Paulistanos propõem que o prefeito desça do palanque político e ataque os problemas que têm comprometido, há décadas, o funcionamento da cidade
Sr. Prefeito,
A prioridade maior é resgatar a metrópole para os seus cidadãos. Atacar os problemas que ao longo das diversas administrações vêm se acumulando, sem que jamais sejam resolvidos. Isso exige uma mudança na postura tradicional de quem assume a prefeitura. Sobretudo, requer deixar de lado o acessório, que provoca a satisfação dos áulicos, para enfrentar em campo aberto o que é essencial para o dia a dia dos cidadãos.
Administrar é uma arte difícil. Que o digam alguns de seus antecessores: Prestes Maia, que abriu os caminhos para ajustar, em sua época, o avanço da urbanização; Faria Lima, que se empenhou para dotar a cidade, embora com atraso de décadas, de seu meio mais adequado de transporte de massa: o metrô; Figueiredo Ferraz, que passou a ver São Paulo como uma cidade que já não poderia continuar a crescer no ritmo de seu tempo; e Olavo Setúbal, que buscou a melhoria da organização espacial e o resgate estético de alguns dos espaços públicos que mais visivelmente identificavam a face da metrópole.
Contudo, na passagem desses administradores mais antigos e na passagem dos administradores mais recentes, os problemas que tornavam mais aguda a angústia paulistana não foram enfrentados com os investimentos programados e na dimensão necessária. Hoje, cabe ao Sr. a oportunidade desse resgate histórico para a recolocação da cidade no patamar da organização administrativa que tradicionalmente ela tem reclamado.
Vamos a alguns dos pontos que, cidadão paulistano antigo, entendo como essenciais. Comecemos pelo drama das enchentes. Historicamente a população – e a administração da prefeitura e das subprefeituras – sabem quais são os locais clássicos da ocorrência de alagamentos, todos os anos e em todas as oportunidades das precipitações das chuvas de verão.
São problemas que a engenharia, mobilizada, já teria solucionado há muito tempo. Contudo, o que se verifica, década após década, é aquela velha prática sintetizada na frase popular: “Vamos deixar como está para ver como é que fica”. E, nessa toada, problemas de alagamento e de tragédias em áreas de risco, que poderiam ser identificados e resolvidos via mapeamento do subsolo e execução de planos de drenagem subterrânea, vão sendo transferidos para as administrações posteriores e assim sucessivamente. Reportagem recente, do jornal O Estado de São Paulo, corrobora o que se sabe: de 12 locais que tradicionalmente sofriam com as enchentes, há mais de duas décadas, 11 ficaram alagados na segunda semana de fevereiro. A administração Marta Suplicy deixou pronto um diagnóstico da rede de drenagem, que foi ignorado pelas gestões posteriores.
Ao lado do velho problema das enchentes, que requer da atual administração a maior prioridade, há outro, para nós, inconcebível. Embora haja diversas tecnologias avançadas e disponíveis para a instalação e funcionamento seguro de semáforos, os que estão em operação na capital paulista entram em processo de apagão à menor ameaça de chuvas, o que contribui para difundir o pânico e a insegurança pela cidade toda.
Mas resolver o problema das enchentes e dos semáforos não é tudo. Todas as grandes metrópoles do mundo, a exemplo de Nova York e da Cidade do México, dentre outras, dependem basicamente de metrô e trens para a circulação dos enormes contingentes de usuários, todos os dias. Conquanto, reconhecidamente, o quilômetro construído do metrô, no Brasil, seja considerado o mais caro do mundo, nem por isso deve-se deixar de lutar em favor desse sistema de transporte e contra os fatores que o encarecem. A população merece o sacrifício dessa luta e já compreende que a presença da iniciativa privada como concessionária na construção de metrôs e de linhas de trens urbanos será o caminho mais acertado para viabilizá-los.
Vamos relacionar, ainda, outras prioridades que a sua administração precisa atacar:
Rigor na aplicação dos recursos orçamentários para que, definida a destinação do dinheiro do povo, ele jamais seja desviado para outros fins.
Acabar de vez com o problema da escuridão absoluta em inúmeros bairros periféricos e, às vezes, centrais, o que tem estimulado a ação de bandidos e vândalos; basta instalar iluminação pública.
Incrementar gestões ao lado do governo do estado e até da União para erradicar a violência urbana. Há vários exemplos no mundo de como fazer isso, nos limites da razão e da legalidade, a exemplo da cidade de Nova York.
Enfim, prefeito Fernando Haddad, são essas algumas ponderações que deixamos à disposição de sua administração, com os votos de que o Sr. cumpra as prioridades proclamadas e não incida no equívoco de administrações anteriores, que tudo prometeram e tudo deixaram de fazer.
Joseph Young
Diretor editorial da revista O Empreiteiro
Fonte: Revista O Empreiteiro