Viracopos, em Campinas (SP), com um avião cargueiro de 130 t com pneu estourado tomando conta de sua única pista, virou, este mês, o exemplo mais recente da defasagem a que estão relegados os principais aeroportos brasileiros, tanto do ponto de vista de acanhamento das condições físicas, quanto de carência de equipamentos, sobretudo para operações de emergência. A aeronave, procedente de Miami (EUA), sofreu a avaria e tombou. O problema só foi resolvido após 46 horas de interdição do aeroporto e do cancelamento de 512 voos.
Vejamos, agora, a justificativa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para esse caso, que levou transtornos a cerca de 25 mil passageiros e prejuízos da ordem de R$ 10 milhões para uma das empresas de aviação que opera a partir de Campinas: “… a remoção de uma aeronave com aquele peso médio e ainda com 19 t de combustível em seus tanques, sem as rodas de um dos lados para o suporte da turbina e da asa, faz uma operação dessas revestir-se de muita complexidade”.
Como não havia no aeroporto equipamentos para a remoção, a Centurion Cargo, operadora do avião, alugou-os da TAM. O problema é que eles tiveram de ser buscados a uma distância de 140 km de Campinas, o que aumentou o tempo de paralisação do aeroporto. A demora provocou questionamentos de usuários, que até fizeram uma indagação que tem todo o sentido: a dificuldade não poderia ter sido sanada com agilidade caso a operadora acionasse uma empresa de montagem industrial?
Habituada a fazer complexas operações de montagem de componentes industriais com peso superior ao da aeronave, sobretudo em refinarias de petróleo, utilizando guindastes de capacidade adequada, talvez uma empresa de engenharia daquele segmento tivesse removido o avião da pista em menor prazo e com menor prejuízo para todos.
À margem das especulações suscitadas, o episódio em Viracopos é ilustrativo da defasagem a que se chegou com a falta de investimentos, ou com investimentos de menos, ao longo dos anos, na modernização aeroportuária. Somente sob a pressão de problemas que vêm se acumulando há décadas é que o governo recorreu, recentemente, à iniciativa privada, optando pelas concessões para resolvê-los. E, na esteira dessas providências, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acaba de sair a campo para informar que o governo deverá aprofundar aquelas medidas, reformulando a Infraero e anunciando novas concessões.
Necessário destacar que, nesse caso, não pesa nenhuma responsabilidade sobre a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, que só assumirá completamente a administração do aeroporto no ano que vem. O fato concreto é que aquele terminal, considerado o segundo maior do gênero do País, e que atualmente responde por 18,1% do movimento total de cargas em nossos aeroportos, não pode ficar paralisado durante tanto tempo, só porque um avião, por maior que seja, teve um pneu furado. O episódio constituiu, no mínimo, um fiasco federal.
A defasagem aeroportuária vem de longe e, embora alguns organismos, dentre eles o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tenham há tempos alertado para as consequências que dela adviriam, o fato é que o governo chegou, com muito atraso, com as proclamadas providências modernizadoras. Foi necessário que o Brasil se tornasse o país-sede da Copa para que alguma coisa fosse feita. A nossa expectativa é de que as medidas de modernização prossigam, e até ganhem maior velocidade, depois da Copa, que não pode ser usada apenas como uma vitrine.
Modernizar a infraestrutura é um processo contínuo para que a economia brasileira possa explorar seu potencial de crescimento e manter sua competitividade no mercado global. Não pode depender do humor do governo, nem de eventos esporádicos.
A rotina dos apagões
Um curto-circuito, dia 26 deste mês (outubro) na subestação de Colinas (TO), de responsabilidade da Cemig, deixou às escuras nove estados do Nordeste e parte do Pará e do Tocantins. É a rotina dos apagões, que têm prejudicado parcelas consideráveis da população em todas as regiões brasileiras. Esta quarta ocorrência do gênero, no País, em 35 dias, constitui um alerta para que o governo priorize investimentos em novos empreendimentos energéticos e na manutenção das instalações em operação.
Fonte: Padrão