Não importava o horário. Tampouco, as circunstâncias. Em se tratando de prestar informação técnica correta, eles sempre encontravam o tempo necessário. Figueiredo Ferraz, Vilanova Artigas, Lúcio Costa, Sérgio Marques de Souza, Falcão Bauer, José Martiniano de Azevedo Neto, João Fortes, tantos outros, em tantas ocasiões diferentes e, às vezes, em momento da maior complexidade nas atividades que desenvolviam., sempre achavam tempo para atender ao tempo do jornalista.
E não há como deixar de mencionar os que prosseguem, mais antigos ou mais recentes, conquanto atenciosos e ligados à importância de difundir informações, para a melhoria da trajetória da engenharia ou da arquitetura: Cyro Laurenza, Cristiano Kok, Vasconcelos, Bernasconi, Sigmundo Golombek, Milton Vargas, o lutador Luiz Roberto Fortes Furtado, Paulo Mendes da Rocha, Botti e Marc Rubin, Júlio Capobianco, João Antônio Del Nero, Contarini, Catão, Ruy Ohtake, Gasperini, Mário Franco, Zanettini. A lista seria enorme. Os que não se encontram aqui mencionados, que me perdoem. Eles jamais deixarão de receber o meu agradecimento e carinho.
Cito-os como mestres exemplares no tratamento que davam à informação sobre questões de engenharia ou arquitetura. Chegavam a interromper seus afazeres, ou marcavam horário que não complicasse a vida de um ou de outro. Então, pacientemente, desonevelavam o fio da meada de assuntos de suas áreas, para o veículo que lhes solicitasse informações. Não importava, quando eu os procurava, se a indagação era absolutamente elementar, genérica ou específica. Eles iam a fundo mostrando os porquês de soluções técnicas no projeto ou no canteiro. E o texto, então produzido, poderia iluminar-se em favor da informação.
Lembro que, mesmo assediado pelas circunstâncias, o professor Lucas Nogueira Garcez não deixava de atender o jornalista. Quando não o fazia, explicava: "Não tenho como conversar com você agora, mas você está liberado para conversar com o engenheiro tal, de minha equipe". E me pedia que voasse para a Vila Piloto, perto de Três Lagoas, onde o engenheiro indicado estaria pronto para me receber e conversar sobre obras da antiga Cesp. Não havia porque dificultar, torcer, blindar informação. Não havia escapismo.
Um dos mestres citados até exagerava na dose. Perguntava se poderia atender a desoras. E atendia, eventualmente com uma garrafa de vinho ao lado, nunca deixando o jornalista a ver navios. Isso ocorria em tempos difíceis, quando a informação técnica constituía uma preciosidade e não se encontrava tão difundida, quanto hoje, época em que consultas podem ser feitas via internet, nos sites de busca.
Claro que havia exceções. Mas estas apenas realçavam o papel dos engenheiros que se prestavam ao atendimento à imprensa, conscientes de que a engenharia se faz também mediante o intercâmbio de informações. Quanto mais ágil a troca de experiências, mais capacitada ela se torna em favor das obras, sejam elas edificações, plantas industriais, hidrelétricas ou obras de arte especiais.
Atualmente, embora o atendimento à imprensa continue, generaliza-se em algumas corporações, e em alguns órgãos públicos, uma tendência diferente. Primeiro, porque o executivo se sobrepõe ao técnico e, como em muitos casos ele não tem a mesma capacidade do engenheiro de obra para prestar a informação, a notícia que se obtém perde muito do ponto de vista de qualidade, sob o aspecto específico da engenharia. As informações técnicas foram substituídas pelas notícias de mercado.
Como esta revista salientou em editorial, na edição do mês passado, em muitos casos o contratante impede que o contratado não se manifeste sobre suas descobertas ou desenvolvimento de soluções técnicas. Isso resulta em absoluto desserviço ao intercâmbio de experiências, que é, no fundo, um dos mecanismos do desenvolvimento da engenharia.
Sou grato aos mestres do passado, que privilegiavam a informação técnica e viviam o momento de novas descobertas convencidos de que elas constituíam generosas contribuições que deveriam, de imediato, repassar ao público interessado. Daí, o título deste comentário: Aos mestres, com carinho.
Fonte: Estadão