De André Rebouças a Pereira Passos

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São dois nomes em dois tempos históricos. Dois engenheiros, com vocações profissionais diferentes. Um, com uma visão pluralista do Brasil mesmo na época do Império, e, outro, voltado às questões da reforma urbana pontual. O primeiro ligado à monarquia, conquanto paradoxalmente abolicionista e, o outro, formado no embalo republicano.

André Pinto Rebouças era negro, baiano, considerado o primeiro “homem não branco a conquistar diploma de engenheiro”, conforme lembra o historiador Pedro Carlos da Silva Telles. Já Francisco Pereira Passos, branco, era filho da aristocracia do Estado do Rio. Os dois, duas notáveis personalidades, ainda estão a merecer estudos e biografias cuidadosas pelo muito que fizeram em favor do desenvolvimento brasileiro.

Rebouças (1838-1898), falecido há 110 anos, dá nome ao túnel Rebouças, no Rio de Janeiro. Ele freqüentava a Corte e se entendia com a princesa Isabel nas questões abolicionistas. Foi responsável por alguns projetos muito significativos para o desenvolvimento do País nas últimas décadas de 1800. Dentre esses projetos estão os que previram a construção das docas no Rio de Janeiro e em alguns estados do Nordeste, como Bahia, Pernambuco e Paraíba, além de rede ferroviária no Paraná, incluindo a ligação Curitiba-Paranaguá, que engenheiros ingleses julgavam inviável do ponto de vista técnico.

Todos esses projetos foram acompanhados de pormenorizados estudos de viabilidade técnica e econômica, para os quais defendeu, junto ao Imperador D. Pedro 2º, a criação de sociedades específicas e o emprego de investimentos privados estrangeiros.

Quando ocorreu uma crise de falta de água no Rio de Janeiro, ele procurou o Imperador e propôs o estabelecimento de uma taxa mínima de água a ser cobrada dos consumidores. Era uma medida que, em seu entender, tinha um sentido pedagógico: conscientizaria o povo a poupar o que chamava de “precioso líquido”.

Em seu livro Minha formação, Joaquim Nabuco refere-se assim ao amigo André Rebouças: “… foi talvez, dos homens nascidos no Brasil, o único universal pelo espírito e pelo coração.”

Deprimido, primeiro pela deposição e, depois, pela morte de D. Pedro 2º, Rebouças exilou-se na África e projetou uma estrada de ferro em Angola. Depois, mudou-se para a Ilha da Madeira, onde se suicidou e se tornou uma lenda.

Francisco Pereira Passos (1836-1913) formou-se em engenharia civil na Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, antiga Universidade do Brasil, onde Rebouças lecionara. Complementou seus estudos na França e ali assistiu aos trabalhos de reforma urbana desenvolvidos por Georges Haussmann.

Quando nomeado prefeito do Rio de Janeiro pelo presidente Rodrigues Alves, subverteu a cidade imperial. Mandou destruir quiosques, expulsar ambulantes da área central e tratou de alargar ruas. Acabou com a antiga Avenida Central, criando a atual Rio Branco, que tem 1.800 m de comprimento e 33 m de largura.

Ele abriu também as avenidas Beira-Mar e Atlântica, alargou a rua da Carioca e Sete de Setembro, construiu o aquário do Passeio Público, iniciou a construção do Teatro Municipal e, dentre outros obras, fez a primeira estrada de ferro turística do Brasil – a estrada de ferro que leva ao Corcovado.
André Rebouças e Pereira Passos: dois engenheiros, em dois momentos importantes da história brasileira.

Fonte: Estadão


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