Em compasso de espera

Compartilhe esse conteúdo

Expectativa é que obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás sejam iniciadas ainda em 2010; obras dependem de licenças

Entre os projetos considerados estruturantes para o desenvolvimento do Brasil está a duplicação de 604 km da Estrada de Ferro Carajás (EFC). Oficialmente, a obra ainda não foi iniciada, mas existem algumas adequações periféricas, próximas de serem realizadas no Porto do Itaqui e no Terminal da Ponta da Espera, ambos em São Luís (MA), que servirão de suporte após a concretização do projeto.

O projeto de expansão logística da Vale para a duplicação da Estrada de Ferro Carajás está orçado em aproximadamente R$ 3,9 bilhões e tem conclusão prevista para 2014. Sua capacidade de transporte será ampliada em 100 milhões t/ano de minério de ferro; hoje, é de 95 milhões t/ano, das quais 90 milhões são minério de ferro.

Na nova política de investimentos da Vale, desde o segundo semestre do ano passado a duplicação da EFC tem sido tida como prioritária, para atender ao aquecimento da demanda de minério de ferro. Com as obras, os 56 pátios de cruzamento existentes nos atuais 892 km da ferrovia estarão interligados. Outra intenção clara da Vale é ligar a EFC aos 720 km da Ferrovia Norte-Sul (FNS), que estão sob sua concessão, a fim de facilitar o escoamento de minério de ferro de Carajás e também do novo projeto Serra Sul, em Canaã dos Carajás (PA), pelo Porto do Itaqui (MA).

O projeto de expansão da EFC, aliás, é o detalhe logístico do projeto de implantação e exploração de Serra Sul, que tem o objetivo de produzir 90 milhões t/ano. Ao todo, o novo projeto demandará investimentos de R$ 21,5 bilhões. Destes, R$ 14,8 bilhões à ampliação da capacidade de transporte em toda a Região Norte.

Mas, há uma outra vantagem para a Vale com a duplicação da EFC: maximizar a capacidade de transporte de grãos e biodiesel, utilizando Itaqui como porta de saída para os mercados internacionais. Por todas essas razões, também para o governo as obras são estratégicas: "Com a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, o Maranhão não somente receberá novos investimentos como se transformará, definitivamente, no grande eixo logístico da região", prevê Roseana Sarney, governadora do Estado.

José Carlos Martins, diretor executivo de Ferrosos da Vale, confirma o interesse da companhia: "O Maranhão é um dos Estados onde a Vale mais investe no Brasil, perdendo apenas para o Pará, onde os investimentos se concentram na expansão da mina de Carajás e diversos outros projetos", afirma.

Sem detalhes

Extra-oficialmente, as informações davam conta de que as obras de duplicação começariam dia 26 de junho deste ano. Chegou a ser divulgado que o equipamento para assentamento da grade da ferrovia já teria sido adquirido e estaria em fase de finalização na New Track Construction Machine, fábrica da Harsco, na Carolina do Sul (EUA). A Vale não confirmou estas informações, limitando-se a dizer que detalhes do projeto somente serão divulgados após a expedição das Licenças Prévias de construção da ferrovia.

Mas isso não significa que a companhia não tenha pressa. Muito pelo contrário. Em 14 de abril último, o Diário Oficial do Maranhão publicou duas solicitações de renovações de Licenças de Instalação da mineradora à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, sendo que ambas estão ligadas diretamente à duplicação da EFC. A primeira é a solicitação nº 186/09 para "obras de melhorias e ampliações dos terminais ferroviários e portuários localizados no Complexo Portuário Ponta da Madeira". A segunda, o pedido de renovação da Licença de Instalação nº 077/09 para "ampliação do Terminal Ferroviário de Ponta da Madeira – 1ª Fase, localizado no Complexo Portuário de Ponta da Madeira". Até a data de fechamento desta reportagem, ainda não havia sido liberada a renovação das licenças, nem expedida a Licença Prévia.

Originalmente, as obras estavam previstas para serem implementadas a partir de 2007, mas a retração dos mercados internacionais ligada à demora nos processos de expedição das licenças ambientais, atrasou o processo.

Apesar de as obras de duplicação não terem começado oficialmente, as intervenções que vem sendo realizadas na Vale na ferrovia já somam R$ 1,2 bilhões nos últimos dois anos (R$ 715 milhões em 2008 e R$ 530 milhões no ano passado). Ao todo, o projeto de expansão logística da mineradora tem investimento estimado em aproximadamente R$ 9,8 bilhões. Além das intervenções na EFC, esse projeto contempla a construção de um novo atracadouro (Píer IV), no Porto do Itaqui, em São Luís, previsto para ser iniciado em novembro próximo, e a aquisição de pelo menos 20 novos navios para implantar uma linha exclusiva de transporte para a Ásia, a um custo de US$ 1,7 bilhão.

Implicações

O projeto de expansão da Estrada de Ferro Carajás deverá alterar a rotina de pelo menos 13 cidades maranhenses. Em quase todas, a Vale será obrigada a construir passarelas e viadutos. Em Bacabeira, a 50 km de São Luís, é praticamente certo que a mineradora será obrigada a indenizar moradores para executar as obras. Ainda não se sabe o número exato de famílias e quando isso ocorrerá. Além disso, a Vale deverá construir duas passarelas no município para garantir a passagem dos moradores da área rural, que precisarão cruzar a ferrovia diariamente.

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário