Inspirado nas plataformas de petróleo, abordagem pretende minimizar
impacto socioambiental no entorno do Complexo do Tapajós, que terá
capacidade instalada para 10.682 MW
Um exemplo mundial de sustentabilidade ambiental. Essa é a expectativa da Eletrobras em relação ao Complexo do Tapajós, o próximo megaprojeto brasileiro na área de geração de energia. A Eletrobrás finalizará, até o final do ano, os estudos para a construção das cinco usinas previstas para o rio Tapajós, no Pará, que terão um total, segundo as primeiras estimativas, de 10.682 MW de capacidade instalada, reforçando a participação da chamada energia limpa na matriz energética brasileira. Sendo capaz de gerar cerca de 50 milhões de MWh/ano, o complexo proporcionará energia suficiente para abastecer em torno de 28,5 milhões de residências.
Com o complexo, a ser implementado em conjunto com a iniciativa privada, o governo pretende entrar em uma nova era na construção de hidrelétricas, utilizando o conceito batizado como usinas-plataforma, inspirado nas plataformas de petróleo em alto mar. "Vamos atuar na selva, com o mínimo de intervenção possível durante a obra. Ao terminá-la, vamos reconstituir a floresta. Não haverá população fixa. O que ficará ao redor das usinas serão áreas de conservação ambiental, não cidades", afirma Sinval Gama, superintendente de Operações no Exterior da Eletrobrás.
Os grandes canteiros, imensas vilas de trabalhadores e respectivas rodovias de acesso serão substituídos por uma metodologia de revezamento de equipes em turnos longos, com transporte fluvial e até por helicóptero. As mudanças de metodologia começarão já na preparação para a obra, com a instalação de canteiros reduzidos, minimizando o impacto na natureza. As áreas afetadas serão restritas ao entorno imediato da área de trabalho. Ao término da obra, todo o maquinário, construções e pessoas que não sejam indispensáveis à operação serão retirados e o ambiente natural recuperado. A ideia é que, assim que iniciadas as obras, seja criado um canteiro de produção de mudas para o reflorestamento da área impactada, como já ocorre no AHE Dardanelos, em Aripuanã, no Mato Grosso, localizado numa região de mata fechada.
As cinco usinas também serão construídas com um arranjo espacial diferenciado, para que ocupem pouco espaço, interferindo o mínimo necessário na região. Serão apenas 1.979 km² de áreas com intervenção, em frente ao Parque Nacional da Amazônia, área ambiental protegida de 200.480 km², equivalente à soma dos territórios de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Os empreendedores que vencerem a licitação também deverão auxiliar os agentes ambientais no monitoramento e manutenção das áreas de preservação e dar apoio na operação, por exemplo, do Parque Nacional da Amazônia.
75 mil empregos
A obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a expectativa que gere 75 mil empregos, sendo 25 mil diretos. Os investimentos previstos chegam a R$ 30 bilhões e o objetivo é que a primeira usina esteja pronta para ser licitada em junho de 2010. Os cinco aproveitamentos hidrelétricos ficam na região de Itaituba, no Pará, sendo dois no rio Tapajós (AHE São Luiz do Tapajós e AHE Jatobá) e três no rio Jamanxim (AHE Cachoeira do Caí, AHE Jamanxim e AHE Cachoeiraos Patos).
A Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás, e a Camargo Corrêa desenvolveram os estudos de inventário do Complexo Tapajós. As duas empresas também já firmaram um acordo de cooperação técnica para desenvolverem os estudos de viabilidade do aproveitamento. Em reuniões realizadas na sede da Eletronorte, em Brasília, a francesa Électricité de France (EDF) e a Eletrobrás também manifestaram interesse em participar da parceria dos estudos de viabilidade e um acordo nesse sentido está sendo negociado.
Maior usina terá capacidade para 6.133 MW
Os primeiros estudos da bacia do rio Tapajós foram realizados pela Eletronorte entre 1986 e 1991. Na fase recente, os estudos demandaram três anos e detectaram um potencial inventariado de 14.245 MW, divididos em sete aproveitamentos em cascata, sendo três no Tapajós e quatro no Jamanxim. Esses estudos de inventário das bacias dos rios Tapajós e Jamanxim foram realizados pela Eletronorte e pela Camargo Corrêa abrangendo uma área de 492.481 km², espalhada pelos Estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas e uma pequena parcela de Rondônia. Considerando questões socioambientais, as instituições governamentais envolvidas no projeto optaram por restringir os aproveitamentos hidrelétricos a apenas cinco.
São Luiz do Tapajós será a maior usina, com 722,25 km² de reservatório. O aproveitamento terá queda bruta de 35,9 m, cota no reservatório de 50 m e cota a jusante de 14,1 m. A potência instalada de 6.133 MW será distribuída em duas casas de força, sendo a principal com 31 unidades Kaplan de 198 MW e a complementar com duas unidades Kaplan de 109,2 MW.
Jatobá terá reservatório com 646,30 km². Com queda bruta de 16 m, a usina terá 2.338 MW de potência instalada, dividida entre 40 unidades bulbo de 59,7 MW. Com cinco unidades Kaplan de 163,37 MW, totalizando 802 MW, Cachoeira do Caí terá reservatório com 420 km². Jamanxim terá reservatório de 74,45 km². A queda bruta será de 57,6 m e a capacidade instalada chegará a 881 MW, por meio de três unidades Francis de 293,7 MW. Cachoeira dos Patos terá reservatório de 116,50 km² e volume total de água armazenada de 696,84 milhões m³. Com queda bruta de 33 m, permitirá a instalação de três turbinas Kaplan de 179,6 MW, totalizando 528 MW.
Fonte: Estadão