Ásia e Oriente Médio dominam as discussões; América Latina fica em 2º plano

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A despeito do sucesso do painel da América Latina, onde o Brasil brilhou nas discussões e a sala ficou pequena para o enorme público, as sessões plenárias da Global Construction Summit da revista ENR-Engineering News Record, em Nova York, Estados Unidos, realizadas no mês de abril passado, mostraram claramente as preferências das empresas de engenharia globais pelos mercados do Oriente.

A palestra de abertura do presidente da Fluor, David Seaton, que conta hoje com 80% do seu backlog no mercado global fora dos EUA, apontou que os negócios de engenharia hoje atingiram a cifra de US$ 1 trilhão, cerca de 10% do PIB mundial, com 100 milhões de empregos envolvidos.  “As empresas locais melhoraram muito a qualidade dos seus serviços, com preços competitivos — e as empresas globais já não podem ignorá-las na hora da licitação”, afirma ele. 

A Fluor tem atualmente cerca de metade dos seus quadros com mais de 50 anos, e o investimento nos novos talentos e na educação tornaram-se prioritários. A fundação que leva o nome da empresa financia cursos máster de Engenharia em algumas universidades americanas. 

 

 

Outra prioridade maior citada por Seaton é o combate à corrupção e ele lembrou a multa de mais de US$ 1,7 bilhão aplicada a uma multinacional europeia por conta deste problema.  Fluor e outras empresas globais estão estruturando um pacto anticorrupção com práticas de transparência a serem adotadas de forma mandatória.  Seaton diz enfático: “Não estamos fazendo o suficiente contra a corrupção”.

Ele sugere que “as empresas de engenharia participem mais ativamente da discussão das políticas públicas de infraestrutura, ao invés de deixar nas mãos do governo e do congresso, visando promover a implementação de regras estáveis no horizonte de décadas em setores como energia. Na ausência de uma regulação mais sólida, os investimentos privados se retraem, prejudicando modalidades como a PPP, que já poderia ser aplicado em maior escala nos EUA. PPP é o caminho potencial para viabilizar empreendimentos de infraestrutura quando as finanças públicas estão fragilizadas em diversos países.” A China é um exemplo de como aplicar planejamento de médio prazo a favor do desenvolvimento socioeconômico, através de políticas coerentes e estáveis – independentemente do acerto maior ou menor da política em si.

Adotando o tema de “crescimento através de mudanças”, a Fluor tem expandido sua atuação na China e na Austrália, em projetos de infraestrutura, mineração e energia.  Na América Latina, Brasil e Chile representam as prioridades. “Para ter sucesso na China, é crucial que se tenha cadeias de suprimentos com qualidade e preços competitivos, além de saber avaliar os parceiros locais na fase de execução, onde residem os maiores riscos”.

Quanto à execução dos chamados gigaprojetos, não somente pela escala como pela complexidade, que podem demandar uma década ou mais, Seaton afirma que os aspectos críticos passam a ser a logística e a suficiência em mão de obra qualificada — mais do que a engenharia em si.  “A maior parte da tecnologia esta à disposição de todos — o segredo está na sua aplicação”.

 

 

Aquisições se aliam ao crescimento

No painel ainda no auditório principal, que teve como moderador Scott Kolbrenner, diretor gerente do grupo de infraestrutura da Houlihan Lokey, e como participantes Charles Harrington, presidente da Parsons Corp., Hisham Mahmoud, presidente da AMEC, e Michael Renshaw, presidente da Cardno, ficou claro que na expansão de seus negócios as empresas de engenharia globais se valem tanto de aquisições, fusões, como de crescimento orgânico, destacando-se a integração cultural como o desafio maior nas duas primeiras modalidades. 

As quatro empresas enfatizaram a Austrália e Ásia como prioridade para crescimento, tendo a Parsons revelado que tem uma negociação em curso na América Latina.  A Cardno australiana apontou o Peru e o Chile como alvos de interesse.  O Brasil não foi citado em nenhum momento neste painel.

 

Painel da América do Sul teve sala cheia

Como anticlímax do que ocorreu no auditório principal, quando o programa dividiu o público em painéis regionais, a sala onde se realizou o da América Latina ficou lotada.  Tendo como moderador José Ayres de Campos, diretor de infraestrutura e energia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o painel que foi coordenado pela revista O Empreiteiro contou com José Manuel Albaladejo, vice-presidente internacional da Gerens-Hill; João Carlos Mello, presidente da Andrade & Canellas; e Norman Anderson, presidente da consultoria CG/LA Infrastructure.

José Ayres de Campos abriu a sessão lembrando que o Brasil tem uma longa tradição em receber investimentos globais e que a empresa estrangeira precisa abrir uma subsidiária brasileira, formada de acordo com as leis do País, mas seu controle pode ser detido por acionistas de fora.  Ele citou que um relacionamento pessoal confortável ajuda na condução de negócios, e o maior desafio para o investidor global consiste em respeitar os códigos locais e seus valores.
Ayres apontou que mesmo a exigência de 80% de conteúdo nacional pela Petrobras nos seus projetos, não se constitui um obstáculo invencível, porque ainda sobram 20% de conteúdo importado.  Ele lembrou ainda que as empresas privadas em atividades como petróleo, mineração e metalurgia, entretanto, não praticam esse tipo de restrição nos seus empreendimentos.  Para exemplificar as possibilidades do investidor global no País, destacou que o governo somente tem capacidade para atender a 20% das necessidades de investimento em infraestrutura, estimadas em cerca de US$ 500 bilhões/ano.

João Carlos Mello ressaltou, durante sua intervenção, que a demanda de energia elétrica e petróleo no Brasil vai dobrar em 10 anos, quando vai superar a Alemanha e o Canadá nesse índice econômico.  Isso vai exigir investimentos da ordem de US$ 150 bilhões em energia elétrica e US$ 450 bilhões em óleo e gás. Destacando a regulamentação madura nesses dois setores, ele cita como as maiores dificuldades as licenças ambientais, o elevado turnover e a escassez de pessoal técnico, e a logística de construção em regiões remotas — e no caso do petróleo offshore, os obstáculos técnicos formidáveis na perfuração
às profundidades previstas no pré-sal.

José Manuel Albaladejo, do grupo Hill International, considera o Chile como o país com o mercado de engenharia mais competitivo, fruto do modelo de economia aberta adotado décadas antes dos seus vizinhos do continente.  A aprovação de licitações importantes passa por diversos ministérios e segue até o nível presidencial, dando maior transparência ao processo.  Ele acredita que Brasil, Peru e México estão aprimorando os arcabouços regulatórios, agregando sistema de gestão nos projetos — conscientes que esses fatores vão atrair os investidores e empresas globais. 

José Manuel exemplifica algumas dificuldades no mercado brasileiro: escassez de engenheiros experientes, elevando o salário de um profissional com 10 anos de atividades para US$ 150 mil/ano – sobre o qual ainda incide na prática 100% de leis sociais; inflação dos custos de construção a 10% ao ano.

Norman Anderson elege Peru e Colômbia como países com maior potencial de expansão — por causa dos vastos recursos naturais em mineração, óleo e gás, além do Brasil. Um estudo sistemático sobre projetos de infraestrutura na América Latina realizados por sua empresa de consultoria computou apenas 25 projetos de vulto em 2003; este mesmo trabalho elencou mais de 100 projetos em 2011, somando US$ 26 bilhões em energia; US$ 21 bilhões em rodovias; US$ 40 bilhões em óleo e gás; e US$ 39 bilhões em transporte urbano de massa.

Fonte: Padrão


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