A produtividade em obras de infraestrutura, como mudar?

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Nas três primeiras colunas, apresentamos a elaboração do que seria o projeto como um todo. Já é possível fazer algumas provocações, e lançar alguns desafios. Para isso é imperioso rever de onde partimos e onde estamos nesta quarta coluna sobre o assunto.
A falta de um PROJETO EXECUTIVO, já nos parece inquestionável, é a raiz e a causa que temos que combater com muito profissionalismo, sem perder de vista o objetivo estratégico de qualquer empresa e empresário que é o lucro, afinal, estamos numa sociedade capitalista.
Dedicarmos o espaço para resolver esse ponto crucial, é definitivamente atacar a causa, buscando o caminho correto, que corrija os efeitos danosos que esse mal enseja.
Diante desse desafio, quero lançar uma provocação: Como aceitar que planejamentos sem projeto executivo sejam eficazes?
Precisamos abandonar essa falsa idéia, ou seja, como atingir um resultado, mesmo hoje com tantas ferramentas, MS Project, Priimavera, Gantt e etc. , que enfeitam nossas paredes nos canteiros, ou nas telas dos monitores, se essas ferramentas e esses planejamentos não espelham uma realidade, que só poderia ser constatada a partir do exaustivo trabalho que está contido num projeto executivo?
Por outro lado, como vimos nas matérias anteriores, é possível também rever o conceito sobre "que tipo de produção é essa nas nossas obras", e a proposta de fluxo e não transformação, me parece o caminho, a contagem e execução de tarefas dentro do tempo disponível, as ações de mitigação das que não foram executadas, num acompanhamento diário de manhã ao iniciar o dia, e de tarde ao encerrar as atividades.
Diante dessa proposta um amigo me perguntou: "Mas tem que fazer todo dia, essa reunião de manhã e de tarde?". Claro, e com seus feitores, encarregados, gerentes, como numa missão militar, e na volta dela, uma clara exposição das falhas do dia, sem caçar bruxas, mas para buscar respostas e soluções que evitem as repetições. Na análise de um conjunto de centenas de RELATÓRIOS DIÁRIOS DE OBRAS, pude constatar a mesma falha diariamente, reportada sem nenhuma ação para mitigá-la. É incrível, para que relatório então? Nas matérias anteriores abordamos a estratégia dos 6Ms. É ali mesmo que estão as falhas, Máquinas, Materiais, Métodos, Mão de Obra, Medição e Meio Ambiente.
Agora temos que pensar em como mudar, e o desafio fica ainda maior, pois todos vão ter que sair de suas áreas de conforto (no canteiro, com tanta bagunça, me pergunto se de fato há conforto).
O bombeiro é o indivíduo que quer entrar no lugar, de onde você quer sair. Olhando nossas obras, vejo muitos bombeiros, apagadores de incêndios, que se olhassem com essa visão, não entrariam, pelo menos não como engenheiros.
Para mudar, não sabemos quando e se, haverá um dia alguma obra que seja licitada com o projeto executivo. E os contornos políticos desse mal, parecem dimensionar um futuro distante, mas então como fazer um planejamento em cima de um projeto básico?
O processo de construção é indutivo, mas quando entramos na obra ele vai ficando dedutivo, e cada vez mais complexo. Para isso Koskela foi muito preciso ao afirmar: "Somente um sistema de gerenciamento que contenha variações, pode gerar alternativas de forma criativa, a ponto de manter as metas, a despeito de toda a desordem"e pode nos auxiliar.
Nos dias em que escrevo a matéria, os fenômenos meteorológicos, têm judiado de vários países inclusive o nosso. O meteorologista é um profissional que estuda o tempo e suas complexidades, e a limitação que ele tem de prevê-lo. Nós em obras, a despeito das complexidades temos que sobreviver. Assim, para mudar é fundamental entender as complexidades da construção, e gerenciar pensando em sobreviver. Mas, nos enganamos pensando que: Os processos dedutivos são muito complexos, às vezes impossíveis de serem resolvidos, principalmente pela falta de informações.
Para atender nosso seminário, nos pediram um "case" nacional, onde esses conceitos fossem aplicados. No projeto se juntaram algumas empresas, e em particular o Engenheiro Carlos César Gumier, que tem larga experiência com enormes dificuldades utilizando métodos tradicionais e sem projeto e planejamento.
O projeto é a troca de redes de água potável de fibro-cimento por polietileno pelo Método Não Destrutivo. Licitado com um desenho com o simples traçado da rede, incrível não?
O próprio órgão licitante concordou em participar do desafio de montar o projeto executivo, fazer o planejamento e aí então dar início às obras. As primeiras reuniões, já resultaram em listas enormes de problemas a serem evitados ou mitigados, e as complexidades advindas desses problemas, não são poucas, e algumas vezes não têm soluções aparentes. Serão necessários 60 dias para estarmos com tudo pronto, o que deveria ter sido feito para licitar e, aí então, a obra em 30 dias (este é o desafio), ou seja, o conceito do alfaiate "mede três vezes e corta uma"…
Como citou o Bernasconi na apresentação do Coninfra, é possível ainda, aplicar esses conceitos às obras que advirão dos eventos internacionais que o Brasil sediará. Algumas cidades já licitaram obras sem esses cuidados, sem um planejamento. O risco é grande mas temos condições ainda de mudar. Exigirá vontade política dos contratantes, disponibilidade profissional dos contratados, e uma disposição para quebrar esse paradigma, algo assim, digamos quase "apostólico", mas não podemos desistir. Dá para mudar, sim, e contamos com a adesão dos nossos leitores, pois trata-se de uma verdadeira cruzada.
Fonte: Estadão


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