Usina de Anta, com duas casas de força, faz o represamento do rio que proporciona à águapercorrer vales, por meio de canais, túneis e diques sequenciados, até atingir a usina de Simplício
Usina de Furnas terá capacidade instaladade 333,7 MW e entra em operação em agosto próximo
Augusto Diniz
Omaior projeto hidrelétrico em construção na região Sudeste, o Aproveitamento Hidrelétrico de Simplício, no trecho do rio Paraíba do Sul localizado na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, deve entrar em operação comercial em agosto. Atualmente, a usina passa por processo de comissionamento.
Esquema do desvio das águas do rio Paraíba do Sul
A construção foi iniciada no começo de 2007. No pico, a obra chegou a ter quase 5 mil trabalhadores – no auge, o empreendimento contou com quatro grandes canteiros de obras, mais oito canteiros secundários. O empreendimento foi marcado por vários atrasos fruto de questionamentos na justiça.
De propriedade de Furnas Centrais Elétricas, a construção é do Consórcio Construtor Simplício, integrado pela Odebrecht e Andrade Gutierrez. A responsabilidade pelo fornecimento e montagem das turbinas é do Consórcio Fornecedor Simplício, formado pela Impsa e Inverral. O projeto de engenharia é da Engevix.
A área total desapropriada foi de cerca de 2.900 ha. Cerca de 140 famílias, no estado do Rio de Janeiro, e de 60, em Minas Gerais, foram realocadas com a obra.
Obra complexa
Orçada em R$ 2,2 bilhões, o complexo hidrelétrico terá capacidade instalada de 333,7 MW (capacidade para atender a uma cidade de 800 mil pessoas) e atinge quatro municípios: Três Rios e Sapucaia (RJ) e Além Paraíba e Chiador (MG).
Compõem o complexo em uma extensão de 30 km duas usinas (Anta e Simplício), uma barragem de concreto (do reservatório de Anta), duas casas de força (de cada usina), um vertedouro (da barragem de Anta), e um conjunto com sete túneis (sendo o Túnel 3 o mais longo, de 6 km de extensão, com seção de 15 m de largura por 16 m de altura), 15 canais, dez diques em diferentes pontos (o Dique 2 é maior, com 75 m de altura e um volume total de aterro compactado da ordem de 2.250.000 m³ de material) e cinco reservatórios que desviaram parte do curso do rio.
As águas do rio Paraíba do Sul foram represadas em uma sucessão de vales da região, formando reservatórios por meio de canais, túneis e diques sequenciados, atingindo 17,56 km² de área total inundada.
A casa de força da usina de Simplício possui três turbinas tipo Francis, com uma queda superior de 115 m de altura – o desnível existente no relevo local representou uma relação entre área inundada e potência de apenas 0,05 km²/MW.
Já a usina de Anta, com duas turbinas geradoras do tipo Kaplan, gera energia na casa de força construída junto à barragem, em um ponto mais alto do rio. Uma usina está a 25 km da outra. A barragem de Anta é de concreto compactado a rolo (CCR), tipo gravidade, com altura máxima de 29,5 m.
Os órgãos extravasores, localizados no barramento de Anta, são compostos de dois vertedouros, sendo um com três comportas e outro, complementar, de superfície livre, ao longo de 240 m do barramento, interligados entre si e à estrutura da tomada d’água através de muros de gravidade. A capacidade total de vazão é de 8.500 m³/s.
A usina está conectada à Subestação Rocha Leão (município de Rio das Ostras, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro), da concessionária
Ampla, por meio de duas Linhas de Transmissão de 138 kV.
Contrapartidas sociais
Como contrapartida do projeto, Furnas implantou um sistema de coleta e tratamento de esgoto devido à redução da vazão do rio Paraíba do Sul no trecho entre a barragem de Anta e o canal de fuga de Simplício. Mais de mil residências e imóveis comerciais já estão conectados ao sistema, composto de três estações de tratamento de esgoto (ETEs) e cerca de 40 km de redes coletoras. A estrutura tem capacidade para tratar mais de 3 milhões de litros de esgoto/dia.
Canal construído próximo à barragem dausina de Anta dá início ao percurso daságuas do rio pelos vales da região
Furnas também construiu e está operando um aterro sanitário no município de Sapucaia (RJ). O local recebeu os dejetos que se acumulavam durante anos, a céu aberto, na margem do rio Paraíba do Sul. O aterro sanitário funciona desde 2010 e recebe, atualmente, cerca de 12 t de lixo por dia.
Complexo Hidrelétrico de Simplício – Números
Escavação comum: 13.400.000 m3
Escavação em rocha: 4.600.000 m3
Escavação subterrânea de túneis (comprimento total): 12.163 m
Escavação a céu aberto de canais (comprimento total): 7.666 m
Aterro compactado (10 diques): 6.712.000 m3
Concreto estrutural (volume): 157.248 m3
Concreto rolado (volume): 93.962 m3
Aço de construção: 78.000 t
Fonte: Revista O Empreiteiro