Volta do Rio Xingu, onde a hidrelétrica se ergue
Décadas depois da experiência de Tucuruí, eis que surge a UHE Belo Monte, também no Pará, projetada para gerar 11.233 MW e que funcionará a fio d’água, reduzindo de forma dramática os reservatórios.
A geração é feita em dois sítios: Belo Monte e Pimental, distantes entre si cerca de 40 km e ligados através de um canal de derivação e um reservatório intermediário.
No sítio Belo Monte é onde está sendo construída a seco a casa de força principal, com 11.000 MW instalados, com fundações em rochas metamórficas (migmatitos) – e não será por ali que o Xingu, afluente da margem direita do rio Amazonas, será desviado. Belo Monte receberá vazões, para geração, a partir de um canal de derivação de 16 km de comprimento, que se configura como a mais engenhosa obra concebida para aquele fim.
A hidrelétrica clássica mesmo é construída no sítio Pimental, 40 km a jusante de Altamira (PA) e próxima do emboque do referido canal. Ela tem tudo o que é inerente a uma hidrelétrica tradicional: desvio do rio, o vertedouro, uma casa de força complementar com turbinas tipo Bulbo, a barragem e as demais estruturas fixas. Vai gerar os 233 MW adicionais.
A escavação de terra e rocha no canal de derivação – como dito anteriormente, a parte mais engenhosa deste conjunto complexo de obras – chega a 126 milhões de m³, volume superior ao das escavações executadas na abertura do Canal do Panamá, que foi da ordem de 95 milhões de m³. Ele tem 210 m de largura na base e cerca de 300 m de largura na superfície. Ao lado dele avançam as obras programadas para a preservação tanto do canal quanto dos igarapés. São diques de contenção,construídos com o reaproveitando o material escavado do canal, associados a estruturas vertentes e galerias em concreto.
Segundo o engenheiro Paulo Reis, gerente geral do Consórcio Projetista UHE Belo Monte, o canal de derivação tem 16 km de extensão e 22 m de profundidade, e foi projetado para uma vazão de 14 mil m³/s. O número é notável, se considerada a vazão do rio em período de cheia – em 2014, foi registrada ali uma vazão de 29 mil m³/s.
Casas recebem ribeirinhos com o represamento do rio
O canal foi concebido originalmente revestido com concreto rolado, uma vez que, com essa técnica, o trabalho avançaria mais rapidamente. Mas os engenheiros concluíram que seria muito difícil aplicar concreto rolado ao longo de traçado tão extenso.
A partir daí e com a contribuição de estudos energéticos e econômicos, decidiu-se revesti-lo com enrocamento compactado, recorrendo-se ao material rochoso disponível das escavações. O enrocamento utilizado teve sua granulometria pormenorizadamente estudada para se conseguir o melhor compromisso entre sua estabilidade ao fluxo e baixa perda de carga. Dadas as exigências para o melhor acabamento do piso de enrocamento, o rolo compactador ali utilizado operava com um sistema a laser para executar a compactação nos limites previstos.
Por causa da necessidade de proteger o canal de derivação das águas das chuvas e, principalmente, das águas dos igarapés que o interceptam, foram projetados nove sistemas de drenagem independentes, cada um com característica própria, em função de sua localização e topografia.
Além dessa cadeia de sistemas que tem em vista o manejo das águas dos igarapés (e falar em igarapé, na região amazônica, invariavelmente é falar de rios caudalosos), o canal dispõe de um sistema de drenagem interna, que é responsável pela condução, tanto das águas pluviais que ele recebe quanto das águas coletadas em algumas bacias não drenadas pelos sistemas referidos.
Dois canais internos, concebidos dentro do canal de derivação, cada um com cerca de 6 m de largura, juntam-se em um só, também interno, com 12 m de largura, para levar as águas, que estejam ali a mais, para jusante. Todos os igarapés e bacias são protegidos de modo a manter a naturalidade do equilíbrio do meio ambiente local.
O reservatório intermediário, entre o canal de derivação e a casa de força principal, é formado por meio da construção de 28 diques na sua vertente direita e três barragens no sítio Belo Monte. Os diques, cujo volume de aterro é de 27 milhões de m³, são em sua maioria verdadeiras barragens, alcançando até 60 m de altura. Para facilitar o processo de enchimento e o próprio curso da água a ser aduzida à casa de força, foram escavados 3 canais de enchimento e 7 canais de transposição das bacias contidas em seu interior.
Fonte: Revista O Empreiteiro