Compatibilizar a montagem foi a última etapa de ampliação do Galeão

 

Novo píer de 100 mil m² é entregue para os Jogos Olímpicos; multiplicidade de sistemas revela o intenso trabalho de integração

Augusto Diniz – Rio de Janeiro (RJ)

Quando a revista O Empreiteiro esteve há pouco mais de um ano no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim – Galeão, no Rio de Janeiro (RJ), realizando reportagem sobre o andamento das obras de ampliação do local, a estrutura toda pré-fabricada do Píer Sul, de 100 mil m² com três alas (A, B e C), já estava quase pronta. Na época, Pedro Moreira, diretor de contratos do Consórcio Construtor Galeão (Odebrecht Infraestrutura – 90% e MPE – 10%), ressaltara o intenso trabalho das obras civis.

Um ano depois, poucos dias antes da inauguração do novo píer, a conversa com engenheiro civil responsável foi outra. A entrevista centrou-se na montagem dos modernos sistemas implementados na estrutura.

“Em primeiro lugar, explico que se implantou o que tem de mais moderno em aeroporto”, conta Pedro. “Mas a compatibilização de todos os sistemas não foi fácil.”

Pedro Moreira: Compatibilizações

Os sistemas incluem iluminação, som, dados, ar condicionado, controle de acessos, computadores de portão, esteiras e escadas rolantes, elevadores, pontes de acesso às aeronaves (os chamados fingers), combate a incêndio e redes hidráulicas e de elétrica.

O Píer Sul tem 26 pontes de embarque – no extremo da asa A estão as seis pontes de embarque para aviões do tipo A 380, o maior do mundo para passageiros.

“Tem-se um projeto para cada item. Precisou-se fazer a compatibilização de todos eles e depois integrar”, diz. Para auxiliar no processo de compatibilização, foi usado o software Solidworks, o mesmo aplicado no desenvolvimento das complexas plataformas de petróleo.

Pedro conta que as instalações tomam tempo e exigem sincronismo. Em alguns casos, é preciso até fazer intervenção física na estrutura já construída. “Curiosamente, os itens mais trabalhosos são os pequenos, como iluminação e som. Eles demandam muita mão de obra no local. Ao contrário dos sistemas eletromecânicos (escadas rolantes, esteiras etc.), que chegam prontos e exige-se apenas sua montagem”, afirma.

Para se ter uma ideia do trabalho que deu somente a montagem de iluminação, foram 17 mil luminárias instaladas. Já o conjunto de cabos elétricos e eletrônicos introduzidos na estrutura passou de 3 milhões de m.

26 novas pontes de embarque no aeroporto

Em agosto de 2014, o consórcio RioGaleão, formado pela Odebrecht Transport e Changi Airports International (Cingapura), assumiu por 25 anos a administração e operação do Aeroporto Internacional Tom Jobim – Galeão. Até o fim do período de concessão, o RioGaleão terá investido R$ 5 bilhões no aeroporto.

Sistemas diversos implementados onde somente a iluminação conta com 17 mil itens

Na ligação dos sistemas com o Terminal 2 existente, que é a partir dele que o passageiro tem acesso ao novo píer, o consórcio construtor encontrou outro desafio. “Revitalizamos 35 mil m² do Terminal 2, dos cerca de 100 mil m². Mas ele tem uma estrutura diferente, pé-direito mais baixo, com passagem de redes mais estreitas”, menciona Pedro. Isso exigiu a compatibilização também dessa interligação do novo com o antigo.

O Terminal 2, no trecho de intervenção, sofreu demolição de alvenaria existente e colocação de divisórias drywall; execução de contrapiso e colocação de piso de granito e porcelanato; e introdução de forro e instalações eletromecânicas. É neste espaço que se dará o check in e controle de passaporte de passageiros, antes dos mesmos ingressarem no novo píer.

O diretor da Odebecht lembra ainda que tudo isso tinha que ser feito sem atrapalhar o funcionamento do aeroporto.

Foram 3 mil pessoas envolvidas na etapa de instalações – no pico, no segundo semestre do ano passado, o total de trabalhadores alcançou 7.800 na obra.

O engenheiro explica que uma central de controle, instalada no Terminal 1, fará todo o monitoramento dos sistemas, desde definir a intensidade de luz até a temperatura do ar condicionado no novo píer.

Terraplenagem

Com o novo píer no Aeroporto do Galeão, foi necessária também a construção de pátio de aeronave com 260 mil m² – na verdade, uma extensão do existente.

O solo removido foi levado para a área próxima ao mesmo local de onde se retirava solo para o aterro – a localização da jazida fica no lado oposto ao pátio do aeroporto, dividido pela estrada de acesso aos terminais do aeródromo.

A ordem do trabalho nesta etapa, no trecho de pavimento rígido, foi a seguinte: retirada do solo, serviços de geotecnia e fundação, aterro comum, tratamento de solo (rachão e geotêxtil) e drenagem com tubos de PEAD de até 1,50 m de diâmetro, aterro compactado e controlado, impermeabilização, colocação de camada de BGS e BGT, compactação e camada de concreto de 36 cm.

A terraplenagem do pátio começou em setembro 2014 e só terminou em dezembro 2015.

Descrição das obras dos pavimentos rígido e flexível do pátio de aeronaves, na área do Píer Sul

Cobertura

O cone de aproximação aérea – área de segurança de tráfego aéreo – exigiu que a montagem da cobertura do novo píer se procedesse de maneira a não invadir a zona especial, durante o posicionamento da estrutura metálica.

Assim, as peças da cobertura foram elaboradas em tamanhos suficientes para serem erguidas por guindastes de até 300 t, sem que os trabalhos invadissem o cone de aproximação aérea.

A cobertura possui duas camadas para garantir estanqueidade e, ao mesmo tempo, diminuir a incidência de calor no píer, relata Pedro Moreira. Primeiro, foi feita uma laje de concreto, posteriormente impermeabilizada com poliuretano (PU). “O concreto com impermeabilizante foi desenvolvido pelo consórcio construtor e substitui a tradicional manta asfáltica, que exige o uso de maçarico e toma tempo”, expõe. Depois da laje, montou-se a estrutura com telhas metálicas.

As fachadas foram cobertas de pele de vidro antirruído e antitérmico, com cada peça, em média, medindo 1,25 m x 3,00 m.

Edifício-garagem no Terminal 2

O edifício-garagem do Terminal 2 do Aeroporto do Galeão foi ampliado e recebeu quatro pisos na estrutura (além dos três existentes), com 53 mil m² de área nova construída, e mais 2 mil novas vagas de estacionamento. Já totalmente em operação, a sua ampliação fez parte do projeto de melhorias do aeródromo para os Jogos Olímpicos.

A inovação dessa construção foi a adoção de lajes pré-fabricadas, com o uso da tecnologia BubbleDeck, que utiliza esferas de plástico no lugar do concreto que não desempenha função estrutural.

As esferas de polipropileno, com 36 cm de diâmetro, são inseridas de forma uniforme entre a armação de aço. Foram usadas mais de 180 mil esferas plásticas em cerca de 3.800 lajes pré-fabricadas. A carga de cada laje é de 450 kg/m².

As lajes pré-fabricadas já vêm com o sistema BubbleDeck. As lajes pré-fabricadas são lançadas na estrutura e posteriormente finalizadas com armadura complementar para consolidação. O uso do método representa economia de custo e diminuição de prazo de implantação, com elementos 35% mais leves do que os convencionais.

Qualidade

Em dezembro do ano passado, o consórcio obteve o ISO 9001 de obra aeroportuária pelo Bureau Veritas. Segundo Pedro, trata-se de um reconhecimento e tanto, porque, na maioria das vezes, a certificação em obras alcança apenas uma parte dela. “O ISO em obras desse tipo se limita muitas vezes a uma atividade, mas no nosso caso foi tudo”, afirma.

Houve uma intensa busca pela qualidade, conta o engenheiro. Ele relaciona testes de instalação feitos no período de concorrência, o acompanhamento no fornecedor de fabricação de sistemas para o novo píer e até a qualidade de insumos, como brita. “Queríamos fazer o melhor possível dentro de uma política de austeridade”, diz.

O período curto da obra, iniciado em setembro de 2014 e encerrado em abril, para o píer operar plenamente nos Jogos Olímpicos, é apontado por Pedro como um empecilho extra no desenvolvimento do projeto.

Pisos de lajes pré-fabricadas com adoção de esferas no lugar do concreto

Ficha Técnica – Construção do Píer Sul do Aeroporto do Galeão (RJ)

Consórcio Construtor: Odebrecht Infraestrutura (90%) e MPE (10%)

Projetista: Intertechne

Parceiros destacados: Brafer (estrutura metálica – cobertura), CPC Estruturas (edifício conector, pontes de embarque e edifício-garagem), Cassol, CPI, Engemolde (pré-fabricados), Construtora LPV (obras), Holanda Engenharia (controle), NEC (integrador de sistemas), ThyssenKrupp (esteiras e escadas rolantes, elevadores e pontes de embarque), Ulma (fôrmas e escoramentos), Confiança (alumínio e vidro), Leth (gesso), Tec Dutos (ar condicionado), Composite, Radial, Solepoxy (revestimentos), Alubauen (esquadrias e fachadas), Zocal (locação de equipamentos), 3Z (guindastes).

Fonte: Redação OE

 

 

 

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