Empresas buscam oportunidade,mas o mercado ainda carece de demanda
Augusto Diniz
Apesar de ser conhecido no mundo como o País do sol e do calor, a energia solar é ainda pouquíssimo explorada no Brasil. No entanto, esse quadro acena para mudanças com o crescimento econômico, a necessidade de mais eletricidade para atender o aumento de demanda e o desenvolvimento da energia renovável nos últimos tempos.
Uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), publicada este ano, definiu as regras para o consumidor que quiser gerar sua própria eletricidade, de fontes alternativas, com minigeradores, em até 1 MW. A iniciativa é considerada o marco zero da energia solar no Brasil, já que ela poderá ser a mais beneficiada com o modelo.
Máximo Luiz Pompermeyer, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da Aneel, explica que a medida “faz parte do esforço para reduzir barreiras regulatórias para uso de energia alternativa na matriz energética do País”.
Em outra vertente, a Aneel realizou um programa de incentivo para estimular o desenvolvimento e a pesquisa da fonte energética no Brasil. A iniciativa culminou com a aprovação de 18 projetos de energia fotovoltaica de agentes públicos e privados, no valor de R$ 410 milhões, representando 25 MW de capacidade total instalada. A CPFL será a primeira empresa a colocar em operação seu projeto, com início previsto para novembro.
No entanto, agentes privados que operam no mercado de energia solar reclamam do fato de a fonte energética não participar do modelo brasileiro de comercialização de energia futura, baseada em leilões regulares promovidos pelo governo federal.
Leônidas Andrade, diretor do Grupo Setorial de Sistemas Fotovoltaicos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), criado ano passado, explica que é preciso gerar demanda de energia solar para o incremento do segmento. O executivo ressalta que isso representaria o desenvolvimento da cadeia produtiva da fonte energética.
Ele diz ainda que é preciso desonerar o setor, pois os custos ainda são altos na implantação do sistema. “A curva de aprendizagem da energia solar precisa ser desenvolvida, embora o governo não a coloque como prioridade. Pensamos que isso precisa ser feito já para ganharmos competitividade”, afirma.
Importação de tecnologia
O mercado local incipiente e sem domínio total da tecnologia faz com que empresas estrangeiras se interessem pelo mercado brasileiro.
Ricardo Herbst, diretor internacional de desenvolvimento de negócios da alemã Sybac, uma das grandes empresas do setor, com atuação como desenvolvedora, investidora e trabalho em regime de EPC, está prospectando o mercado brasileiro. “O Brasil tem potencial muito grande. O mercado alemão está saturado”, afirma. A Alemanha é de longe o país que possui mais capacidade instalada da fonte: 25 mil MW.
O representante da Sybac está no Brasil em busca de parceiros. Aliás, parceria é considerada peça-chave para as empresas internacionais que querem fornecer engenharia, tecnologia, equipamentos fotovoltaicos a instaladores, e montagem no País, já que o estabelecimento em território nacional ainda sem garantia de demanda é considerado de alto risco pela própria Abinee.
“A energia solar é vantajosa quando fornecida próxima ao consumidor, reduzindo custos de implantação”, ensina Miguel Ornelas, gerente da Asumim, empresa portuguesa distribuidora internacional de sistema solares fotovoltaicos, integrador de engenharia e projeto, que já desenvolve trabalhos no Nordeste do Brasil. De acordo com ele, a principal questão da fonte é a análise técnica do projeto para melhor aproveitamento da energia solar. “Isso importa mais do que logística”, avalia.
As oportunidades no segmento fizeram com que o Brasil fosse sede em outubro, pela primeira vez, de evento de energia solar organizado pela Green Power, organização global voltada a energia renovável.
Os níveis de insolação do Brasil são mais do que o dobro da Europa. As áreas competitivas para implementação de parques solares estão no Nordeste e no Centro-Oeste do País.
Pouca capacidade instaladaO último Plano Decenal de Energia, divulgado no final do ano passado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, aponta que a capacidade instalada de energia solar no Brasil é de 1 MW, de um total de 115.162 MW existentes – no Brasil, 67% da energia gerada provém de hidrelétricas.
A Usina Solar de Tauá, no Ceará, pertencente à MPX, do grupo EBX, é a principal responsável por este resultado apontado pelo estudo da EPE. Parte expressiva da energia solar no Brasil é gerada por sistemas isolados (off grid), não ligada à rede elétrica e, portanto, não considerados no Plano Decenal de Energia. Eles representam 30 MW – o programa governamental “Luz para Todos”, que visa dar acesso à energia elétrica para as áreas rurais remotas do País, é o maior indutor dos sistemas isolados.
A energia eólica é constantemente comparada à energia solar no seu estabelecimento no Brasil. A fonte que gera energia a partir dos ventos enfrentou várias dificuldades para se estabelecer no Brasil, apesar de o País possuir notável capacidade de utilizar a fonte energética em seus oito mil km de litoral. Como a energia solar, a energia eólica sofria com a falta de desenvolvimento há poucos anos e, atualmente, há várias indústrias de equipamentos instaladas e o segmento já participa dos leilões futuros de energia no País. Até 2021, de acordo com Plano Decenal de Energia da EPE, a energia eólica deverá representar 9% de toda geração de energia nacional.
Fonte: Padrão