A pandemia no Brasil gerou inúmeros impactos para o setor de construção civil no último ano, com a paralisação de obras e atrasos nas entregas, além de desordenar todo o planejamento de algumas construtoras.
A queda na economia chegou a aproximadamente 2,4%, conforme dados do IBGE. Mesmo antes da pandemia, alguns destes problemas já ocorriam no mercado, em escalas diferentes, por falta de um gerenciamento adequado de uso de materiais, de equipes e outros detalhes operacionais que passavam desapercebidos por conta de um controle analógico falho, além do uso de recursos obsoletos ou, até mesmo, pela falta de profissionais capacitados.
Estas lacunas de operação, seja em projetos para o meio privado ou público, tornaram-se cruciais na avaliação das companhias em processos de concorrência. Até então, em função de particularidades e da ausência de uma legislação ou regra que garanta um padrão de qualidade no mercado, esse era um ponto de grande atenção. No entanto, a partir de 2021, isso deve mudar. Com o Decreto nº 10.306, que entrou em vigor no último mês de janeiro, obras públicas de arquitetura e engenharia no Brasil devem contar com a tecnologia BIM (em inglês Building Information Modelling, ou Modelagem da Informação da Construção), por exigência do Governo Federal.
Focada em projetos de arquitetura e de engenharia para construções novas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do BIM, a proposta é utilizar a tecnologia nas disciplinas de estrutura, hidráulica, AVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) e elétrica, para que sejam eficazes a detecção de interferências e a revisão dos modelos de arquitetura e de engenharia. Além disso, o BIM permite a extração de estatísticas e auxilia na geração de documentação gráfica, a partir destes modelos.
Com essa obrigatoriedade, o setor de engenharia como um todo dá um passo rumo ao futuro e à transformação digital, incentivando um incremento de investimento das companhias em inovação e ferramentas digitais. Assim como o BIM, existem inúmeras soluções que podem gerar maior eficiência e qualidade nas entregas dos projetos, beneficiando toda a estrutura da companhia.
Apesar de sua importância, apenas quatro em cada dez companhias investem na transformação digital e somente 9,2% das empresas do setor implementaram o BIM em sua rotina de trabalho, de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o exercício de 2018.
Alguns estudos apontam a importância desta transformação digital para o setor, visto atualmente como um dos mais atrasados em aspectos tecnológicos, mesmo sendo um mercado em constante expansão. O uso de IoT e BigData pode ajudar a impulsionar o setor a um novo patamar de desenvolvimento de projetos, assim como já acontece com o BIM.
Com tantos novos investimentos em inovação, tanto novos profissionais como os mais experientes serão impactados, já que o mercado passa para um novo grau de exigência e qualificação. Novas grades curriculares mais adequadas ao mundo digital se fazem necessárias, e as companhias também precisam capacitar seus colaboradores no manuseio dos novos equipamentos.
A engenharia passa a se conectar com outras frentes em serviços de análise de negócios, por exemplo. Será possível monitorar um projeto em tempo real em todas as suas camadas, gerar e compartilhar dados para projetos semelhantes e, até, evitar retrabalhos futuros, garantindo maior otimização de tempo e custos.
Para nós, esse movimento se torna natural. Na Engemon, investimentos em ferramentas e recursos, com o apoio de um time especializado e focado na transformação digital, já são rotina. Com aplicações como o BIM em todas as etapas das obras, poderemos reduzir os custos totais de projetos em 9,7% e os custos com insumos em até 20%.
Naturalmente, isso vai gerar diferentes índices de economia em cada uma das etapas, ampliando a competitividade das empresas que contemplam o uso desta tecnologia. Esse movimento já seria essencial no mercado privado, mas, quando adotado no setor público, será capaz de amplificar pilares como transparência, eficiência e publicidade.
*Sonia Keiko, vice-presidente de Novos Negócios da Engemon e Head de Inovação