A falta de um projeto de Nação

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Joseph Young

Arevista O Empreiteiro volta e meia retoma o tema, que colocamos em pauta exatamente agora, quando o governo federal conseguiu tumultuar um setor da economia tido como um dos mais desenvolvidos em termos mundiais — o de geração de energia elétrica. Eis que ele sacou da cartola uma redução unilateral do preço de energia cobrado dos consumidores às custas das empresas geradoras, fato curiosamente anunciado às vésperas das eleições municipais de outubro, ignorando a pesada carga tributária que incide nestas mesmas contas. E, justamente, quando ele próprio lança com alarde outro “PAC”, desta vez para os portos, com a intenção de atrair mais de R$ 40 bilhões de investimentos com as vistas voltadas aos investidores privados que acabara de negligenciar no setor elétrico.

No período entre esses dois eventos foram divulgados os números pífios de crescimento da economia brasileira no 3º trimestre — sinalizando que no ano esta taxa pode não passar de 1%. Pasmem! As reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca de eletrodomésticos e os automóveis parecem ter virado fumaça, sem deixar rastros perceptíveis na economia. Brasília anuncia em seguida a desoneração da folha de pagamento da indústria da construção civil – esta que sempre é lembrada nos momentos de turbulência. A ideia é levar o empreendedor a baratear a nova moradia.

Analistas apontam que este mísero crescimento econômico revela que os empresários não tiraram seu “espírito animal” do closet, para sacar os seus novos projetos e investimentos da gaveta. Mostram igualmente a taxa decrescente de investimentos públicos, enquanto o custeio com a máquina administrativa continua escalando a ladeira. Enquanto a indústria de bens de capital encolhe ano a ano, com fabricantes transformando-se em importadores de máquinas chinesas para revender, os empresários pedem mais proteção através de impostos de importação. Os livros ensinam que uma indústria protegida não investe em inovação, tornando-se cada vez menos competitiva em termos globais.

A morte do arquiteto Oscar Niemeyer nos lembrou Juscelino Kubitschek, o visionário e estadista que induziu o crescimento do litoral ao planalto central, cujo símbolo maior é a construção de Brasília. Até os críticos dos governos militares reconhecem que estes foram os últimos governantes a traçar planos estratégicos para o desenvolvimento futuro do País — talvez um cacoete do hábito do planejamento estratégico.

O que o Brasil quer ser quando crescer? O banco genético das espécies na Amazônia proporciona-lhe as condições privilegiadas para explorar esta atividade. Os abundantes recursos minerais possibilitam transformar o País em fonte de aços e ligas especiais — ao invés de exportar preferencialmente minério de ferro e placas de aço bruto. O modelo bem-sucedido da Embraer poderia ser o multiplicador de uma indústria aeroespacial. A engenharia brasileira, cuja maturidade tecnológica ninguém questiona, carece de financiamento farto para conquistar novos mercados, a exemplo do que faz o Eximbank norte-americano e seus pares da Europa, Japão e China.

As possibilidades são múltiplas. O que falta é um projeto de País para um horizonte de diversas décadas a fim de estruturar uma rota de crescimento sustentável, que vai demandar maciços investimentos em educação, inovação industrial, logística e infraestrutura. Investimentos ao longo de décadas, que não sofram com o ritmo de stop and go, quando se muda o governante de plantão em Brasília, cujo primeiro ato invariavelmente é rever as decisões do antecessor.

Como estratégia e planejamento não são o forte dos ocupantes do Executivo e do Legislativo, convoque-se a inteligência atuante nas universidades, nos campos da engenharia e da indústria e em outras atividades. Não queremos ser um eterno “País do Futuro”.

Três exemplos díspares no mundo: a Inglaterra, a despeito dadesindustrialização, se mantém como polo de alta tecnologia, comoo túnel de vento adotado para testes em carros de Fórmula 1 (foto àesquerda); a Índia sabe que o modelo de plataforma global de serviçosde TI tende a se esgotar e faz-se necessário buscar novo caminho (fotodo centro); e a China aposta em uma indústria global competitiva, masos salários estão em alta e a exigência de cumprimento de regras deproteção ao meio ambiente cada vez maior

Fonte: Padrão


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