A Federação Internacional de Futebol (Fifa) deverá confirmar oficialmente o Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol, a se realizar em 2014. Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tem afirmado, pela imprensa, que a Fifa já decidiu que o maior evento do futebol mundial será mesmo realizado na América do Sul e que os países sul-americanos, de acordo com a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), também já concordaram com a escolha do Brasil. Embora candidato único, o Brasil terá de atender a uma lista enorme de exigências para sediar o evento. Elas vão da garantia de segurança até a construção e reforma de estádios, passando por hospedagem, serviços médicos, logística, condições meteorológicas, proteção ao meio ambiente, condições naturais e patrimônio histórico. Entre as capitais estaduais mais cogitadas para o evento estão Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza e Goiânia. Além dessas, outras capitais e cidades do interior, principalmente de São Paulo, também são candidatas.
INVESTIMENTOS
A Copa atrai as atenções de todo o mundo. Além do interesse futebolístico pelo campeonato, propriamente dito, muitas empresas e organizações também vêem no evento uma excelente oportunidade para investimentos e desenvolvimento de novos negócios. Recentemente, foi noticiado que investidores europeus, certos da escolha do Brasil para a sede dos jogos de 2014, já manifestaram o desejo de aplicar R$ 3,1 bilhões, provenientes de fundos de pensão, no mercado imobiliário nacional, com destaque para a construção de conjuntos esportivos, hoteleiros e de lazer, que contribuam para complementar a estrutura necessária para a realização da Copa do Mundo de Futebol.
OS ESTÁDIOS
Quase nenhum estádio brasileiro atende por completo às exigências da Fifa. Por isso, será necessário realizar vultosos investimentos, para reformar e adequar as praças esportivas já existentes e para construir novos estádios. O arquiteto Eduardo de Castro Mello, do escritório Castro Mello – Arquitetura Esportiva, afirma que os estádios brasileiros são muito velhos e sempre procuraram contemplar atletismo e futebol num mesmo espaço. Além disso, ultimamente, também são utilizados para shows, festas, encontros religiosos, etc. São atividades incompatíveis para serem desenvolvidas no mesmo local, mesmo que não sejam concomitantes, segundo Eduardo, atual responsável pelo escritório que foi iniciado pelo seu pai, Ícaro de Castro Mello (atleta olímpico medalhista e arquiteto, morto em 1986), e que já projetou inúmeras obras esportivas, entre as quais os ginásios do Ibirapuera, de Recife, de Fortaleza, de Teresina e de Juazeiro do Norte e os estádios de Brasília (“Mané Garrincha”), “Brinco de Ouro da Princesa” (do Guarani, em Campinas) e outros menores como os de Jaú, Rio Claro e São Roque. Para 2014, o escritório Castro Mello – que também é dirigido pelo arquiteto Vicente, filho de Eduardo – foi convidado para projetar quatro estádios novos – Campinas (50 mil lugares), Jundiaí (45 mil), Guarulhos (77 mil) e Maceió (40 mil) – e para reformar o Mané Garrincha de Brasília (50 mil), cujo projeto inicial já era do escritório.
EXIGÊNCIAS
No caso da Copa do Mundo, de acordo com as exigências da Fifa, a preferência é por estádios sem pista de atletismo. São os chamados estádios-arena, que colocam as arquibancadas a até seis metros do campo de jogo. Diferentemente dos estádios olímpicos que, por serem dotados de pista, mantêm a torcida a uma distância mínima de 15 ou 20 metros. Para Eduardo de Castro Mello, a parte considerada mais complicada das normas da Fifa é a exigência de cobertura de toda a área da arquibancada: “Isso representa a introdução de uma estrutura dispendiosa, adicionando um peso muito grande no custo final da obra. No caso dos estádios já construídos, a cobertura ainda tem de se adaptar às condições do que já existe na edificação”. Entre as candidaturas já declaradas, estádios como Mineirão, Mané Garrincha e Beira Rio ainda têm potencial para serem adaptados para o evento mundial. Já o Morumbi, em São Paulo, e o Maracanã, no Rio, dificilmente conseguiriam satisfazer aos requisitos da Fifa. “O Morumbi tem um aspecto negativo que é o fato de estar confinado dentro das ruas circundantes. Ele precisaria ter, no mínimo, uma faixa livre de entorno de uns 15m de largura, para a circulação de torcedores. Hoje, o público sai pelas rampas do estádio e vai direto para a rua, interrompendo o tráfego de veículos e provocando muito transtorno para o bairro”, explica o arquiteto. Segundo ele, não há condição de criar essa área de circulação e muito menos de construir o estacionamento exigido pelas normas da Fifa. Para um estádio com capacidade de 60 mil lugares, por exemplo, prevê-se um estacionamento para 10 mil veículos, o que demandaria uma área de cerca de 250 mil metros quadrados. A outra questão, no caso do Morumbi, é a dificuldade de se realizar a cobertura de toda a arquibancada do estádio, conforme exigem os organizadores da Copa: “A arquibancada superior já está praticamente sobre a rua, impossibilitando a implantação de apoios para sustentar a cobertura, sem diminuir a capacidade do estádio”. O presidente do São Paulo Futebol Clube, Juvenal Juvêncio, por sua vez, tem dito que aposta na possibilidade de que o Estádio do Morumbi poderá atender a todas as exigências da Fifa. Até 2014, segundo ele, o complexo esportivo são-paulino passará por mudanças internas e externas e, até lá, ele espera contar com o término de obras públicas importantes, como a construção da Linha Amarela do metrô, que terá uma estação próxima ao Morumbi, e do novo trecho do Rodoanel. No Maracanã, os problemas são semelhantes ao do Morumbi. O estádio também está incrustado no bairro e não tem espaço nem para a criação de áreas de circulação, nem para estacionamentos. Um aspecto importantíssimo, de acordo com a Fifa, são as facilidades de acesso aos locais de jogo. A Fifa não quer que os estádios sejam um problema para a cidade, depois da Copa. Outras exigências dizem mais respeito à distribuição interna dos espaços, aos estacionamentos externos (para o público em geral) e internos (para as autoridades, pessoas ligadas ao evento e imprensa). Quanto a público, a Fifa exige que, para a final, o estádio tenha capacidade para 77 mil lugares, das quais 70 mil para torcedores e 7 mil para autoridades, imprensa, patrocinadores, etc. Nos outros jogos, a exigê
;ncia é de 42 mil lugares, sendo 40 mil especificamente para o público. A Fifa também prescreve a necessidade de salas de apoio para uso de seus profissionais durante os eventos. Os vestiários têm de obedecer a características de conforto e de dimensões mínimas exigidas. E os ônibus dos times devem ter acesso ao interior do estádio, com estacionamento previsto próximo aos vestiários.
ETAPAS
Estudos preliminares para os projetos dos estádios já foram preparados e visam mostrar para a Fifa a viabilidade de realização das obras. Eles serão incluídos num extenso documento que apresentará todas as informações necessárias para a escolha das cidades e dos estádios. Uma vez escolhido o Brasil e definidos os locais para os jogos, o País terá até 2011 para concluir todas as obras previstas e necessárias para a realização da Copa do Mundo de 2014. Antes da Copa, será realizado um torneio internacional para testar os estádios, as vias de acesso, os sistemas de transporte, etc.
Fonte: Estadão