Sanitário público

Mas, por que no Carnaval? Ou somente no Carnaval? A falta de sanitário público, em qualquer cidade brasileira, – é uma vergonha para lá de nacional. Aparentemente, as cidades do País não foram planejadas para ter sanitário público. Como se fosse vergonha maior tê-los, do que não tê-los.

Vá o cidadão desprevenido procurar algum sanitário público pelas ruas de São Paulo. É por falta deles que o cheiro amoniacal torce o nariz de quem atravesse a área central, de manhã ou à noite. Quantas vezes, alguém já deixou de passar pela Ladeira da Memória, nome que dá título a um dos romances do José Geraldo Vieira. Em certa época, quem passava por lá via a urina descendo em bica. E, quando não descia, era porque estava incrustada no asfalto como pigmento.

Mas, no Carnaval, decidiu-se instalar, no Rio de Janeiro, algumas dezenas, talvez centenas, de sanitários químicos. Todos eles, no entanto, sem a privacidade necessária. Apesar da instalação desses equipamentos de uso comum, muitos cidadãos – e cidadãs – foram flagrados regando o asfalto e os muros; alguns, até os postes. Como se não houvesse outra saída para os que se viam, de repente, apertados e sem outro recurso, senão, a via pública.

A falta de planejamento, aliada à falta de educação, vai mantendo esses costumes que atentam contra o meio ambiente em que se vive. Certa vez, ao entrar no Estádio do Morumbi, dei um passo atrás. Por ali o fedor da urina fazia pensar na extrema miséria da condição humana. Embora no local houvesse sanitário, torcedores apressados preferiam mais os muros próximos, do que local apropriado para se aliviarem, alguns passos diante.

Mas, e no metrô, há sanitários? Sim, em algumas estações. Contudo, o usuário que acaso esteja apertado no metrô das estações Clínicas, Consolação, Masp ou outras, terá de sair correndo pelas escadas para encontrar algum bar onde seja possível evitar constrangimento. E, mesmo assim, não terá a garantia de que estará a salvo, pois nem todos os bares o acolherão.

A cidade, seja São Paulo ou Rio, Belo Horizonte ou Brasília e por aí afora, foram planejadas para tudo – em especial para o caos – menos para o conforto e para as necessidades solitárias dos cidadãos. A estes, restam os muros, os troncos das árvores ou as remotas periferias. Essa é uma das tragédias de nossas metrópoles.

Fonte: Estadão

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