As duas usinas que vão mudar o futuro da Região

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Rondônia, Acre e Amazonas vivem hoje a expectativa da construção das duas usinas hidrelétricas no rio Madeira. Ambas acrescentarão à capacidade instalada do País 6.450 MW. Santo Antônio contribuirá com 3.150 MW e Jirau, com 3.300 MW. Pelos cálculos originalmente previstos, as obras exigirão investimentos de até R$ 28 bilhões.

Uma linha de transmissão de 2.450 km, ligando Porto Velho (RO) a Araraquara (SP), será construída para distribuir a energia gerada para o Centro-Oeste e o Sudeste. Essa obra, com custo estimado entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões, deverá ser concluída até o final do segundo semestre de 2012.

Pelo projeto original, o aproveitamento hidrelétrico de Jirau ficaria na cachoeira homônima, no rio Madeira, a 136 km à montante de Porto Velho. O acesso ao local será feito a partir da capital do estado, pela BR-364, trecho Porto Velho-Abunã. No km 126, há um acesso não pavimentado, à direita, que conduz ao local das obras distante cerca de 6 km da BR-364.

Santo Antônio será constituída por uma estrutura de vertedouro na margem direita, sobre a Ilha do Presídio, e uma estrutura de casa de força e de tomada de água na margem esquerda, com 44 unidades geradoras. Na calha do rio, entre as duas estruturas, será construída a barragem de enrocamento com núcleo argiloso.

Jirau, cujas tomada de água e casa de força serão construídas na margem direita do Madeira, vai operar com 44 unidades geradoras. Na calha do rio, entre as duas estruturas, será construída uma barragem de enrocamento com núcleo argiloso.

Sistemas e métodos construtivos

Como se trata de um rio não controlado e com grandes vazões, todas as estruturas de concreto serão construídas nas margens. Após a conclusão do vertedouro, da tomada de água e da casa de força, será procedida a operação do desvio do rio, iniciando-se, então, a construção da barragem.

As estruturas de concreto serão convencionais. O vertedouro será composto por ogiva em perfil Creager, calha de restituição, pilares intermediários aos vãos de 20 m. Sobre os pilares será construída uma ponte permanente. Haverá uma ponte à jusante da estrutura, com 15 m de largura e ao longo do vertedouro, que será a ponte de serviço, a ser utilizada durante as obras.

A casa de força e a tomada de água terão estrutura única para abrigar os equipamentos previstos. À montante, serão instaladas grades de proteção e comportas ensecadeiras. À jusante, serão instaladas comportas de emergência e ensecadeira.

Os consórcios construtores

Contrariando as expectativas do governo, o leilão da usina de Santo Antônio, vencido pelo consórcio Odebrecht/Furnas, teve um deságio de 35%, com preço da tarifa de R$ 78,90/MWh. Três consórcios estavam na disputa, cujos lances jogaram o valor bem abaixo dos R$ 122/MWh definidos como teto.

O preço final para as distribuidoras, porém, será de R$ 78,87, já que o consórcio vendeu para o mercado livre 30% da energia total a ser produzida pela usina – o máximo estabelecido. O mercado livre é formado por grandes consumidores, como indústrias, shoppings, supermercados, etc.

Os outros consórcios eram o Ceisa, do qual participaram Camargo Corrêa (0,9%), Chesf (49%), a CPFL Energia (25,05%) e a espanhola Endesa (25,05%) e CESB formado por Suez (51%) e Eletrobrás (49%).

A hidrelétrica de Jirau será construída pelo Consórcio Energia Sustentável do Brasil (Cesb), formado por Suez Energy South América Participações (50,1%), Camargo Corrêa Investimentos em Infra-Estrutura (9,9%), Eletrosul (20%) e Chesf (20%). O preço final ofertado pela energia a ser gerada nesse aproveitamento foi de R$ 71,37 por MWh, 21,5% abaixo do preço inicial de R$ 91/MWh. O consórcio deverá destinar 70% da energia para o Ambiente de Contratação Regulado (ACR), cabendo ao Ambiente de Contratação Livre (ACL), os 30% restantes.

Diferentemente do que ocorreu com o leilão de Santo Antônio, o leilão de Jirau provocou questionamentos e até a ameaça, por parte do consórcio Madeira Energia, de contestá-lo na Justiça.

Os ministérios públicos estadual e federal de Rondônia chegaram a encaminhar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pedido de informações quanto a mudanças que o consórcio vencedor apresentou no leilão, no projeto da hidrelétrica. A principal alteração no projeto diz respeito à realocação da barragem, que deverá ser construída 9,2 km abaixo do sítio original. Segundo o consórcio, essa mudança possibilitará menos escavações, o que se refletirá na redução do impacto ambiental e nos custos, favorecendo a antecipação do cronograma.

Os reflexos na economia regional

Análises econômicas regionais mostram que Santo Antônio e Jirau podem gerar cerca de 40 mil empregos diretos beneficiando os estados de Rondônia, Acre e Amazonas. Segundo o consórcio Madeira Energia, uma das providências que ali serão adotadas na fase da construção será a capacitação dos trabalhadores e das empresas fornecedoras.

Hoje, o parque gerador de Rondônia conta com uma oferta da ordem de 800 MW. Com a construção das duas usinas, serão mais 6.450 MW disponibilizados no mercado.

Atualmente, o rio Madeira não permite o tráfego de embarcações de qualquer calado devido às corredeiras.Com a conclusão das duas barragens, o rio se tornará navegável no trecho entre Porto Velho e Abunã, numa extensão de 260 km e no trecho entre Porto Velho até a foz do rio Beni. Nesse trecho, situado a montante daquela capital, há cerca de 15 obstáculos naturais que serão eliminados com a construção das eclusas das usinas.

A conclusão das obras permitirá a abertura de novas fronteiras agrícolas no oeste de Mato Grosso e no sul de Rondônia, de modo a permitir o aumento do volume de produção agrícola e a tornar viável a exploração de novas culturas regionais.

Empresários e técnicos de Rondônia e Acre chamam a atenção, no entanto, para a necessidade de se manterem vigilantes em relação à construção das eclusas. Temem que elas acabem virando ficção, a exemplo do que ocorreu com as eclusas de Tucuruí, no rio Tocantins, cujas obras só recentemente foram retomadas.

Fonte: Estadão


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