Relegado ao segundo plano nas últimas décadas em favor da movimentação de cargas, o transporte de passageiros sobre trilhos voltou à lista de prioridades do governo paulista. Desde 2019, perto de R$ 15 bilhões foram destinados à modernização e ampliação da rede do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). No caso da CPTM, os recursos empregados nos últimos anos não se aplicam apenas na ampliação das linhas, mas também em melhorias na infraestrutura atual.
As obras de modernização dos ramais da empresa foram intensificadas nos anos recentes. Isso incluiu desde a renovação da frota de trens, atualização da infraestrutura e abertura de novas estações, além da implementação da linha 13-Jade em 2018, que faz a interligação ferroviária da capital ao Aeroporto Internacional de Guarulhos. Em 2019, foram retomadas as obras de extensão da linha 9-Esmeralda, da atual estação Grajaú até a novata Varginha, com uma parada intermediária na também recente Mendes-Vila Natal, além da nova estação João Dias, no meio da linha. Segundo a CPTM, a extensão de 4,5 km vai propiciar acessibilidade e melhor mobilidade para a população da região sul da capital, beneficiando diretamente cerca 110 mil pessoas.
O valor do empreendimento é de R$ 960 milhões. “Com 82% de avanço físico concluído, as obras incluem também implantação de via permanente, rede aérea, sinalização, dois pátios ferroviários, quatro viadutos rodoviários, três viadutos ferroviários, duas subestações de energia e um terminal de ônibus”, revela Alberto Epifani, coordenador de Planejamento e Gestão da Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM). Dois bicicletários também fazem parte do projeto.
Previstas para serem concluídas no segundo semestre deste ano, estão em andamento as obras da estação Varginha – sob responsabilidade da Engibras Engenharia – e do viaduto rodoviário Paulo Guilguer, executado pela Castilho Engenharia e Empreendimentos e Vad Engenharia e Empreendimentos. Para conclusão em 2024, estão em curso as obras do pátio ferroviário de Varginha (contratadas com a Engibras) e do terminal de ônibus (executadas por Paulitec Construções), que será integrado a essa estação. Outra extensão com obras avançando é a ligação da linha 13- Jade à estação Barra Funda, onde operam outras linhas da CPTM e do Metrô, permitindo conexão direta entre o Aeroporto de Guarulhos e o Terminal Rodoviário da Barra Funda e a região central da capital.
Para esse trajeto, será utilizada a malha ferroviária existente das linhas 11–Coral e 12–Safira. Segundo a CPTM, será necessário promover intervenções em via permanente, rede aérea, sistemas de energia e de sinalização. O custo do projeto é de R$ 158 milhões. De acordo com Epifani, para essa extensão estão em curso as obras de adequação da estação Barra Funda (que está sendo realizada pela CLD Construtora e Laços Detetores e Eletrônica); de ajustamento da plataforma 5 da estação Luz (Épura Engenharia e Construções); e a implantação dos sistemas de rede aérea de tração, sinalização/SCT, suprimento de energia de tração e via permanente no trecho entre as estações Luz e Barra Funda (sob responsabilidade do Consórcio Telar-Gros-Sprail Linha 13) – todas com previsão de entrega para o segundo semestre deste ano.
Outra obra importante desse trecho é o novo túnel de ligação entre a CPTM e a Via Amarela, na Estação da Luz, com extensão estimada em 125 m, cujo investimento atinge aproximadamente R$ 60 milhões. Passam pela estação da Luz as linhas 7-Rubi, 11-Coral e 13-Jade, da CPTM, e as linhas 1- Azul (Metrô) e 4-Amarela (Via Quatro). Atualmente a interligação existente é feita por um corredor com dimensões insuficientes para atender à demanda de passageiros, estimada em mais de 46 mil pessoas nos horários de pico. A nova ligação fará com que o túnel existente sob a Rua Mauá seja utilizado apenas para o trânsito de passageiros entre a estação da CPTM e a linha 1 do Metrô. A obra, que deverá ser entregue em 2025, está sob a responsabilidade do Consórcio Construtor Túnel Estação Luz, que inclui as empresas Castilho Engenharia e Empreendimentos, Heleno & Fonseca Construtécnica, Vad Engenharia e Empreendimentos e HHTEC Comércio e Serviços. “Mais de 550 mil passageiros poderão ser beneficiados com esse túnel”, salienta Epifani.
Ainda segundo o coordenador de planejamento da STM, também estão em andamento diversas obras de modernização das estações das linhas 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira, visando adequá-las às normas de acessibilidade (NBR9050), de condições sanitárias e conforto nos locais de trabalho (NR24) e aos requisitos para certificação quanto ao cumprimento das regras de combate a incêndio de edificação (AVCB), bem como intervenções nos sistemas de energia, iluminação, sonorização, comunicação visual e pintura em geral. Fazem parte desse pacote as obras da estação Engenheiro Manoel Feio (linha 12), desenvolvida pelo Consórcio Construtor Estação Manoel Feio (Castilho Engenharia e Empreendimentos e Lopes Kalil Engenharia e Comércio), com previsão de entrega para o segundo semestre de 2024, e da estação Aracaré (pela Trail Infraestrutura), que estão na fase inicial e devem ser concluídas no primeiro semestre de 2025.
Há também trabalhos para implantação de novos sistemas de sinalização e energia em várias linhas. Para sinalização, está sendo implantado o Communications Based Train Control (CBTC), a cargo da Siemens – na linha 10, previsto para ser concluído no segundo semestre de 2025, e na linha 11, no segundo semestre de 2026. Na linha 12, está sendo instalado o sistema de Sinalização Automatic Train Operation (ATO), com previsão para entrega no segundo semestre de 2024. Já as readequações e ampliação do sistema de suprimento de energia de tração das linhas 10, 11 e 12, sob a responsabilidade da Siemens Mobility, têm previsão de serem concluídos para o segundo semestre deste ano.
TREM INTERCIDADES
Um dos projetos mais vistosos – e que demanda pesado investimento de cerca de R$ 13 bilhões – vinculado à CPTM é o Trem Intercidades (TIC), que, em sua primeira etapa, fará a ligação entre São Paulo e Campinas, com previsão para iniciar serviços em 2029. “O objetivo do trem Intercidades é estabelecer uma rede ferroviária estruturada em eixos para atender as demandas de viagens entre cidades-polo das regiões metropolitanas do Estado de São Paulo”, revela André Isper, secretário executivo da Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI). O TIC terá cerca de 100 km de extensão e se interligará com a linha 7-Rubi.
O governo de São Paulo lançou o edital do TIC São Paulo-Campinas em março e pretende licitar a primeira fase do projeto ainda neste ano – a previsão é até novembro. Segundo Isper, a proposta é ter linhas ferroviárias com modernos padrões de serviços e tempos de viagens competitivos, como modal alternativo para o atendimento de passageiros dos atuais serviços rodoviários e também de parte dos transportes individuais. “Os projetos vão gerar benefícios socioeconômicos por meio das novas conexões das cidades e bairros de forma mais eficiente e com redução do tráfego rodoviário”, salienta o secretário.