerada pela miséria, está presente nos antigos bairros resultantes de assentamentos aleatórios nas franjas urbanas da velha cidade do Panamá. Em 2010 a Odebrecht foi contratada para fazer a renovação urbana de Curundu, que se aglomerou no entorno do rio do mesmo nome. Pelo contrato, no valor de US$ 100,7 milhões, a construtora constrói prédios com mais de mil apartamentos em torres de quatro andares, que substituirão os antigos barracos construídos em palafitas. Estão previstos parques, quadras poliesportivas, ciclovivas e centros comunitários providos até de internet.
O engenheiro Júlio Lopes, diretor do contrato, inseriu-se na comunidade local e falar de Curundu é imediatamente invocar o seu nome, entre os moradores locais. (A propósito de Curundu, ver matéria publicada na seção “Dimensões” da edição 509 – junho último de O Empreiteiro).
Fonte: Padrão