Acústica

A engenharia acústica evoluiu. Modernas salas de cinema e teatro primam pelos cuidados antirruídos. Óbvio que existem os casos, que são muitos, em que se assiste a um filme, ouvindo-se, ao lado, o diálogo ou o tiroteio do filme rodado em outra sala. No geral, não se pode atribuir tais inconveniências à engenharia acústica, mas aos responsáveis pelos empreendimentos que negligenciaram as obras necessárias para o conforto dos usuários.

Leio, no entanto, que cuidados dessa ordem não têm sido colocados em primeiro plano em prédios residenciais. Compradores e construtores não valorizariam o assunto. Seria exceção a parcela de usuários que implicam com essas coisas. Daí, se dizer que os moradores responsáveis pelas reclamações são considerados chatos.

De longe, os usuários que teoricamente não estariam nem aí para o problema, identificam os chatos. São aqueles que reclamam das tropelias excessivas da criançada no pátio, no hall, nos elevadores ou escadas, no playground ou na piscina; do vizinho que costuma passear à noite, ininterruptamente, com sapatos pesados, nos poucos metros quadrados da sala do apartamento de cima; das desavenças domésticas vizinhas, que às vezes derivam para palavrões, corpo a corpo, ou sapatos jogados uns contra os outros; e até daquelas horas, relaxantes, em que o amor fala mais alto.

Mas o barulho não fica apenas nos limites interno do prédio ou do perímetro murado em que está confinado. Vem também de fora e não se trata somente da propaganda da pamonha de Piracicaba, mas das boates próximas, de madrugada e dos bares e dos maníacos que colocam o som dos carros, nas ruas, para muito além dos decibéis humanamente suportáveis.

Chamou-me a atenção frase do representante de uma entidade imobiliária, de que o brasileiro, possivelmente por uma questão cultural, nunca valorizou muito o tratamento acústico. Pois eu acho que nem por isso – mesmo que isso fosse verdade – deve-se justificar a indiferença com que construtores e responsáveis pela segurança e saúde públicas têm tratado de assunto de tal importância.

A acústica é uma prioridade. Absurdo precisar tornar-se objeto de campanha pública de moradores para atrair a atenção de autoridades. Conforto acústico e limites de intensidade de ruídos suportável interna ou externamente precisa ser norma rigorosa, com as especificações técnicas definidas até nos estudos iniciais da construção e obedecidas na fabricação e emprego dos materiais de revestimento e acabamento.

Fala-se que vem aí, talvez para maio, a NBR 15.575, que fixa diretrizes mais precisas para a aplicação, nas edificações, da engenharia acústica. Aguardemos.

Fonte: Estadão

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