Conhecimento e especialização como fatores de competitividade

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Mariuza Rodrigues

Lenc Engenharia e Consultoria cresce 90% nos últimos dois anos consolidando-se em nicho de serviços altamente qualificados

Poucas empresas detém uma história vinculada à vida acadêmica e fizeram disso seu diferencial no mercado. Este é o perfil da Lenc Engenharia e Consultoria – que surgiu do ideal dos engenheiros Douglas Fadul Villibor e Job Shuji Nogami, ambos professores da Universidade de São Paulo (USP) e engenheiros do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo – DER/SP. Durante mais de 20 anos dedicaram-se ao desenvolvimento da sistemática MCT (corpos de prova Miniatura, Compactados e solo Tropical), para o estudo dos solos tropicais a serem utilizados, entre outras aplicações, como base de pavimentos rodoviários.
O aprofundamento das pesquisas levou ao desenvolvimento de uma metodologia de ensaios, que agiliza a avaliação do tipo de solo e a especificação ideal do pavimento para região. Essa proposta dos dois engenheiros, permitiu o barateamento na execução de pavimentos com bom nível de qualidade e durabilidade e representou uma revolução na execução deste tipo de obra no Brasil. Além disso, a sistemática MCT também é aplicada no estudo sobre os tipos de erosões dos solos e estudos geotécnicos de solos para outras camadas de pavimentos.
O interesse por desenvolver uma pavimentação adequada ao tipo de solo brasileiro levou a um forte laço de amizade, que já dura 37 anos, entre DouglasVillibor e Job Nogami. Além disso, em 1975 Villibor se associou a outros engenheiros e criou uma empresa, um laboratório de ensaios, que entre outros objetivos, executaria e divulgaria o uso desta nova tecnologia e levaria o desenvolvimento tecnológico ao interior de São Paulo, até então desprovidos de empresas nesta área de atuação. O nome Lenc – Laboratório de Engenharia e Consultoria – remete a essa trajetória diretamente vinculada à vida acadêmica e de pesquisa dos seus criadores e colaboradores.
Inicialmente localizada em Araraquara, próxima ao meio acadêmico da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, a Lenc buscou na área de rodovias seu principal nicho de atuação. Já no início, a empresa apoiou o trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas e Aperfeiçoamento Industrial (IPAI-EESCUSP), participando do desenvolvimento de novas pesquisas de pavimentos com base de solo tropical. Os resultados começaram a surgir no início da década de 1980 e levaram ao convite, na época, para aplicar a tecnologia na obra do metrô, em São Paulo.
Isso encorajou a Lenc a abrir uma filial na capital, a fim de ficar mais próximas do maior mercado brasileiro. A iniciativa deu certo e a empresa começou a conquistar novos clientes e segmentos, já então com os engenheiros Alexandre Zuppolini e Paulo Serra como sócios de Villibor. Passados mais de 30 anos, o foco em tecnologia e na contínua formação de um quadro de técnicos de alta qualificação acadêmica e de vivência profissional, abriu novas portas para a empresa que agora conta com cerca de 400 colaboradores, incluindo engenheiros, mestres e doutores.
O aquecimento ocorrido no mercado da construção civil nos últimos cinco anos fez com que se iniciasse um novo ciclo de crescimento na empresa levando-a a diversificar suas atividades para além das obras rodoviárias. Desde então, a Lenc deixou de ser somente um laboratório de ensaios e hoje conta com uma ampla carteira de contratos atuando nas áreas de Gerenciamento e Supervisão de Obras, Projetos, Controle Tecnológico, Geológico, Meio Ambiente, Operação Rodoviária e Vídeo-Monitoramento, serviços certificados pela NBR ISO 9001 e NBR ISO/IEC 17025.
Na área de Projetos, a empresa está presente na adequação viária da Marginal Tietê – Lote 1; no projeto do Rodoanel trecho Leste, Lote 2;no Programa de Rodovias Vicinais do DER/SP; no Programa de Recuperação das Rodovias Estaduais do DER/SP, Programa de Intervenções Urbanas da Emurb-SP; no Programa de Recuperação de Rodovias Federais do DNIT e no apoio ao departamento de pesquisas e projetos do DER-ES. Na área de Gerenciamento/Supervisão os contratos incluem as obras do Rodoanel no Trecho Sul, da Dersa, como líder de um dos consórcios supervisores; o Programa de Recuperação de Estradas Vicinais – (DER/ SP); os trabalhos de gerenciamento e supervisão da implantação da BR 364 (Deracre); o gerenciamento e supervisão das obras de urbanização do Largo da Batata em São Paulo (Emurb), além de gerenciamento de recuperação e duplicação da BR 101-NE (DNIT), supervisão de projetos para a Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM) e apoio à fiscalização de concessões rodoviárias junto à Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Já o Departamento de Controle Tecnológico é composto por dois laboratórios, um localizado em São Paulo e o outro, recentemente inaugurado, em Belo Horizonte, os quais, acreditados pela NBR ISO 17025, integram a Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio (RBLE) do Inmetro. O laboratório de São Paulo é acreditado desde 1994 e o de Belo Horizonte é o primeiro e único laboratório privado acreditado no Estado de Minas Gerais. Seus principais contratos são o Programa de Despoluição do Rio Tietê junto à Sabesp e o Controle Tecnológico e de Qualidade no reaterro de valas e pavimentação para obras de esgoto junto à Superintendência de Gestão de Projetos Especiais, também para a Sabesp.
Na área de Meio Ambiente, a empresa presta serviços relacionados à elaboração de estudos ambientais, implantação de programa e sistemas de gestão ambiental, gestão de áreas contaminadas e supervisão ambiental de execução de obras. Em um de seus principais contratos, ela presta os serviços de gestão ambiental na implantação dos gasodutos Gastau e Gasbel para a Petrobrás, e executa o programa de educação ambiental que beneficia a população que vive próximo aos traçados dos gasodutos.
Na área de Operação Rodoviária em que, segundo Wolney Freire, diretor do departamento, a qualidade das vias sob concessão privada fez com que os órgãos públicos paulistas começassem a investir na melhoria dos serviços prestados em suas próprias vias a empresa dá apoio à operação rodoviária para o DER/SP nas regionais de Araraquara, Bauru, Ribeirão Preto e Cubatão, além de apoio ao gerenciamento de tráfego rodoviário de cargas nas regionais de Taubaté e Cubatão, e apoio ao planejamento na execução de operações especiais no Estado de São Paulo para o DER, em eventos de grande porte como a Festa do Peão,
em Barretos, e operações Verão – Praias e Inverno – Campos do Jordão.
O resultado de tudo isso é um desempenho excepcional nos últimos dois anos, com crescimento de 90% em 2008 em comparação a 2006. Neste período ela passou de um faturamento de R$ 29 milhões em 2006 para R$ 34 milhões em 2007, chegando a R$ 55 milhões em 2008. E a perspectiva é de expansão de pelo menos 20% no próximo ano, em vista dos investimentos previstos na área de infraestrutura. Poderia até ser maior, não fosse a dificuldade de arregimentar mãode- obra qualificada no curto prazo.
"O grande obstáculo hoje é justamente a mão-de-obra", diz o presidente Alexandre Zuppolini Neto. "Nosso produto está condicionado a pessoas, profissionais de alta capacidade técnica e de vivência profissional. Como o Brasil ficou estagnado na área de engenharia, nas últimas duas décadas do século passado, grande parte dos profissionais que se formaram nessa área foram para outros mercados, em especial para o mercado financeiro. Só
agora, com o crescimento do setor de construção, da volta do emprego e da melhora da remuneração, é que os estudantes de engenharia estão voltando para sua área. Mas formar um bom profissional leva tempo e exige recursos. Por outro lado, existe um grupo de profissionais tarimbados que ficaram afastados do mercado, e que não se atualizaram na aplicação das novas ferramentas disponíveis nesta área, como o uso de softwares, o que também traz dificuldades para seu reaproveitamento", diz o presidente.
Para Paulo Roberto Miranda Serra, diretor de novos negócios, os dois últimos anos representaram um novo marco operacional da empresa, com uma forte demanda por serviços de tecnologia, às quais a Lenc estava preparada para atender. "Em mais de 30 anos, foi a primeira vez que experimentamos um ciclo contínuo de crescimento por cerca de cinco anos. Isso permitiu um resgate da engenharia consultiva e, no nosso caso, uma alavancagem, pois estávamos preparados para atender aos clientes quando eles precisaram", destaca Serra.
No próximo ano, a perspectiva é de expansão buscando novos nichos de atuação, como explica Sergio Marques Assumpção, diretor comercial, apontando para os novos investimentos previstos para a área de Transportes em todos os seus segmentos – rodovias, portos, metrô – por conta de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas; assim como a área de energia. "Vemos um grande potencial de crescimento na área de transportes, que é nossa prioridade e em outras áreas de atuação, como saneamento e habitação, em que o Brasil ainda é carente de maior especialização. Na área de laboratório e tecnologia, o apoio ao desenvolvimento de sistemas construtivos que garantem construções mais rápidas e de qualidade também é uma das áreas de atuação que a empresa acredita e investe", enfatiza.
Apesar do momento promissor, a empresa trilha o caminho da prudência. "Vamos crescer sim, mas respeitando certos critérios de bom senso e de sustentabilidade. Nós lidamos com pessoas. Não podemos sair contratando para ali na frente ter de demitir. Não adianta cair no entusiasmo sem planejamento. É preciso treinar pessoas e investir em tecnologia, e isso leva tempo para dar resultado. Por isso nossa perspectiva de crescimento está na média de 20%", diz o presidente Zuppolini. Para isso, a empresa está construindo um novo laboratório, além de buscar novos talentos nas melhores universidades, além de manter um programa de apoio a qualificação de seu quadro técnico.
"A Lenc não é formada apenas por seus fundadores, mas sim por profissionais de alto nível que tornaram-se sócios da empresa. Nossa política é de apoio às iniciativas acadêmicas, inclusive na edição de livros que contribuam para o aperfeiçoamento técnico do setor, além da participação em entidades representativas. Queremos que cada colaborador seja um ente multiplicador da nossa história e por isso temos investido continuamente na melhoria de nosso ambiente de trabalho e na satisfação dos mesmos. É muito mais do que ser apenas uma empresa, é ser uma família", finaliza Douglas Villibor.

Fonte: Estadão


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