De olho no Brasil real

Deixemos de lado a propaganda oficial. As informações sobre propósitos futuros. As enganações amparadas nas promessas do que pode ser o legado de eventos esportivos de interesse maior de uma elite exploradora. Paremos tudo isso para ver de perto o Brasil real.

O saneamento como está? Está mal, caros amigos. Se, para suprir o déficit de saneamento básico no País, serão necessários investimentos de R$ 12 bilhões, por ano, nos próximos 20 anos, a constatação é de que eliminar a defasagem continua a ser um sonho remoto. Às vezes, a televisão vai muito longe para mostrar o quadro de deficiência no Amazonas, Alagoas, Pará, quando é suficiente olharmos para as nossas ruas metropolitanas para ver o quanto não foi feito e o quanto será preciso fazer em segmento tão essencial à saúde de todos.

Falemos também em rodovias. Mas, reflitamos. Com exceção das rodovias concedidas, e das estradas cuidadas por alguns estados de economia mais avançada, o que sobra – e sobra muito – são aquelas absolutamente essenciais, mas impraticáveis ao tráfego em qualquer época do ano. A malha rodoviária brasileira, reunindo, nesse rótulo, as estradas federais, estaduais e municipais somam 1.724.924 km. Destes, apenas 9,5%, correspondentes a 164.247 km, são pavimentados. É visível, portanto, que sob esse aspecto estamos no pior dos mundos.

E as ferrovias? Depois de liquidar o patrimônio das ferrovias do País, dos anos 1960 para cá, querer recuperar a malha ferroviária de que se dispunha não significa apenas tentar fazer a Transnordestina, a Norte-Sul e outras que estão apenas nos prospectos das promessas. Isso compreenderia investimentos firmes, parcerias consistentes, ajustes econômicos e técnicos para a garantia de que as coisas efetivamente seriam colocadas nos trilhos. Sem essa retaguarda ferroviária, o trem-bala sonhado pelo governo será apenas, como disso um repórter, um tiro no escuro.

Apesar da propaganda sobre obras em andamento, a realidade é essa: somos um país que arrecada muito, exaurindo e deixando à míngua a classe média; gasta demais; vive corroído até a medula pela corrupção, e investe pouco em favor de seu crescimento. Este é o Brasil real.

Fonte: Estadão

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