Com a demanda crescente por fontes de energia mais limpa, a companhia sucroenergética Cocal vai investir R$ 216 milhões na construção de uma nova planta de biogás. A unidade ficará em Paraguaçu Paulista (SP) e será 100% focada na produção de biometano. O projeto é feito em parceria com a Geo Biogás & Tech. O biometano nada mais é do que o biogás purificado, produzido à base de resíduos da cana-de-açúcar, chamados vinhaça e torta de filtro. A empresa também trabalha com estudos para a eventual utilização de dejetos e outros resíduos urbanos como matéria-prima.
No mercado, o biometano pode substituir produtos fósseis como o gás natural e o diesel. “A expectativa é tornar a planta operacional até abril de 2025, com a capacidade de produção de até 60 mil m3 por dia de biometano durante a safra”, diz Andre Gustavo Silva, diretor Comercial e de Novos Produtos da Cocal.
A companhia já tem uma unidade de biogás em Narandiba (SP), onde 50% da produção é dedicada ao biometano e o restante destinado a geração de energia elétrica. “O objetivo maior do nosso projeto de biogás é melhorar a destinação dos subprodutos, mas a demanda nos levou a mudar o foco e não ter mais uma produção de dois produtos”, disse, a respeito da mudança para uma unidade totalmente dedicada ao biometano.
Toda a distribuição do biometano da planta será feita via GNC (cilindros transportados por meio de carretas). Dessa forma, qualquer cliente industrial ou comercial, independente da região, que esteja interessado no gás renovável será atendido. “No atual cenário do Brasil com transporte dutoviário ainda em desenvolvimento, a carreta exerce uma função de “ponte” que permite o escoamento da produção. Por exemplo: temos clientes em Londrina e Araçatuba, regiões que não estão conectadas às nossas plantas na malha de gasodutos”, esclarece André Gustavo.
O biometano produzido na planta também será destinado para consumo interno pela frota da Cocal durante a safra, reduzindo o consumo de diesel e atendendo ao compromisso com a agenda ESG. “Na última safra (22/23), deixamos de utilizar 300 mil litros de diesel com a substituição pelo biometano. Na atual safra, nossa expectativa é quadruplicar esse número — equivalente a mais de 1 milhão de litros de diesel. Vamos aumentar de 11 para 37 equipamentos rodando com o gás renovável como combustível.
E quando a nova planta de biogás estiver pronta, teremos dado mais um importante passo de nos tornarmos uma empresa zero carbono do agronegócio”, completa o diretor. O modelo de economia verde e circular já realizado em Narandiba também será promovido em Paraguaçu Paulista. Após a produção do biogás, as matérias utilizadas no processo voltam para a área de produção como biofertilizantes, dando vida ao solo e representando um avanço na cultura da cana-de-açúcar brasileira.
Os benefícios são tanto ambientais como financeiros, já que o preço do fertilizante químico, em escala global produzido pela Rússia, sofreu disparada do preço no último ano com o início da guerra na Ucrânia. A expectativa da Cocal é que a segunda planta de biogás comece a operar em abril de 2025 e que novas empresas da região sejam parceiras do projeto. Assim como em Narandiba, a planta em Paraguaçu Paulista será certificada para a comercialização de créditos de carbono. Com as duas plantas em atividade, a empresa fortalecerá sua cadeia de suprimento se posicionando entre as principais produtoras de biometano do País e uma das usinas pioneiras na política carbono zero.
POTENCIAL PARA 15 BILHÕES M3 DE BIOMETANO
Citando dados da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o executivo afirmou que o Brasil tem potencial para produzir, até o ano de 2030, cerca de 30 milhões de m3 por dia do biometano. No setor sucroenergético, por exemplo, se todo o resíduo da moagem de cerca de 640 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra fosse destinado à biodigestão, seria possível produzir, aproximadamente, 15 bilhões m3 de biometano.
Nos últimos anos, a Cocal passou a analisar formas de melhorar seu planejamento estratégico de economia circular, com o aproveitamento dos resíduos do processo industrial. Em 2019, veio a primeira planta de biogás e “de lá para cá, o mercado de biometano começou a crescer muito”, disse André Gustavo. “Muitas empresas que têm compromisso ambiental já declarado, com metas de descarbonização, começaram a nos procurar”, afirmou.
Então, além de uma nova unidade 100% dedicada a esse produto, a escolha da localização buscou proximidade dos grandes compradores – em sua maioria, indústrias no eixo entre os municípios paulistas de Bauru, Araçatuba, Marília, além de Londrina (PR).
A ideia era reduzir o custo logístico para a entrega do biometano e aumentar a competitividade nas negociações. A empresa também quer que a nova planta seja certificada no RenovaBio para emissão de créditos de carbono. A Cocal é uma empresa 100% nacional, produtora de cana-de-açúcar, açúcar, etanol, energia elétrica, biometano, CO2 food grade e levedura seca.
Com atuação há mais de quatro décadas no setor sucroenergético, vem investindo cada vez mais em tecnologias de ponta para o aproveitamento máximo da cana-de-açúcar. Suas áreas industriais estão localizadas nos municípios de Paraguaçu Paulista e Narandiba, no oeste do estado de São Paulo.