Por quatro meses, uma força-tarefa multidisciplinar de nove áreas da engenharia, composta por trinta profissionais, dedicou 14 mil horas a projetar um complexo sistema de segregação de efluentes e recuperação e reuso das águas utilizadas em processos de fabricação de celulose. A missão era ir além da produtividade operacional: o desafio da Axis Engenharia, maior projetista gaúcha de engenharia industrial, estava focado na prevenção de potenciais riscos ambientais do sistema e no aumento da geração renovável dos recursos hídricos envolvidos em cada etapa da produção, um compromisso público da indústria mundial de celulose. A modernização operacional ocorreu na CMPC, empresa chilena que produz cerca de 2 milhões de toneladas de celulose por ano somente na unidade de Guaíba (RS).
A companhia, que opera em uma planta inaugurada na década de 70 e adquirida em 2009, é uma representante da chamada bioeconomia e uma de suas preocupações é minimizar a vulnerabilidade do ecossistema ambiental dos arredores de suas instalações e assumir, cada vez mais, um padrão de operação impecável. Com essas premissas, o time Axis Engenharia ativou o projeto em novembro de 2022, com frentes dedicadas a uma completa revisão tanto do sistema de captação e tratamento de efluentes quanto da inteligência dos processos de consumo e reaproveitamento das águas.
O escopo final foi entregue à CMPC em 120 dias, tempo recorde de execução de um projeto que exigiria pelo menos 12 meses para ser concluído. De acordo com Tiago Ligabue, especialista em gestão de projetos da Axis Engenharia, uma das prioridades do trabalho foi a remoção completa das galerias subterrâneas de condução de efluentes contaminados, que deram lugar a um pipe rack de fácil acesso e visualização.
A estrutura acima do chão afasta as tubulações do solo, medida que reduz as chances de impactos ambientais em eventuais vazamentos ou manutenções. “Mudamos a concepção de um sistema em que tínhamos dificuldade de identificar danos em tubulações enterradas, com potencial contaminação do solo e do rio, para tubulações aparentes que se tornam a própria solução, uma facilidade decisiva para a proteção ambiental”, explica Ligabue. Outra frente de trabalho do projeto liderado pela Axis Engenharia foi o desenvolvimento de soluções para reduzir a captação de água na cadeia produtiva de uma indústria que, historicamente, tem um elevado consumo do líquido para cada tonelada de celulose produzida. “A lógica é simples: administrando perdas e ampliando o reaproveitamento em fases estratégicas do processo, menos processos químicos são necessários e menor será o consumo e degradação do manancial”, conta Juliana Fagundes, engenheira civil da Axis Engenharia e coordenadora do projeto.
Entre as mudanças estabelecidas pelo projeto, estão transformações da infraestrutura para recuperar a água perdida nos processos de troca térmica e selagens, direcionando-a novamente para a torre de resfriamento na qualidade de água já tratada e limpa. Para realizar essa entrega, foi incluído um reforço dos 4 km de tubulações de escoamento, impermeabilização de piso para direcionar águas de qualidades diferentes para estações separadas e recuperação de canaletas.
Segundo o gestor do projeto, as mudanças projetadas garantirão mais 40 anos de sobrevida do parque industrial por modernizar integralmente os sistemas de recuperação e reuso das águas que são devolvidas para a fonte de captação (lago Guaíba), um legado para o futuro. “Produtividade não existe mais na contramão da sustentabilidade”, define Ligabue.
A integração das nove engenharias mobilizadas em torno da gestão socioambiental no projeto – Química de Processos, Mecânica de Equipamentos, Mecânica de Tubulações, Civil de Fundações e Drenagem, Civil de Estruturas Metálicas, Elétrica de Acionamentos, Instrumentação Analítica e Automação – prova que o amadurecimento da agenda ESG (ambiental, social e de governança) no País passa pela capacidade de aliar conhecimento, inovação e propósito. “As engenharias estão aí para reorganizar o processo produtivo, empoderar a gestão socioambiental e posicioná-la no centro da produtividade do futuro”, avalia Rodrigo Berenstein, sócio-diretor da Axis Engenharia.
SOBRE QUEM ASSINA O PROJETO
A Axis Engenharia é uma empresa portoalegrense com carteira de clientes formada por marcas como Gerdau, CMPC, Petrobras, Yara, GS Inima, Stihl, Taurus, Adama, Corteva, Tanac, JTI, hospitais Moinhos de Vento e São Lucas, entre outras. Gerando cerca de 150 empregos diretos na operação completa, é considerada a maior projetista gaúcha de engenharia multidisciplinar para a indústria, estando entre as 10 primeiras colocadas no Ranking Regional Sul das 500 Maiores Empresas de Engenharia do Brasil, publicado anualmente pela Revista O Empreiteiro.