O sistema Rudloff de protensão de estruturas é considerado o primeiro genuinamente brasileiro e foi desenvolvido pelo engenheiro José Ernesto Rudloff Manns, numa época em que o protendido começava a ser usado no Brasil, valendo-se de tecnologia estrangeira.
Engenheiro civil e mecânico, Rudloff formou-se em 1943, no Chile, onde também iniciou sua carreira profissional. No Brasil, executou em caráter experimental sua primeira viga protendida, em dezembro de 1954, nas instalações da empresa Situbos, subsidiária da Brasilit, que vendia vigas pré-moldadas para pontilhão. Essa viga era armada com um cabo de 18Ø5 mm, protendida com um só macaco para dois fios, cujo ensaio oficial foi aprovado pelo engenheiro Péricles Fusco, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Universidade de São Paulo (USP).
Muitos anos depois, em 2009, com a morte de José Ernesto Rudloff Manns, o engenheiro Manfred Theodor Schmid foi o profissional que se destacou, ao lado de outros, ao dar continuidade ao trabalho do pioneiro. Schmid foi diretor da VSL no Brasil – uma empresa suíça, especializada em concreto protendido, que já atuava no País desde 1968 e que, em dezembro de 1981, passou a ser parceira da Rudloff.
Aeroporto de Curitiba
Entre os projetos de destaque histórico da Rudloff, está a pista do Aeroporto Afonso Pena, de Curitiba (PR), realizada em concreto protendido, em 1995. O pátio tinha aproximadamente 22 mil m² e, segundo a empresa, foi executado com a solução mais apropriada para este tipo de obra. No projeto inicial, em concreto simples, previa-se o emprego de placas de 3,0 m x 6,0 m e espessura de 35 cm. O projeto adotado, em concreto protendido, abriu a possibilidade de utilizar com apenas de 20 cm de espessura e tamanho de 64,0 m x 116,50 m.
Nessa solução, a resistência à tração do pátio de aeronaves foi aumentada graças à compressão aplicada ao concreto, mesmo sendo a espessura das placas consideravelmente menor do que outras soluções em concreto. Além disso, as placas puderam ser muito maiores e, teoricamente, impermeáveis à passagem de água, o que resguarda a sub-base e o subleito de influências meteorológicas.
As placas são separadas entre si por juntas metálicas de dilatação. Com ótima relação custo-benefício, essa solução traz, entre outras vantagens, reduzida necessidade de manutenção ao longo da vida útil da estrutura. O pátio de aeronaves em questão, em 15 anos de uso, só teve um tipo de manutenção que é muito simples: limpeza das juntas de dilatação.
Prédio especial
Outra obra de destaque é o Edifício Premier, de Florianópolis (SC). Em construção pela Construtora Koprime, com projeto estrutural da firma Stabile de Florianópolis (concreto armado) e M. Schmid Engenharia Estrutural (concreto protendido).
O projeto arquitetônico foi desenvolvido com a necessidade de mais de 50 vigas de transição no edifício todo, de 20 pavimentos. A solução estrutural possível para esse tipo de estrutura veio da utilização do concreto protendido. Até mesmo o uso de estruturas metálicas foi considerado inviável. As cargas de esforço nestas vigas são excessivamente altas, dando origem a momentos máximos (positivo e negativo) muito próximos e resultando em mais de 1.000 tf de protensão em algumas vigas.
O projeto está sendo desenvolvido manualmente, de forma criteriosa e personalizada, pois não existe software que considere todas as condições de contorno de cada viga, suas geometrias variadas e restrições. Trata-se de projeto arrojado e bastante diferenciado das estruturas convencionais, até mesmo das que usam o concreto protendido.
Outros destaques
A empresa também destaca outras obras, como:
– Pátio de aeronaves do Aeroporto de Brasília (DF), Satélite Sul;
– Projeto de ampliação do pátio de aeronaves do Aeroporto Afonso Pena, de Curitiba (27.000 m²), com lajes protendidas;
– Shopping Beiramar, de Florianópolis (SC) – somente o cálculo dos elementos protendidos, em participação de projeto estrutural das empresas Heron Engenharia e Stabile Consultoria;
– Lajes protendidas do Royal Plaza Shopping, em Londrina (PR) – somente o cálculo dos elementos protendidos, em participação de projeto estrutural de Estrutural Projetos e Consultoria de Estruturas;
– Participação nos projetos da pista de taxiamento da base militar de Canoas (RS);
– Viga protendida principal do Santuário Madre Paulina, no Paraná – somente o cálculo dos elementos protendidos, em participação de projeto estrutural de AO Engenharia Especial;
– 60 m de vão livre, com vigas protendidas, do Edifício Flextronics, em Sorocaba (SP) – somente o cálculo dos elementos protendidos, em participação de projeto estrutural de AO Engenharia Especial;
– Estruturas diversas em concreto pré-fabricado protendido, silos e reservatórios em concreto protendido, pisos industriais em concreto armado e protendido.
Manfred Theodor Schmid
O engenheiro nasceu em Lins (SP), em 18 de outubro de 1933. Formou-se em Engenharia Civil, na Universidade Federal do Paraná, em 1957. Fez curso de especialização na Technishe Hochschule Stuttgart, Alemanha (1958/59), em concreto protendido, com o respeitado professor Fritz Leonhardt.
Por 30 anos, foi professor titular do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná, nas disciplinas Resistência dos Materiais e Estruturas de Madeira; e do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, disciplina Concreto Protendido. Hoje está aposentado dessa atividade.
Empresas em que atuou profissionalmente:
– Wayss und Freytag, Stuttgart, Alemanha, como estagiário no escritório de projetos estruturais (1960 – 1961);
– Empresa de projetos estruturais do engenheiro Paulo Augusto Wendler, como calculista de estruturas (1962 – 1969);
– Engenharia Brasileira de Protensão, como diretor e calculista de estruturas. A empresa foi fundada pelos engenheiros Paulo Augusto Wendler e Manfred Schmid e funcionou até ser incorporada pela detentora da patente VSL de estruturas protendidas, a firma Losinger, de Berna, Suíça (1969 – 1973);
– Sistemas VSL Engenharia S. A., como diretor e calculista de estruturas. Manfred foi o responsável pela vinda da VSL para o Brasil, em 1973, e pela sua atuação marcante na utilização do concreto protendido no Brasil. Em 1981, a empresa fundiu-se à Rudloff Protendidos Ltda. e o engenheiro Manfred passou a ser representante comercial e consultor técnico.
– De 1987 até os dias atuais, o engenheiro também atua na M. Schmid Engenharia Estrutural S/C Ltda., Curitiba (PR), como sócio majoritário e calculista de estruturas. A empresa é especialista em cálculos de estruturas em concreto protendido e em concreto armado.
Fonte: Estadão