O sistema foi implantado com o menor impacto ambiental e social possível,
optando-se pela construção de um túnel subterrâneo e submarino,
com tubos de concreto e o emprego de um Shield (mais conhecido como "tatuzão")
O Programa Onda Limpa, juntamente com a melhoria das condições de saneamento básico da Baixada Santista, possibilitou a aplicação de novas metodologias construtivas mais eficazes e com menor impacto ao meio ambiente e à população.
Foi o caso, por exemplo, da implantação do emissário submarino do subsistema III, na cidade de Praia Grande, no trecho da zona de arrebentação que teve de ser feita a partir de método não destrutivo em substituição ao convencional que é feito com a construção de ponte metálica provisória de serviço. O município tem 22 km de praias e esse é o terceiro emissário submarino a ser implantado na região. Ele terá 4 km de extensão, mar a dentro.
De acordo com trabalho publicado na revista DAEE, pelos engenheiros Leonardo Silva Macedo e Luiz Alberto Neves Alário, da Sabesp, Eduardo Narducci, do Consórcio GBS, e Josnei Cirelli, do Consórcio CNO / Carioca, operações desse tipo, envolvendo atividades de alto risco, dependem muito de condições favoráveis do tempo.
A etapa mais complexa da instalação de um emissário submarino é a que diz respeito ao trecho da zona de arrebentação, pois, em relação à fase de mar aberto, exige tarefas e operações de grande porte e complexidade, que podem representar impactos e riscos para os banhistas e para o meio ambiente.
Tradicionalmente, para vencer essa etapa, é construída provisoriamente uma extensa ponte metálica ao longo de todo o trecho de instalação do emissário. Isso resulta na interdição, por até um ano, da praia e do mar. Em Praia Grande, o trecho a ser vencido, desde o calçadão até o final da zona de arrebentação, tem 705 m de extensão. Já o trecho de mar aberto se estende por 3.295 m.
Com a finalidade de mitigar os transtornos e consequências decorrentes desse tipo de obra, a Sabesp optou por utilizar metodologia, inovadora e arrojada, que previa a construção de um túnel, com tubos de concreto cravados sob a praia e o mar, em substituição à ponte de serviço convencional.
Esse método, conhecido como pipe jacking, embora utilizado com frequência em obras terrestres, ainda é pouco empregado na implantação de emissários submarinos.
A adoção dessa técnica, entretanto, foi devidamente precedida de estudos e análises para verificar o emprego do equipamento Shield (TBM – Tunneling Boring Machine) – semelhante ao "tatuzão" que, normalmente, é empregado na construção de metrôs – e as condições geológicas locais. O Shield utilizado emprega tecnologia alemã e foi fabricado e montado especialmente para essa obra. Entre as suas características físicas, destacam-se o comprimento de 10,5 m e o peso de 35 t.
A cravação do tubos de concreto foi lubrificada com a injeção de bentonita, acrescida de aditivos especiais, visando a diminuir o atrito com o solo e, consequentemente. reduzir a pressão. Esses lubrificantes foram, previamente, analisados para evitar que reagissem com a água do mar ou floculassem com o material orgânico presente no solo.
Além disso, foi necessário o desenvolvimento de oito tipos de tubos de concreto armado, com características e funções diferentes e, ao mesmo tempo, com dimensões externas e interna fixas. Cada segmento tubular apresenta 1,78 m de diâmetro externo, 1,35 m, interno, e 3,0 m de comprimento.
Para a execução das operações de cravação dos tubos, utilizou-se câmara compensadora de pressão, adaptada para receber os equipamentos. Isso exigiu também a construção de parede de reação em concreto para resistir ao esforço do equipamento de cravação. O túnel foi iniciado a uma profundidade de 8 m, na câmara compensadora, chegando a 1 m da superfície do solo, nos últimos 50 m de cravação.
Entre os principais benefícios obtidos com a adoção da metodologia não destrutiva, destacam-se: redução do tempo de execução da obra para 100 dias (no sistema convencional, esse tempo seria três vezes maior); minimização expressiva do impacto ambiental e dos transtornos impostos à comunidade local e aos banhistas; e não dependência das condições climáticas para a execução da obra.
Fonte: Estadão
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