A sustentabilidade na indústria da construção

Sergio Watanabe

As imagens das enchentes no Piauí, do tornado em Santa Catarina ou do furacão Katrina, em Nova Orleans, ainda estão vivas em nossas mentes. As mudanças climáticas geradas pela emissão de gás carbono na atmosfera deixaram de ser um assunto restrito às discussões acadêmicas ou científicas. Já não se discute se estas mudanças vão ou não acontecer, mas sim, as providências que precisaremos tomar para reduzir os efeitos nefastos do aquecimento global.
A busca da solução é de responsabilidade de toda a sociedade, incluindo governos, cidadãos e setores produtivos. Precisamos dialogar e nos articular para enfrentar de forma consciente e objetiva essa ameaça ao planeta.
A construção civil não pode ficar omissa. Nosso setor precisa de uma forma equilibrada e persistente, criar mecanismos que minimizem as emissões de gases de efeito estufa em toda a sua cadeia produtiva.Por isso, o Sinduscon-SP e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) decidiram atuar em tudo o que for relacionado ao tema da Sustentabilidade na Construção.
O uso racional da água, a eficiência energética de nossos edifícios, o uso de madeira legal, o uso da energia solar, a eliminação do desperdício, o correto gerenciamento de nossos resíduos, o uso de materiais com baixa "pegada" de carbono são meios, armas que temos para enfrentar a ameaça das mudanças climáticas.
O Sinduscon-SP, por meio de sua vice-presidência de meio ambiente, tem no tema das mudanças climáticas seu foco principal de atuação. Há anos já estamos atuando em questões como reciclagem de resíduos, conservação de energia, reuso de água e utilização de madeira legal. Com o foco das mudanças climáticas, ampliamos nosso raio de atuação na questão ambiental, não a restringindo à busca de certificações, ou ao plantio de árvores para diminuir a pegada de carbono de nossa atividade produtiva.
Exemplo desta atuação foi o lançamento, pela Eletrobrás e pelo Inmetro, em julho, no Sinduscon-SP, da etiqueta de eficiência energética para edificações comerciais, de serviços e públicas. A exemplo das etiquetas que atestam o consumo de energia de geladeiras e máquinas de lavar, as edificações agora também terão uma placa indicando seu nível de consumo de energia quando estiverem em operação.
Isto significa um grande passo para que viabilizar a construção sustentável, pois o comprador do imóvel saberá que, em poucos anos, o que ele economizar no consumo de energia na operação e na administração da edificação compensará largamente o que foi investido a mais para proporcionar a eficiência. O sindicato representou a CBIC no Grupo de Trabalho de Edificações criado na Eletrobrás para desenvolver esta parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem.
Desta forma, estamos avançando, estimulando o surgimento de uma nova cultura de sustentabilidade no setor da construção, mudando a forma de elaborar os projetos de edificações, o planejamento urbano, a habitação popular e a ampliação da infraestrutura no país.
Vamos assumir as responsabilidades pelas mudanças, e agir. Sem nos preocuparmos com o nome que damos a isso tudo ou com quem será reconhecido no futuro. Vamos avançar, vamos mudar e, para isto, contamos com todas as lideranças da construção do país.
Pretendemos replicar por todo o Brasil o modelo de parceria e compromisso expresso no Protocolo de Cooperação para Consolidar o Desenvolvimento Sustentável da Construção Civil e do Desenvolvimento Urbano no Estado de São Paulo. Tivemos a honra de assinar este documento com o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Graziano.
Também precisamos multiplicar em todo o país o compromisso expresso no Protocolo de Cooperação para Incentivo do Uso de Madeira de Origem Legal na Construção Civil no Estado e no Município de São Paulo, que assinamos com o secretário do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Jorge.
Esta colaboração governo-iniciativa privada é indispensável para a formulação de políticas públicas equilibradas, voltadas a enfrentar o problema das mudanças climáticas. Elas precisam informar e orientar os cidadãos, bem como regrar as atividades produtivas, priorizando o uso de tecnologias e materiais de baixa pegada de carbono.
A construção civil, pela sua importância para a sociedade brasileira, vai sempre se posicionar como protagonista neste processo, por intermédio do diálogo e do convencimento. Vamos lutar para que intenções legítimas e idéias brilhantes sejam bem aplicadas, compatibilizando-as com a viabilidade técnica e econômica requerida pela nossa atividade produtiva.

Sérgio Watanabe é presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)

Fonte: Estadão

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