A despeito da polêmica, começam a chegar os primeiros
equipamentos para a construção da hidrelétrica
Um total de 37 máquinas pesadas que irão trabalhar na construção da Hidrelétrica Belo Monte já estão em Altamira, no Pará. Os equipamentos, adquiridos recentemente pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), denominado Norte Energia S.A., chegaram ao cais de Vitória do Xingu, no dia 5 deste mês, após 80 horas de viagem, vindo do porto de Belém. |
Junto com o carregamento também chegaram duas carretas que irão concluir o transporte das máquinas por meio de estradas vicinais até o local da construção dos canteiros de obras. Ao todo, o consórcio construtor irá operar 700 equipamentos do mesmo porte dos que já chegaram à região. Os demais deverão estar até o final do ano no local. Nesse primeiro carregamento chegaram 10 tratores, 7 motoniveladoras, 7 rolos compactadores, 5 pás carregadeiras, 5 escavadeiras e 3 retroescavadeiras.
Após passarem por inspeção técnica, as 37 máquinas pesadas começarão a operar nas frentes de trabalho no sítio Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA). As primeiras ações do Consórcio Construtor estão sendo desenvolvidas neste local, desde o último dia 23 de junho, quando começou a ser feita a supressão vegetal e a terraplenagem que antecedem a instalação do canteiro pioneiro, a cerca de 50 km de Altamira.
As obras de escavação estão previstas para iniciar no mês de julho. Entretanto, essas obras deverão manter um ritmo acelerado a partir do início de 2012, atingindo o pico no ano de 2013. Além das escavações, serão construídos os alojamentos dos trabalhadores nesse primeiro momento. A primeira turbina da usina deverá ficar pronta no começo de 2015. Nesse ano, a hidroelétrica entrará parcialmente em operação comercial. Entretanto, a operação da usina com capacidade total está prevista somente para o início de 2019.
A Usina Hidrelétrica Belo Monte é um investimento de R$ 25,8 bilhões, incluindo as ações socioambientais. Segundo a Norte Energia, a usina terá 24 turbinas, com uma capacidade instalada de 11.233,1 megawatts e que produzirá 4.570 megawatts de energia firme. De acordo ainda com a Norte Energia, as ações para a redução dos impactos socioambientais, causados pela inundação de 502,8 quilômetros quadrados, consumirão R$ 3,7 bilhões, sendo R$ 3,2 bilhões para condicionantes socioambientais e mais R$ 500 milhões para o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS Xingu).
Os engenheiros João Pimentel, diretor de Relações Institucionais da Norte Energia, e Luiz Rufato, diretor de Engenharia e Construção da Norte Energia, contestam afirmações que tem sido feitas por ambientalistas e setores contrários à hidrelétrica de Belo Monte.
Segundo João Pimentel, até o momento, existem 19 termos de cooperação assinados com as cinco prefeituras dos municípios localizados na área de influência direta da UHE Belo Monte, totalizando 106 obras, principalmente nas áreas de Saúde e Educação. Entre essas obras estão ainda projetos de saneamento básico completo em Vitória do Xingu e em Altamira. “Outros seis municípios, da área de influência indireta, também irão receber investimentos em melhorias socioambientais. Os recursos serão aplicados por meio do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS Xingu), iniciativa compartilhada entre o Governo Federal, Governo do Estado do Pará e a Norte Energia”, ressalta Pimentel, acrescentando que a empresa investirá um total de R$ 500 milhões e outros R$ 2,5 bilhões virão da União e do Estado do Pará.
Dentre as ações socioambientais que serão executadas na região, Pimentel também destaca a construção e reforma de escolas e unidades de saúde, apoio à área de Segurança Pública e ao sistema de tráfego de veículos, e a participação em ações na área de saúde pública, como o recente Programa de Ação para o Controle da Malária e outras endemias. Para o último, a Norte Energia destinou R$ 37 milhões, sendo que já adquiriu e doou às prefeituras veículos e equipamentos no valor de cerca de R$ 3 milhões. “Há ainda outras medidas, como a instalação de balcões de atendimento para cadastrar e direcionar os interessados em atuar nas obras da UHE Belo Monte e proporcionar o necessário treinamento e capacitação em conjunto com o Consórcio Construtor Belo Monte”, acrescenta.
Pimentel também faz questão de destacar que muitas dessas obras não serão realizadas pontualmente ou em curto prazo. Um exemplo é o já citado Programa de Ação para Controle da Malária, lançado em 1º de julho deste ano. “O Programa será desenvolvido pela Norte Energia ao longo de seis anos. Além da entrega de equipamentos e da contratação de profissionais, iremos fornecer insumos para a execução das operações de campo e nos responsabilizar pelo custo dos profissionais contratados”, afirma. Outro exemplo, segundo o engenheiro, é a execução do projeto de saneamento básico que demanda um prazo extenso.
A afirmativa de que o custo por megawatts de Belo Monte é um dos mais elevados entre as hidrelétricas brasileiras não procede, segundo Pimentel. “O custo por megawatts da UHE Belo Monte é compatível com os das novas hidrelétricas de porte similar (Jirau e Santo Antonio). Além disso, cabe esclarecer que pelo sistema de leilão, hoje em vigor, o empreendedor, ao fazer sua oferta, já tem de saber quais serão os valores máximos de cada item do empreendimento, inclusive o das ações socioambientais, da chamada ‘conta 10’. Ao fazer sua oferta, estes valores têm de ficar compatíveis com o preço do megawatts que vai ofertar no leilão”, diz o engenheiro.
Luiz Rufato acrescenta que a obra está, atualmente, em fase de implantação dos canteiros de obras e das vilas residenciais. O início efetivo desses trabalhos aconteceu no final de junho deste ano. Ao longo do segundo semestre, as atividades devem se concentrar nessas obras.
Rufato explica que, ao longo do segundo semestre deste ano, estão previstas as seguintes obras: canteiros pioneiros; acessos (plano viário da UHE Belo Monte); porto provisório em Vitória do Xingu; canteiros e acampamentos definitivos; vilas residenciais em Altamira e Vitória do Xingu; abertura de pedreira e início do desvio do rio com ensecadeiras de 1ª fase,
no sítio Pimental; obras iniciais no Canal de Derivação para permitir o avanço no período chuvoso subsequente; e obras de escavação de fundação no sítio Belo Monte para as estruturas de concreto.
O Consórcio Construtor Belo Monte é liderado pela Andrade Gutierrez e é composto ainda pelas empresas Vale, Neoenergia, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), além das estatais Furnas e Eletrosul.
JIRAU E SANTO ANTÔNIO
Após conflitos com trabalhadores em seus canteiros de obras, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no Estado de Rondônia, estão com suas obras sendo tocadas a todo vapor. No dia 5 deste mês, a presidente Dilma Rousseff participou da cerimônia que deu início ao processo de desvio do Rio Madeira, em Rondônia, uma das etapas da construção da usina de Santo Antônio. Durante o evento, ela defendeu a retomada dos investimentos para construção de hidrelétricas no País.
Para a presidente, a construção da usina de Santo Antônio e da usina de Jirau que forma o complexo hidrelétrico do Rio Madeira, pode ser considerada como um marco na retomada dos investimentos em grandes projetos de geração de energia a partir de fontes hídricas.
A usina de Santo Antônio terá capacidade instalada para gerar até 3.150 megawatts. A empresa responsável pela hidrelétrica negocia com o governo a possibilidade de ampliar o número de turbinas no empreendimento. Os sócios da hidrelétrica de Jirau também querem aumentar a potência da usina. Se as propostas forem aprovadas pelo ministério de Minas e Energia, os dois empreendimentos poderão garantir um volume extra de energia de aproximadamente 400 megawatts médios.
Há cerca de 22 mil trabalhadores na usina de Jirau, cujas obras são de responsabilidade da Camargo Corrêa, e 18 mil na usina de Santo Antônio – sob a responsabilidade da Odebrecht.
Estado poderá ser dividido
O Pará, o segundo maior produtor mineral do país, está em vias de decidir pela subdivisão do seu território, criando (ou não) dois novos estados: Carajás (área do Sul e Sudeste do Pará) e Tapajós (região Oeste). No início do mês de julho, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu pela realização de um plebiscito, que será no dia 11 de dezembro. Para garantir o debate de posições favoráveis e contrárias, a partir do dia 13 de setembro as campanhas de prós e contras estarão liberadas. No rádio e na TV, as campanhas começarão em novembro, em transmissões em todo o Estado.
Fonte: Estadão