Tem-se falado muito na construção de um legado. Ele viria ou seria deixado depois da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Como se a construção de um legado fosse apenas aquilo que possa ser feito, do ponto de vista de infraestrutura, para aqueles dois eventos internacionais.
Os que assim raciocinam se esquecem de que legado é resultado de um processo. Não se trata de alguma coisa pontual que, acaso, cai por aqui proveniente de outro planeta. Por mais que se tenha em conta as datas no calendário, elas serão apenas isso: o prazo estabelecido para a construção das obras que podem garantir a boa realização dos jogos.
Óbvio que não se deve perder de vista a oportunidade dos investimentos. Em razão da Copa e da Olimpíada há um movimento natural para se fazer aquilo que se negligenciou ao longo do tempo: construção ou reforma das chamadas arenas esportivas; melhoria de acessos viários e rodoviários; melhores condições de oferta de energia elétrica; construção de equipamentos urbanos; cuidados com portos e aeroportos e investimentos na melhoria da rede de saneamento básico. Enfim, tudo o que deveria ter sido feito e que deixou de ser feito, de repente vira motivo para uma mobilização de recursos e projetos.
Terminados os jogos, vem a questão do legado. O que fazer com as estruturas que dali em diante podem ficar subutilizadas? É por isso que as obras a serem feitas não devem ser projetadas para atender apenas à questão do prazo. Devem estar inseridas no processo de crescimento das regiões urbanas em que estejam localizadas; fazer parte do dia a dia da cidade, de sua cultura e outros valores. Se assim não for, não será legado, mas tão-somente a oportunidade para o desencadeamento de uma rede de interesses. Não acredito em legado com prazo fixo.
Fonte: Estadão