Avelina Castro – Belém (PA)
O Pará chegará em 2016 com
US$ 27 bilhões investidos em novos empreendimentos de mineração e metalurgia
As exportações minerais tiveram um crescimento no Pará de quase 100%. Segundo os últimos dados do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral), em maio de 2010, o setor exportou cerca de US$ 563 milhões, e em maio de 2012 pulou para US$ 1,1 bilhão. “Houve um aumento de 99%, o que certamente se materializará em um novo recorde na balança comercial do Estado até o fim deste ano”, acredita André Reis, coordenador e economista do Simineral. |
Para Reis, o panorama do setor no Estado, assim como em todo o mundo, é excelente, “com as cotações mantendo-se acima dos valores observados no ano passado”. “Constata-se que a demanda internacional por bens minerais continua intensa. E dentre os vários fatores que sustentam a procura por minérios brasileiros, destaca-se o processo de urbanização que ocorre mundo afora”, destaca o coordenador do sindicato, acrescentando que, segundo a ONU, dois terços da população mundial residirão em cidades até 2050.
No Pará, as exportações das indústrias de transformação mineral mantiveram-se por crescimento constante nos últimos 12 meses. A arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) aumentou 99% comparativamente a maio/2010, o que é outro indicativo da expansão da área.
A geração de emprego e renda também aumentou no Estado. Segundo os dados do Simineral, o crescimento no último ano foi de 25% de empregos diretos na indústria extrativa mineral. Hoje, a entidade estima que a cadeia produtiva do setor seja responsável pela geração de 215.670 postos de trabalho, entre empregos diretos e indiretos, nas indústrias extrativas, de transformação, terceirizados e fornecedores.
E a expectativa é que o setor continue crescendo por conta dos investimentos que estão por vir. A instalação da siderúrgica Alpa, pela Vale, em Marabá, por exemplo, consolidará o elo da siderurgia na cadeia produtiva mineral do Pará. Os benefícios em termos de agregação de valor e geração de renda, seja pela sua atuação direta ou via desdobramentos multiplicadores, serão grandes no Estado. “A constituição de uma forte indústria de base induzirá o desenvolvimento de uma nova indústria de transformação mineral. Abre-se uma grande janela de oportunidade para todos os empreendimentos que utilizam o aço como principal insumo”, avalia.
“Mantidas as atuais condições de mercado, os investimentos previstos pelo Simineral permitem assegurar um cenário de crescimento nos próximos anos, com investimentos da mineração da ordem de US$ 27 bilhões até 2015 em novos projetos ou ampliação dos já existentes no Pará”, ressalta. Somando-se aos investimentos da indústria de transformação mineral e às obras de infraestrutura e outros negócios, o Estado chegará a 2016 com aproximadamente US$ 41 bilhões investidos em sua cadeia produtiva mineral.
Siderúrgica impulsionará expansão
Considerado o maior projeto siderúrgico do Estado do Pará, a Aços Laminados do Pará (Alpa), da Vale, encontra-se em fase de implantação em Marabá, município do sudeste do Estado. O empreendimento terá capacidade anual de produção de 2,5 milhões de t de placas e um investimento estimado em US$ 3,7 bilhões.
A Alpa ocupará uma área total de 1.035 hectares e está com a terraplanagem em andamento, com cerca de 60% da área já pronta. Até o final deste ano, terão início as obras de construção civil. Cerca de 300 profissionais, entre próprios e terceirizados, trabalharão nesta fase inicial do projeto. Já na fase de operação, prevista para começar no final de 2013, o número de empregos diretos chegará a mais de 5 mil.
A Alpa compreende um sistema totalmente integrado: a construção de um ramal ferroviário, para receber o minério de ferro de Carajás; e a construção de um terminal fluvial no rio Tocantins, para receber o carvão mineral e calcário e fazer o escoamento da produção siderúrgica até o Terminal Portuário de Vila do Conde, em Barcarena (PA).
Em novembro de 2009, a Vale e a Aço Cearense assinaram Memorando de Entendimento para implantação da linha de laminação da Alpa, por meio do projeto Aline, que produzirá bobinas a quente (710 mil t/ano), bobinas a frio (450 mil t/ano) e aço galvanizado (150 mil t/ano).
Além disso, a gerência da Vale, em Carajás, explica que está ampliando a sua produção. O projeto adicionará 40 milhões de t/ano à capacidade atual, que é de cerca de 100 milhões t/ano. A iniciativa compreende investimentos na instalação de uma nova planta composta por usina de britagem primária, e unidades de beneficiamento e classificação. As licenças de supressão vegetal e de instalação já foram obtidas e a previsão de iniciar a operação é em 2012.
O projeto está sendo desenvolvido na Serra Norte de Carajás e envolve ainda a construção de uma usina de processamento a seco e investimentos em logística para aumentar capacidade de descarga, estocagem e carregamento do terminal marítimo de Ponta da Madeira, no estado do Maranhão. O investimento no projeto para este ano é de US$ 423 milhões.
A gerência da companhia esclarece que o processamento a seco implementado em Carajás, tanto nas operações atuais quanto nos projetos, usa a umidade natural do minério, o que implica na redução do consumo de água e energia. Ele também elimina a necessidade de barragens de rejeitos e reduz emissões de carbono, despesas de capital e custos operacionais. Ao mesmo tempo, permite a maximização da taxa de recuperação do minério de ferro.
Já a Mineração Rio do Norte (MRN), uma das principais produtoras de bauxita do país, fechou 2010 com a produção de 17,02 milhões de toneladas de bauxita. As vendas somaram 17,46 milhões de t, representando um aumento de 11,7% comparadas com o volume de 15,64 milhões de t vendidas em 2009. Desse total, 63,37% foram destinados ao mercado interno, suprindo as refinarias da Alunorte (Pará) e da Alumar (Maranhão), e 36,63% foram destinadas ao mercado externo, sendo 12,51% para os Estados Unidos; 9,39% para o Canadá; 11,34% para a Europa e 3,39% para o Suriname.
A empresa fez investi
mentos no total de R$ 120,4 milhões. Mas, apesar das vendas em 2010 terem sido superiores a 2009, a MRN ainda vê grandes desafios pela frente, como concluir as obras de abertura de novas minas e iniciar suas operações; implementar projeto de melhoria nas instalações da planta de beneficiamento, entre outras ações.
Obras de infraestrutura
Com o objetivo de garantir melhor escoamento da produção mineral e ainda contribuir com outros setores econômicos (graneleiro e de combustível), a Vale está investindo em importantes obras de infraestrutura, como a duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a ampliação do Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM).
A EFC continua atendendo a sua principal vocação, o minério de ferro, mas também passa a ganhar destaque no escoamento de carga geral, além do transporte de passageiros (cerca de 1.300 pessoas por dia) entre os estados do Pará e Maranhão, onde atravessa 25 municípios. O investimento no projeto de expansão da ferrovia é US$ 2,986 bilhões, com despesas de US$ 1,289 bilhão em 2011 – cifras que incluem também os desembolsos para o Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM).
A Estrada de Ferro de Carajás opera a maior composição do mundo, com 330 vagões. Trata-se de um avanço tecnológico que permitiu significativos ganhos de produtividade e que levou a EFC a bater recorde de transporte de minério no fim do ano passado. No trecho já entregue os negócios prosperam. A Vale fechou um contrato de 11 anos com a Bunge para o transporte de até 200 milhões de litros de álcool por ano pela ferrovia. O objetivo é atender aos clientes de Tocantins, o que permitirá a retirada de 700 caminhões ao mês das estradas.
Com a nova parceria, a Vale expandirá o volume anual de carga geral movimentado. A previsão é manter um crescimento anual de 20% no volume de cargas transportadas. Com isso, o total movimentado chegará a 12,6 milhões t em 2015.
Nas regiões Norte e Nordeste do país, a Vale opera com duas ferrovias: a Estrada de Ferro Carajás (EFC), com 892 km de extensão, e a Ferrovia Norte Sul (FNS), esta sob subconcessão, com 720 km de extensão – 561 km já operando entre Açailândia (MA) e Tupirama (TO).
Ampliação da capacidade
de Ponta da Madeira
Ao final das obras de ampliação, em 2012, o Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM), em São Luís, se tornará o maior porto do país em capacidade e volume de movimentação de cargas. Além do aumento do volume de minério de ferro a ser escoado pelo porto, a movimentação de grãos terá em Ponta da Madeira uma importante base de transporte de soja e milho produzidos no Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
O Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM) é um porto privado pertencente à Vale, inaugurado no ano de 1986, que está localizado no Complexo Portuário de Itaqui, à margem leste da Bahia de São Marcos, na Ilha de São Luis (MA). O terminal possui, atualmente, três píeres, estando com as obras de ampliação iniciadas para a construção do píer IV.
O investimento para tornar o TPPM o maior porto do País é de US$ 2,9 bilhões em aumento de capacidade, com a instalação do píer IV, além de obras de dragagem para ampliar o calado. Este investimento também contempla a duplicação da EFC em 115 km. O porto será uma alternativa aos três portos do Sul/Sudeste: Rio Grande (RS), Paranaguá (PR) e Santos (SP).
O Píer IV vai elevar a capacidade de Ponta da Madeira para 150 milhões t em 2012 — será capaz de receber e carregar dois navios simultaneamente. Voltado para embarcações de grande porte, o píer será destinado a navios entre 150 mil e 400 mil t. Atualmente, o porto já é um dos maiores do mundo e o único a carregar plenamente o navio graneleiro Berge Stahl, de 346 mil t e, agora, o Vale Brasil. Em 2010, o TPPM movimentou 99,1 milhões de minério e carga geral. Após as obras, o porto estará apto a receber navios de última geração, que farão a ligação entre o Brasil e a Ásia.
O TPPM terá ainda um sistema de inteligência artificial que permite operar, de forma remota, as máquinas empilhadeiras e recuperadoras usadas para transferir o minério do pátio até o navio. O sistema possibilita o comando à distância das máquinas a partir do Centro de Controle e Operações do Porto. O Maranhão é o primeiro Estado do Brasil a ter um terminal portuário com todas as máquinas de pátio operando em modo remoto.
Além disso, o porto da Vale já trabalha com modelos matemáticos avançados que simulam o comportamento de atracação dos navios nos píeres, prevendo, por exemplo, a velocidade dos ventos e as correntes. A empresa mantém um modelo reduzido do terminal portuário na sede da Universidade de São Paulo (USP), onde acontecem as simulações de correntes marítimas e marés e seus efeitos sobre os navios em manobras e atracados nos píeres.
O Píer I possui um calado de 23 m e comprimento equivalente de berço de 330 m, conseguindo receber navios de grande porte como o Vale Brasil, maior mineraleiro do mundo, com capacidade de 400 mil t, 362 m de comprimento e 65 m de largura. O Píer III possui dois berços contínuos de atracação, com comprimento total de 694 m, tendo como prioridade a atracação simultânea de dois navios de menor porte. Tanto o Píer I quanto o Píer III movimentam minério de ferro, pelotas e manganês.
Já o Píer II foi arrendado pela Vale junto à Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), administradora do Porto de Itaqui, possui 18 m de calado e 280 m de comprimento. É destinado a produtos como soja, ferro-gusa e concentrado de cobre, sendo os dois últimos prioridade por serem de maior valor agregado.
Automação de projetos – utilização do i-model®
No ano de 2010, a SEI deu início a engenharia básica (FEL 3) do Projeto Cristalino, empreendimento da VALE para produção de concentrado de cobre a partir de lavra a céu aberto e planta de concentração. O concentrado será transportado por caminhões e por via ferroviária, pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) até o Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM) em São Luís – MA. A escala de produção será de 16 Mtpa de ROM, com uma produção média de 340 mil t/ano de concentrado, para uma vida útil da mina de 24 anos.
O desafio a ser vencido seria elaborar toda a engenharia básica em 3D, situação esta ainda inédita para a área de negócio de cobre, e na sequ&ec
irc;ncia, elaborar o projeto executivo, utilizando as tecnologias de automação de projeto em 3D. Após o término do projeto conceitual (FEL 2), executado pela SEI, ficou claro que a viabilização do projeto passava pela otimização da infraestrutura necessária, em função das características topográficas da região, responsável por um terço dos investimentos.
Com o objetivo de redução no investimento, foram utilizadas ferramentas para modelagem da infraestrutura (platôs e vias de acesso), estruturas de concreto e metálicas, edificações, instalações industriais e de apoio para avaliar as várias opções de layout dentro do prazo estabelecido.
Graças à utilização das ferramentas de automação para projetos em 3D foi possível reorganizar o fluxo de trabalho, tornando o projeto exequível no prazo desejado. Para agilizar a visualização dos projetos e consequente aprovação, foi introduzida a solução Bentley® i-model. Trata-se de um container de dados que pode armazenar modelos 3D, bem como informações agregadas de engenharia. Por não permitir engenharia reversa, ele pode ser distribuído pelo time de projeto, de forma que as informações possam ser compartilhadas sem serem modificadas.
O i-model permite que seja realizada checagem de interferências e comentários que também podem ser compartilhados pelo time do projeto, via arquivos PDF. Outra vantagem é que podemos visualizá-lo com um software gratuito, possibilitando a circulação dos dados desde o time de projeto até a obra com a finalidade de sanar dúvidas. Além disso, o i-model substituiu o procedimento de emissão de desenhos (eletrônicos ou papel) e tornou-se um entregável do nosso projeto.
A emissão do i-model foi uma quebra de cultura, um avanço nas relações com o cliente e um ganho de produtividade, com o trabalho sendo desenvolvido em ambiente 3D e disponibilizado para o cliente analisar em um curto espaço de tempo. Isso permitiu a integração das diversas disciplinas em um único modelo e nas sucessivas fases do projeto, melhorando consideravelmente o tempo de desenvolvimento das soluções de engenharia.
Fonte: Estadão