Brasil, a potência dos ventos

Brasil, a potência dos ventos

O Brasil ocupa o sexto lugar no ranking mundial da produção de energia eólica, segundo a Global Wind Energy Report, publicação do Global Wind Energy Council (GWEC) – Conselho Global de Energia Eólica. Com 27,4 GW de capacidade instalada, a energia eólica já representa quase 14% da matriz elétrica brasileira e tem crescido exponencialmente nos últimos dez anos, devendo permanecer assim por algum tempo, segundo especialistas do setor. “A expectativa é que a energia eólica permaneça crescendo 4 GW por ano”, revela Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). “Considerando a chegada da eólica offshore e a necessidade global de diversificar a matriz energética e investir em uma economia de baixo carbono, esse crescimento deve se manter por muitos anos”, frisa.

 Um dos fatores para o sucesso desse tipo de fonte de energia se deve ao fato de o Brasil possuir ventos propícios para geração energética. “Para produzir energia eólica, são necessários bons ventos – estáveis, com a intensidade certa e sem mudanças bruscas de velocidade ou de direção.

O Brasil tem a sorte de ter uma quantidade enorme desse tipo de vento, o que explica em grande medida o sucesso da eólica no País nos últimos anos”, destaca Gannoum. De acordo com especialistas, os ventos em terra no Brasil são iguais aos que no continente europeu – que lidera há décadas os investimentos em energia eólica – só se encontram nos oceanos (em alto mar sempre venta muito mais do que em terra firme): constantes, unidirecionais e com pouca turbulência. “As características dos bons ventos brasileiros resultam em um fator de capacidade que é praticamente o dobro da média mundial.

Essa força dos ventos brasileiros significa alta produtividade e, com cada vez mais parques eólicos operando, a eólica vem batendo recordes atrás de recordes, especialmente durante a ‘safra dos ventos’, período que vai de junho até o final do ano”, salienta a presidente da Abeeólica.

Essa é uma vantagem adicional, pois esse período coincide com o inverno, que é a estação mais seca do ano, tornando a geração eólica complementar à hidroeletricidade na matriz brasileira, reduzindo a necessidade do uso de termelétricas, que utilizam combustíveis fósseis. Vale observar que o maior benefício da energia eólica é justamente ser uma fonte renovável, inesgotável e que não emite poluentes na atmosfera durante o seu processo de produção.

O sucesso da eólica no Brasil também pode ser explicado, segundo Gannoum, pelo rápido desenvolvimento de uma cadeia produtiva local e eficiente, que começou com índice de nacionalização próximo de 60% e já alcançou 80%, incluindo a produção de aerogeradores. “O Brasil tem, hoje, fabricantes de turbinas, de pás e torres eólicas, além de centenas de empresas que trabalham em outros componentes, bem como com transporte, consultorias diversas, planejamento, obras etc”, assinala a executiva, destacando que o País tem total condições de fornecer todos os elementos de um parque eólico.

No Brasil, o Nordeste é a região mais abundante em ventos de qualidade e vem se aproveitando dessa característica natural. A região concentra 80% dos projetos eólicos brasileiros. “O País possui regiões com algumas das melhores condições de geração eólica do mundo, incluindo muitas áreas do Nordeste com ventos mais constantes, com velocidade estável e que não mudam de direção com frequência”, afirma Bruno Riga, responsável pela Enel Green Power (EGP), braço de geração renovável da Enel Brasil.

 A companhia tem capacidade total instalada renovável no País de cerca de 5 GW, dos quais mais de 2,5 GW são de fonte eólica. De acordo com Riga, a eficiência na qualidade da geração de energia eólica no País pode ser medida pelo fator de capacidade, um indicador que define o volume de energia que uma usina gera efetivamente em relação ao máximo que ela poderia gerar. “O Brasil é um dos países com o maior fator de capacidade do mundo. Dados do International Renewable Energy Agency mostram que o fator de capacidade médio alcançado pelas eólicas no Brasil, em 2021, foi de 52%, enquanto o mesmo índice mundial é de 39%”, revela. Está no Piauí o maior complexo eólico da EGP no mundo – e o maior da América Latina –, Lagoa dos Ventos, localizado nos municípios de Lagoa do Barro do Piauí, Queimada Nova e Dom Inocêncio, com capacidade instalada de 1.100 MW. Em outubro do ano passado, a companhia iniciou a ampliação do parque eólico piauiense, com a construção do Lagoa dos Ventos V, de 399 MW de capacidade.

 A EGP está investindo cerca R$ 2,5 bilhões nas obras dessa planta, no município de Dom Inocêncio, que será composta por 70 aerogeradores. A expansão está a cargo do Consórcio Elastri Cesbe, sendo que as obras civis estão sob a responsabilidade da Construtora A.Gaspar e Iberobras; a rede MT, pela TS Infra e STN; a subestação elevadora e bay de interconexão, via Siemens e Enind; e a linha de transmissão é compartilhada com Lagoa dos Ventos III. Já Nordex Acciona é responsável pela entrega e montagem de WTG. As torres de concreto são produzidas a 30 quilômetros do parque, na fábrica da Nordex. Cada torre é composta por 25 dovelas de concreto. Cada uma delas é transportada individualmente até a plataforma. Uma vez na plataforma ela é montada diretamente para conformar as seções da torre.

Com a expansão do Lagoa dos Ventos, a capacidade instalada total do complexo atingirá mais de 1,5 GW, com 372 aerogeradores capazes de gerar mais de 6,7 TWh por ano e, segundo a empresa, evitar a emissão de mais de 3,6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera a cada ano. O Lagoa dos Ventos V utiliza aerogeradores N163 (5,7 MW) do fabricante Nordex Acciona, com torres em concreto e altura 120 m.

A empresa investe também no parque eólico Aroeira, que está localizado nos municípios baianos de Umburanas, Morro do Chapéu e Ourolândia. São mais R$ 2,5 bilhões de aportes nesse projeto, que tem capacidade instalada de 348 MW. Ele contará com aerogeradores V150 (4,3 MW) do fabricante Vestas, terá torres de aço e altura 90 m.

 A obra civil está sendo feita pela Construtora A.Gaspar e Iberobras; Elecnor responde pela rede MT, a subestação elevadora e bay de interconexão estão com a TS e a linha de transmissão com a Railec. A entrega e montagem de WTG será feita pela Vestas. Segundo a EGP, a montagem de um parque eólico leva, em média, 24 meses, variando a depender do tamanho do empreendimento e de particularidades na execução.

 Também a Engie Brasil Energia está investindo firme na ampliação do seu parque eólico. Atualmente, o maior conjunto eólico da empresa em operação integral é Campo Largo 2 (361 MW), localizado nos municípios de Umburanas e Sento Sé, na Bahia. A capacidade instalada da planta está dividida entre 86 aerogeradores de 4,2 MW (Vestas V150), distribuídos em 11 parques eólicos. Para se ter ideia da sua dimensão, o diâmetro dos rotores dos aerogeradores é de 150 m, suas torres têm 120 m de altura e as pás, 72,5 m de comprimento.

Já em operação comercial parcial, o conjunto eólico Santo Agostinho terá, quando completo, de 434 MW de capacidade. Localizado nos municípios de Lajes e Pedro Avelino, no Rio Grande do Norte, ele contará com 70 aerogeradores Siemens Gamesa, com potência de 6,2 MW e 170 m de diâmetro.

 Está em implantação, ainda, em Gentio do Ouro, na Bahia, o conjunto eólico Serra do Assuruá, composto por 24 parques eólicos a serem implantados em fase única, com capacidade instalada prevista de 846 MW – será o maior conjunto da companhia quando estiver concluído. Ele conta com aerogeradores Vestas V150 de 4,5 MW. Com esse projeto, a empresa terá cerca de 150 km de acessos internos e cerca de 220 km de rede de média tensão. “A Engie segue atenta às oportunidades para expandir seu portfólio.

 Além de Santo Agostinho e Serra do Assuruá, conjuntos em implantação, a companhia possui projetos em desenvolvimento que visam ampliar os atuais parques com a possibilidade de adicionar 779 MW ao portfólio”, conclui a empresa, em nota.

Complexo eólico

Oitis A Neoenergia concluiu neste ano a construção do complexo eólico Oitis, localizado na Região Nordeste. O valor total investido foi de R$ 2,6 bilhões. Participaram das obras a empresa de engenharia Esteyco Brasil, a construtora Dois A Engenharia, para a obra civil, a Caramuru Construções, para subestação, a linha de transmissão, Elecnor do Brasil e a engenharia do proprietário ficou a cargo da Novo Serviços de Engenharia. Oitis é o maior empreendimento da companhia nessa área no País, com 12 parques – dez no Piauí, no município de Dom Inocêncio, e dois na Bahia, em Casa Nova.

Somados, a dúzia de parques tem 566,5 MW de potência instalada, o suficiente para abastecer uma cidade com 2,7 milhões de habitantes. É composto por 103 aerogeradores (da GE) que já foram comissionados. Os transformadores da subestação são da WEG e os cubículos são Schneider. As torres de transmissão são Brafer e os disjuntores, TC e TP são da GE.

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