Joás Ferreira
A concessão de aeroportos é vista com preocupação, nesta entrevista com o advogado e presidente da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep), Cláudio Candiota. Para ele, foi concedido apenas o “filé mignon” do mercado.
Como a Andep vê as concessões de aeroportos, realizadas recentemente, e quais são as expectativas?
Estamos preocupados. Não temos muitas expectativas. A não ser que os três aeroportos que receberão investimentos venham a ter infraestrutura suficiente para atender aos passageiros e ao aumento da demanda.
Que outros aeroportos do País estão entre os mais problemáticos e quais são esses problemas?
Praticamente todos os aeroportos do Brasil, salvo raríssimas exceções, são problemáticos. São insuficientes em número para atender a um país com as dimensões do Brasil. Os que existem estão sobrecarregados. A infraestrutura aeroportuária de um país se faz com planejamento e gestão profissionalizada.
Como a entidade, do ponto de vista do passageiro, encara os eventos esportivos da Copa e da Olimpíada?
Com apreensão. Na África do Sul, que tinha e tem uma infraestrutura aeroportuária superior à brasileira, houve muitos problemas durante a Copa do Mundo. Além do aumento do fluxo de passageiros há o aumento no tráfego aéreo. Até agora ninguém explicou para onde irá a aviação executiva, por exemplo, muito utilizada em períodos de grandes eventos desse porte.
Que outros aspectos preocupam a Andep?
Preocupa, também, o fato de que dos 67 aeroportos administrados pela Infraero, 61 são deficitários. Sendo a Infraero uma empresa única administrando todos eles, presume-se que os superavitários subsidiavam os deficitários. Privatizando ou concedendo (como queiram) os superavitários (o “filé mignon”), quem vai sustentar os deficitários? Entende-se que os aeroportos privatizados, ao menos em tese, e por serem os mais lucrativos, sendo otimista, vão funcionar muito bem e teremos três aeroportos de primeiro mundo. Porém, corre-se o risco de que os demais se deteriorem e venham a se transformar em aeroportos ainda piores do que são hoje.