Aos poucos, a partir da análise da situação dos grandes conglomerados industriais, da queda nas exportações e nas arrecadações tributárias, e da projeção da economia mundial – este o nervo exposto na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – a realidade vai se impondo a todos os países, dentre eles, e principalmente, aos emergentes.
O Brasil não fugiria à regra. Tem uma posição diferente, por exemplo, à da Índia e à da China, que aportaram na recente reunião do G-20 com a expectativa de crescimento de 4,3% e de 6,3% respectivamente. Embora, pela análise dos economistas, o Brasil possa registrar uma contração de 0,3% contra a previsão de 1,2% do Banco Central, o fato é que a nova realidade obriga o governo a tomar medidas para sustentar a atividade econômica.
A prova mais recente dessa amoldagem à realidade da economia nacional e internacional foram os cortes da ordem de R$ 21,6 bilhões no Orçamento Geral da União, que atingiram, de modo mais duro, os ministérios do Turismo e do Esporte, procurando, contudo, preservar os investimentos para a área da infraestrutura.
Ao fazer a opção naquele sentido, o governo, através do Ministério do Planejamento, considerou dois fatores principais: sinalizou que os investimentos públicos e privados devem dar toda prioridade à infraestrutura, e levou em conta reflexões de entidades empresariais e de outros segmentos da sociedade de que não deve haver redução do volume de obras nos segmentos de transporte, produção e fornecimento de energia, gás esaneamento. É que, qualquer retrocesso nesse campo, se refl ete imediatamente nas desvantagens competitivas das empresas e do País em relação aos concorrentes globais.
De início, a crise fi nanceira global paralisou as ações do governo e dos empreendedores. Em seguida, passou a ser vista como um desafi o a ser enfrentado. E, hoje, está na pauta como o aprimoramento da seletividade dos empreendimentos e investimentos. Isso pode ser verifi cado nas opções de obras, por exemplo, do próprio Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cuja carteira de projetos de infra-estrutura é da ordem – seletivamente – de R$ 220 bilhões nos segmentos de energia elétrica, transportes, petróleo e gás. É verdade que a velocidade de execução dos projetos do PAC ainda deixa a desejar.
Ganha peso, nesse conjunto de providências impostas pela realidade, à margem dos investimentos públicos e privados na área de infraestrutura, a manutenção da agenda de concessões. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) tem afi rmado, constantemente, que vários segmentos, dentre eles os de saneamento, portos e aeroportos, apresentam potencial para leilões de concessões e parcerias público-privadas (PPPs). Estes continuam como o foco de interesse de investidores privados internacionais,, "mesmo diante das restrições fi nanceiras determinadas pela crise global".
Outro dado que mostra a veracidade de que "a realidade se impõe", é o pacote habitacional. Quando ele começou a ser divulgado, a princípio como um balão de ensaio, um de seus pontos de maior impacto foi o cronograma: construir 1 milhão de casas até 2010. Depois se verificou que as coisas não poderiam ser bem assim. Haveria problemas de ordem legal, de infraestrutura, de escolha e aquisição de terreno e da burocracia em relação aos fi nanciamentos. O governo, embora teleguiado por um pensamento voluntarista, reconheceu a insensatez de um cronograma daquela ordem e, quando lançou o pacote, disse que ele não teria um prazo rígido para poder ser realizado.
A realidade econômica, invariavelmente amarga, não deixa de se impor.
Fonte: Estadão