Alberto Sayão*
Desde 1925, com os trabalhos clássicos de Karl Terzaghi sobre a mecânica dos solos, tem ocorrido uma evolução gradativa da engenharia geotécnica. No Brasil, após as grandes obras de infraestrutura nos anos 70, a engenharia sofreu por quase três décadas com a estagnação econômica. Agora, os investimentos para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 voltam a acelerar a engenharia brasileira. Além da infraestrutura esportiva, estão em pauta aeroportos, ferrovias, rodovias e complexos portuários, motivando o uso de novos materiais e tecnologias. As perspectivas são, portanto, de vastos desafios para os engenheiros geotécnicos. |
Na área dos materiais de construção, os geossintéticos diversificam-se rapidamente. Geotêxteis, geogrelhas e geomembranas já são usados em obras de encostas, aterros, barragens e proteção ambiental. Os progressos da indústria dos plásticos tornam os geossintéticos mais duráveis, confiáveis e econômicos. Novos compósitos estão sendo manufaturados para aplicações ainda inéditas em engenharia.
Na área de fundações, tecnologias especiais vêm evoluindo, com destaque para estacas-hélice de grande diâmetro em obras urbanas. Escavações adjacentes a prédios altos exigem o refinamento de soluções de contenção, como estacas secantes e cortinas de jet-grouting.
Nos centros urbanos, modernos sistemas de monitoramento geotécnico e alerta podem contribuir para reduzir os efeitos da ocupação inadequada das encostas com alto risco de deslizamentos. Instrumentos com o uso de fibra ótica, laser ou microondas, posicionamento por satélite e aquisição remota vêm sendo aprimorados.
A engenharia de barragens volta a florescer, com dezenas de novos empreendimentos anuais de energia, mineração e irrigação. As demandas de preservação ambiental passam a dominar os projetos. Hidrelétricas com pequenos reservatórios, operação a fio d’água e instalações subterrâneas mostram-se agora viáveis. Novas tecnologias tornam-se atraentes, como o concreto compactado em barragens de gravidade e o núcleo asfáltico em barragens de enrocamento.
Nos transportes, a manutenção da malha rodoviária exigirá investimentos vultosos e as novas tecnologias para aumentar a durabilidade e reduzir a conservação dos pavimentos serão prioritárias. A expansão dos sistemas metroviários no Rio e em São Paulo vai incentivar a engenharia de túneis. E os melhoramentos urgentemente requeridos pelo sistema portuário ensejará obras pesadas em terrenos litorâneos, usualmente compressíveis e pouco resistentes.
Na área marítima, é promissora a evolução tecnológica para exploração de óleo nas camadas do pré-sal. Investigações do subsolo marinho a enormes profundidades demandam técnicas especiais de amostragem. E estudos avançados sobre a estabilidade de perfurações verticais e inclinadas estão em desenvolvimento.
O conhecimento geotécnico passou a ser decisivo na definição dos grandes empreendimentos. A engenharia geotécnica chegou ao século XXI amadurecida e apta para solucionar os grandes desafios que se apresentam para o desenvolvimento do país.
*Alberto Sayão é professor de Engenharia Civil da PUC-Rio de Janeiro e ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS)
Fonte: Estadão