O governo do Ceará saiu à frente nas iniciativas que deverão constituir o legado futuro para a população daquela capital e da região metropolitana
Não há, a rigor, nenhum segredo na estratégia adotada pelo governo Cid Gomes, do Ceará, a fim de manter em dia e até antecipar as obras previstas, desde 2007, para garantir o êxito dos eventos da Copa de 2014 – e de outros eventos – em Fortaleza. Ele simplesmente resolveu sair à frente e assegurar a distância, de olho na linha de chegada, em relação ao que as demais cidades-sede, com o apoio de prefeitos, governadores estaduais e governo federal, estavam realizando.
A atual administração cearense, no entender do advogado Ferrúccio Feitosa, secretário especial da Copa (Secopa), teve muita felicidade: ela é o prolongamento do primeiro governo Cid Gomes, eleito em 2007. Foi durante aquele governo, que o Brasil acabou escolhido como sede da Copa do Mundo. Coincidentemente, as 12 cidades-sede do torneio viriam a ser selecionadas em 2009. Reeleito em primeiro turno em 2010, Cid Gomes, que vislumbrara, desde o ano anterior, a possibilidade de estar recebendo, em Fortaleza, os jogos de 2014, procurou dar consistência aos planos nesse sentido.
Em reunião, na época, com a sua equipe, ele, que é formado em engenharia civil, afirmou: “Só acredito em governo que tenha bons projetos para realizar. Com bons projetos, competentemente justificados, não será difícil a obtenção de recursos para tirá-los do papel.” No fundo, essa foi a orientação que ele passou a seus colaboradores no primeiro governo. E, aos projetos que vinham sendo realizados desde a primeira administração, somaram-se os que começaram a ser elaborados no segundo governo, desta vez com o foco direcionado para a Copa do Mundo. Como já possuía diversos projetos em andamento, a maior parte voltada para a melhoria da infraestrutura do Estado, ele não estava partindo do zero. Fortaleza postava-se na vanguarda, sobretudo na construção do Estádio Plácido Castelo, o Castelão.
Com os projetos preparados, o governador e equipe foram chamados pelo governo federal para discutir especificamente as obras da arena e de mobilidade urbana. Projetos, além de propostas adicionais, foram levados aos ministérios do Esporte, das Cidades, do Turismo, do Planejamento e da Casa Civil. Na época, conforme conta o secretário Ferrúccio Feitosa, tornou-se possível fechar, para o Estado do Ceará, o que ele chama de uma “matriz de responsabilidade” da ordem de R$ 1,6 bilhão. Foi firmado um compromisso envolvendo os três entes federativos – prefeitura, Estado e União – para a execução das obras com finalidade determinada.
AS OBRAS DA “MATRIZ DE RESPONSABILIDADE”
Pelo compromisso acertado, coube ao governo federal responsabilizar-se pelas obras de ampliação do Aeroporto Pinto Martins e pela construção de um terminal de passageiros no porto de Mucuripe. A prefeitura de Fortaleza ficou com a incumbência de cuidar da mobilidade urbana, responsabilizando-se pelas obras do sistema viário, incluindo os acessos ao estádio Castelão e as vias de ligação com a zona hoteleira e, desta, com o estádio. O governo estadual ficou para responder por três das obras mais significativas: a construção da arena, a complementação das obras do metrô e a construção do sistema de transporte Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O VLT vai estabelecer a conexão do porto de Mucuripe, a partir do terminal de passageiros, com a zona hoteleira, com a rodoviária e com o aeroporto. Depois, chegará ao principal ponto de convergência do sistema de transporte público metropolitano: o bairro de Parangaba.
Ali haverá a junção de todos os meios de transporte do sistema de transporte coletivo em operação: o terminal da linha sul do metrô de Fortaleza (o Metrofor); o terminal do VLT, propriamente dito, e o acesso para as diversas linhas de ônibus. Estará funcionando, assim, um sistema integrado dos serviços de transporte para a população.
O VLT, cujo início de construção está sendo aguardado, passará por 22 bairros de Fortaleza e deverá, segundo o secretário da Secopa, atender pelo menos a 20% da população da cidade. Já a linha sul do metrô, que pelo projeto original, funcionaria com 18 estações, deverá ter mais duas estações, a fim de ampliar o atendimento da demanda.
O CRONOGRAMA E O CONSÓRCIO CPE-VLT
O governo do Estado garante que o estádio Castelão (ver matéria nesta edição) será entregue rigorosamente no dia 30 de dezembro deste ano. É a obra desse tipo mais adiantada, hoje, no Brasil. No canteiro do estádio há o registro de que, até janeiro, ela estava com 52,02% dos serviços efetivamente realizados.
O consórcio CPE-VLT Fortaleza acaba de vencer a licitação para construir o VLT – linha Parangaba-Mucuripe. Ele é formado pelas empresas Consbem, Construção e Comércio Ltda., Construtora Passareli e Engexata. A primeira ordem de serviço está para ser assinada agora em março e a previsão é de que ele seja concluído em junho do ano que vem.
“Tenho a certeza”, diz Ferrúccio Feitosa “de que o nosso VLT estará pronto um ano antes da Copa”. As obras que se encontram sob a responsabilidade municipal estão, na prática, iniciadas, com previsão de conclusão para junho de 2013. E, aquelas da órbita do governo federal – a ampliação do aeroporto e o terminal de passageiros do porto de Mucuripe – também deverão ficar prontas naquela mesma data.
“São prazos fechados”, diz o secretário, salientando que “as obras do porto já foram licitadas, e que o nome do vencedor foi anunciado”. O vencedor da licitação pública para construir o novo terminal de passageiros, do porto de Fortaleza, foi o consórcio Constremac-Servenco.
Além das obras mencionadas, articuladas com os três entes federativos, o governo estadual, em parceria com o governo federal, vem realizando outras iniciativas na área de transporte e logística, meio ambiente e saneamento básico, turismo e tecnologia da informação e na área da saúde e da segurança pública, compreendendo investimentos, em Fortaleza e região metropolitana, da ordem de R$ 6 bilhões. Várias das obras nessas áreas estão sendo concluídas e inauguradas e têm em vista a mobilidade urbana, incluindo a linha sul do metrô, que deverá ficar pronta este ano e na qual estão sendo aplicados mais de R$ 1,7 bilhão.
Dentre outras obras, o secretário destaca o alargamento de avenidas importantes, bem como melhorias em estradas estaduais que fazem a ligação com o polo turístico da região leste do Estado. Parte daqueles recursos foi destinada também às obras de conclusã
o do VLT que faz a ligação do centro de Fortaleza com a cidade de Caucaia, a mais populosa do Estado, na região metropolitana.
O metrô de Fortaleza, a exemplo do que ocorre em todas as capitais brasileiras, não possui estação contígua ao Aeroporto Pinto Martins. O VLT, que deverá amenizar o impacto dessa deficiência, com um terminal a ser construído perto dele, deverá transportar os usuários do aeroporto para o ponto de conexão do sistema integrado de metrô e ônibus.
O secretário Ferrúccio Feitosa destaca as duas obras que hoje são consideradas ícones, dentre as que estão sendo construídas em Fortaleza: o Centro de Convenções, ou Centro de Eventos, que deverá ser uma referência de obra desse tipo, implantada em área da ordem de 170 mil m² e com capacidade para receber 30 mil pessoas simultaneamente, e o estádio Castelão. Ambas vêm se caracterizando pela visibilidade e pelas mudanças urbanas em andamento nas regiões em que se localizam.
No Castelão, o governo tem procurado, ao lado das empresas construtoras que integram o consórcio construtor – a Galvão Engenharia e a Construtora Andrade Mendonça – estimular a contratação de mão de obra feminina (lá trabalham 35 mulheres), egressos do sistema penitenciário (19 estão trabalhando e recebendo 100% do salário compatível) e deficientes físicos. Estão também nas obras quatro ex-jogadores profissionais. Um deles, o Mirandinha, ex-seleção brasileira, foi o primeiro brasileiro a jogar futebol na Inglaterra, e outro, Celso Gavião, foi campeão mundial pelo Porto e bicampeão da Europa, também pelo Porto. Ele havia jogado aqui, no Brasil, pelo Vasco.
Fonte: Padrão