As passarelas que voam. E matam

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Elas estão voando. Isso já aconteceu na Dutra, na Imigrantes, na Régis Bittencourt, na Washington Luís, no sistema Anchieta-Imigrantes. E, ontem, ocorreu na Linha Amarela, Rio de Janeiro, ao impacto da caçamba levantada de um caminhão. Houve quatro mortos: duas das vítimas passavam pela passarela e foram arremessadas de lá; as outras duas morreram esmagadas.

Uma só ocorrência desse tipo já seria demais. Demonstra que a insegurança não está apenas na pista, embaixo, por onde desavisados, ousados e irresponsáveis insistem nas perigosas travessias. Está lá em cima, também, onde os pedestres estariam em segurança.

Tragédias desse gênero não acontecem por acaso. Nem podem ser debitadas à conta de fenômenos naturais. Ocorrem por graves e insensatas falhas humanas. Podemos ir até um pouco mais longe na análise: acontecem por absoluto desapreço à vida alheia. Na origem está a carência de cidadania, a educação em marcha à ré, a falta de importância que se dá ao outro. Esse processo vem de cima para baixo e atinge a todos, sem distinção. São responsáveis os que dão as costas à fiscalização, as empresas que não orientam seus motoristas para os riscos da arma que estão dirigindo e os órgãos que preferem deixar ar coisas como estão, para poder aumentar a receita, via indústria das multas. O resultado é a morte no asfalto.

Como nada disso acontece por acaso, que tal cuidar da manutenção das passarelas, pontes e viadutos que ainda não foram danificados por caminhões? Há algum tempo uma entidade de engenheiros, aqui em SP, detectou que diversas dessas estruturas estavam com a data de validade vencida. Ensaiou-se, na época, alguma providência para a manutenção preventiva.

Depois, como não houve queda, a coisa foi caindo no esquecimento. E, o esquecimento, sinônimo de imprevidência, desleixo, falta de respeito para com a cidade e para os que as constroem e mantém, vai transferindo o problema, até que a tragédia acontece. E, aí, há um novo movimento em favor de medidas paliativas. Depois, tudo é esquecido de novo.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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