Obra de Cony ajusta perfil histórico do presidente JK

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Carlos Heitor Cony ajusta a imagem do presidente Juscelino Kubitschek dentro da história. E, em um dos episódios que ele narra, mostra como tentaram perpetuar a farsa de que JK enriquecera recorrendo a meios inadequados.

A obra, recém-lançada pela Objetiva, com o título JK e a ditadura, é uma costura da memória do escritor, fundamentada nos atos e nos fatos que ele documentou. O quadro desenhado é o daquele Brasil pré e pós-64, do qual muitos de nós ainda somos testemunhas oculares.

O construtor de Brasília deixara o poder, substituído por Jânio Quadros, numa situação em que procuraram minar-lhe o caminho de volta à Presidência da República. E a maneira de fazê-lo foi a pior aplicada a um homem público: tentaram enxovalhar-lhe a honra.

JK, embora contasse com o apoio majoritário do povo brasileiro e fosse o homem certo na montagem do processo da redemocratização, jamais retornaria à Presidência. Para que o retorno se tornasse impossível, os que o perseguiram obstinadamente trataram de cassar-lhe os direitos políticos, obrigaram-no a exilar-se, prenderam-no e o submeteram a humilhações, durante os famigerados IPMs.

Contudo, não conseguiram tapar o sol com a peneira: o mineiro de Diamantina rejeitava toda espécie de radicalismo, fez o Brasil crescer 50 anos em cinco e, em sua plataforma para retornar ao poder, pretendia racionalizar a agricultura, através da reforma agrária, a fim de implementar o processo de industrialização que ele deflagrara no País.

Uma das farsas montadas contra JK – e desmontadas no livro por Cony – diz respeito à acusação de que ele seria a sétima fortuna do mundo. Uma das acusações contra ele, na montagem dessa farsa, se relacionava à etapa da construção da Ponte da Amizade, ligando o Brasil ao Paraguai.

Essa obra, projetada pelo engenheiro José Rodrigues Leite de Almeida, formado pela Escola Politécnica da USP, foi construída pela Construtora Rabello e pela Sotege – Sociedade de Terraplenagem e Grandes Estruturas. Com 552,4 m de extensão, se notabilizaria pelo maior vão do mundo em arco engastado de concreto armado. O arco, com 290 m de comprimento, fora calculado pelo engenheiro Sérgio Marques de Souza.

Segundo a acusação, JK usara recursos destinados à construção da ponte para mandar construir um edifício na Vieira Souto, Rio de Janeiro. Cony esclarece pormenorizadamente esse episódio: tanto Oscar Niemeyer, apontado como autor do projeto do prédio, quanto o empreiteiro Marco Paulo Rabello, dono da Construtora Rabello, deixaram claro que jamais JK mandara construir o prédio e se beneficiara de dinheiro público.

Quando JK deixou o governo em 1961, precisaria instalar-se em algum lugar. Sebastião Paes de Almeida, que fora um de seus ministros, soube que o prédio da Vieira Souto estava sendo construído e ficou acertado que, tão logo ele ficasse pronto, um dos apartamentos seria alugado ao ex-presidente, a preço de mercado. A única vantagem na locação consistiu no fato de que o futuro inquilino poderia fazer ali algumas adequações, tarefa de que Niemeyer se incumbiria. Este foi, portanto, mais um dos episódios da farsa montada contra o ex-presidente e contra a democracia e que Cony – e a história – desmontaram.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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