Desde 2005, quando começaram as obras do novo Cenpes, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, a Petrobras passou a integrar a lista dos oito maiores investidores em pesquisa e desenvolvimento da indústria de óleo e gás no mundo, nesse número incluídas as companhias de petróleo e as companhias de serviço. Só nos anos de 2008 e 2009, os investimentos em P&D ficaram na casa dos US$ 900 milhões, segundo o gerente executivo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, Carlos Tadeu da Costa Fraga.
Com a inauguração do novo parque, a Petrobras vai expandir as linhas de investigação e os limites do negócio atual de exploração, produção e refino de petróleo e gás natural. Além disso, terá condições de dar maior ênfase maior ao segmento de energias renováveis, como os biocombustíveis e os projetos de energia eólica, solar e de energia dos mares.
O eixo de pesquisas segue na linha da sustentabilidade. "Nossas operações são feitas com todos os cuidados necessários em relação à preservação ambiental e à inclusão social. Nesse eixo, há questões importantes como a diminuição do consumo de água nas nossas operações, uma vez que esse é um recurso cada vez mais escasso e cada vez mais valioso", diz Costa Fraga. A redução de emissões também é outro tópico importante. Por fim, há a questão da eficiência energética. "Quem produz energia, tem de produzir consumindo cada vez menos nos processos internos, disponibilizando à sociedade essa energia", lembra Costa Fraga.
A área ocupada pelo Cenpes da Petrobras na Cidade Universitária da Ilha do Fundão mais do que duplicará, passando de 122 mil m2 do atual conjunto arquitetônico para 305 mil m2. Ao todo, serão 227 laboratórios dedicados ao estudo das áreas de perfuração, de construção de plataformas, ancoragem de sistemas de produção, de projetos e de instalações de tubulações, enfim, setores vinculados aos desafios da indústria offshore, divididos em 23 prédios.
Dentre as instalações inovadoras está a construção de um Núcleo de Visualização Colaborativo (NVC), onde serão criados ambientes para estudos, projetos e pesquisas com simulação tridimensional. Os pesquisadores poderão trabalhar conectados a outros locais da companhia, como se estivessem imersos dentro do modelo estudado.
O projeto inclui um centro de convenções, que permitirá a realização de grandes eventos nacionais e internacionais. Para aumentar os níveis de segurança, a empresa contratou uma consultoria para definir os procedimentos de acesso às novas instalações do Centro Integrado de Processamento de Dados, que deve utilizar a biometria no controle de segurança.
Todo o projeto do novo Cenpes foi escolhido em concurso, de autoria do escritório do arquiteto Siegbert Zanettini, de São Paulo, e prevê a harmonização da área construída com espaços verdes entre as edificações, laboratórios e jardins internos nos prédios, para estimular e recriar o ambiente que favorece a criatividade e inovação, motivando a produtividade dos pesquisadores. "Num mundo globalizado como nós vivemos, o conhecimento pode estar presente em outros centros de excelência e nós temos que buscar essa informação. Mas, com o Cenpes, aumentamos a capacidade de articulação do Brasil com os outros núcleos importantes mundo a fora".
Enfatizando os conceitos de ecoeficiência, o projeto tira partido das áreas de sombra e ventilação, para menor consumo de energia elétrica e de carga de ar-condicionado. A cobertura, translúcida e côncava, contém venezianas direcionais em cada dependência, com inclinação calculada para a captação da luz solar e ventilação natural. Quando alcançado o nível ideal de iluminação natural interna, as luzes artificiais se apagam, mantendo o mesmo padrão de claridade. Também está previsto 40% de independência energética da rede elétrica convencional, com a produção de uma usina de cogeração de energia a gás natural, com capacidade de 15 MW.
A água pluvial será recolhida dos telhados e da pavimentação. O esgoto passará por um tratamento físico-químico, resultando em um aproveitamento da água tratada na proporção de 100%, que reduz para cerca de 40% a utilização do sistema público de abastecimento. A água tratada será reaproveitada no sistema de refrigeração da central de utilidades e a água da chuva reaproveitada para irrigação e descarga de sanitários.
As estruturas metálicas foram projetadas para não produzir resíduos: o aço e os sistemas modulares foram programados para não deixarem cortes e descartes. As eventuais sobras de materiais, como concreto e chapas, foram aproveitadas na própria obra. Com a ampliação da Petrobras, as novas instalações possibilitarão grande desenvolvimento para a Cidade Universitária, trazendo mais segurança e fluxo de pessoas na região. Segundo Costa Fraga, a Petrobras tem pleno conhecimento dos mais importantes laboratórios existentes no mundo na área de exploração e produção marítima. "Pelos investimentos feitos ao longo dos últimos anos, estamos, reproduzindo no Brasil os laboratórios que nós mais utilizávamos fora do Brasil."
O gerente executivo do Cenpes da Petrobras cita como exemplo de problema tecnológico a ser superado, os trabalhos vinculados aos desafios da indústria offshore. "Temos um gigantesco trabalho com foco no pré-sal, que diz respeito ao desenvolvimento de um sistema flutuante para liquefação de gás natural. Como é sabido, o fato de o pré-sal estar distante da costa impõe alguns desafios de logística, inclusive o de como escoar o gás natural que vai ser produzido."
Algumas empresas estão vindo para o parque tecnológico da Cidade Universitária na Ilha do Fundão. Já são quatro: a Schlumberger, um dos maiores fornecedores de serviços especializados na área de exploração e produção do mundo; a Baker Hughes que é uma concorrente da Schlumberger, também parceira da Petrobras há muitos anos, ambas com capacidade de investimento em tecnologia; e a FMC Technologies, o maior fabricante de equipamentos marítimos para área de produção de petróleo. A Usiminas, a primeira empresa nacional a fazer esse movimento de aproximação com o centro, tem interesse em desenvolver pesquisas na área de materiais para o pré-sal.
A rota das pesquisas
O Cenpes faz parte de um modelo de parceria tecnológica que abrange 50 pontos de rede, alinhados com os desafios tecnológicos da
empresa. "Nós identificamos 50 temas de interesse tecnológico e as universidades brasileiras que têm maior capacitação em cada um desses temas. No conjunto, a rede inclui cerca de 80 universidades e institutos de pesquisas do Rio de Janeiro e São Paulo, além muitas universidades das regiões Nordeste, Sul, Norte e do Centro-Oeste", explica Costa Fraga. Ele calcula que a área construída doa laboratórios dessas universidades, nova ou reformada, equivale a quatro vezes a área do Cenpes. "É como se multiplicássemos por quatro a nossa capacidade experimental, com as construções dessas redes e da infraestrutura associada."
Entre as várias pesquisas desenvolvidas pela rede, a empresa destaca o estudo de combustíveis pesados e lubrificantes, as pesquisas ambientais com biomarcadores de contaminação aquática e imunoquímica (para monitorar ambientes marinhos e de água doce), aos ensaios de emissões de motores de veículos, de computação científica e visualização (com um supercomputador), de perfilagem, petrofísica, sedimentologia e petrologia (áreas importantes da geofísica na exploração e produção na camada pré-sal), o suporte tecnológico de engenharia naval para a Petrobras e a Transpetro nos segmentos de transporte marítimo e construção de plataformas, os testes com biodiesel a partir de sementes oleaginosas e o simulador tridimensional de bacias que reconstitui a geração, migração e acumulação do petróleo no passado geológico.
Segundo Carlos Tadeu Costa Fraga, entre 2006 e 2008, a empresa desembolsou R$ 1,8 bilhão em P&D. Com essa e outras iniciativas, o Brasil incorporou laboratórios de classe mundial, antes existentes apenas no hemisfério norte, como o calibrador hidrodinâmico, da USP, o núcleo de tecnologia de óleo e gás, no Espírito Santo, e o laboratório de ensaios não destrutivos, corrosão e soldagem, da UFRJ. "A Petrobras é ganhadorade de dois prêmios pela contribuição do desenvolvimento científico e tecnológico do País, da OTC – Offshore Technology Conference 2010 – como empresa e com um empregado da Petrobras, o gerente de engenharia básica, Marcos Assayag, o único não americano a ganhar o prêmio individual na OTC", completa Costa Fraga.
Fonte: Estadão