Estaleiro em São Roque do Paraguaçu revitaliza construção naval da Bahia

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Não se pode dizer que a construção das novas plataformas auto-elevatórias P-59 e P-60 representar uma nova geração de plataformas de petróleo fabricadas no Brasil, ou que sejam um salto tecnológico na indústria do setor do Brasil, já que elas não incorporarem métodos construtivos revolucionários, ou níveis de tecnologia embarcada acima dos normal. Tampouco se pode afirmar que elas agregam novos materiais, altamente resistentes, dimensionados para exploração em águas ultra-profundas, visto que elas têm especificações para operar na perfuração de poços em lâminas d’água rasa, de até 110 m. Mas o que não se pode negar é que o empreendimento tem o mérito de estimular a criação de um novo pólo da indústria naval no País – em São Roque do Paraguaçu, no município de Marago-jipe (BA) – e de promover a entrada no setor da construção naval de empresas de notória competência na área da construção pesada, mas "marinheiros de primeira viagem no ramo da construção naval.
Trata-se das construtoras Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia que se uniram para formar, com participações iguais, o consórcio Rio Paraguaçu, que em setembro de 2008 assumiu o desafio de construir as duas plataformas simultaneamente. O contrato, em regime de EPC, orçado em cerca de US$ 700 milhões, prevê a entrega das unidades entre 2011 e 2012. Para a P-59, o prazo de execução é de 1.020 dias, e para a P-60, o prazo é de 1.140 dias. É um prazo apertado, principalmente em se tratando de empresas sem experiência nessa área. Mas até o momento, em que o avanço físico das obras é de 22,5%, o cronograma vem sendo cumprido normalmente.
Para garantir o sucesso do empreendimento, o consórcio contratou a empresa americana Letourneau Ofshore Products, uma das maiores especialista do mundo em construção de plataformas, com experiência de mais de 50 anos. Por US$ 185 milhões, ela ficou responsável pelo fornecimento do projeto de engenharia, da tecnologia, a partir dos parâmetros fornecidos pela Petrobras, bem como dos equipamentos de perfuração para as duas plataformas. O detalhamento do projeto de engenharia básica está sendo feito pela brasileira Projemar.
De menor porte, as unidades de perfuração P-59 e P-60, do tipo auto-elevatória (jackup), modelo Super 116-E, para perfuração ofshore, quando concluídas, serão instaladas no litoral da Bahia. Com cascos lutuantes, cada uma delas pesando 11 mil t, elas são munidas de pernas retráteis, que podem ser abaixadas ao leito do mar para elevar a estrutura do casco acima do nível da água. Segundo a Petrobras, esse modelo de plataforma, capaz de perfurar em condições de alta pressão e alta temperatura, não é construído no Brasil há aproximadamente 30 anos. A estatal precisava, portanto, renovar e aumentar sua frota desse tipo de plataforma, de forma a diminuir terceirizações.
Para o engenheiro mecânico José Luis Coutinho de Faria, diretor do projeto e funcionário da Odebrecht, empresa líder do consórcio, a grande vantagem oferecida pela contratação da Letourneau é que ela fornece 80% do escopo dos equipamentos necessários. Isso inclui o kit básico – engenharia básica, sistema de elevação das plataformas, as pernas, guindastes, o cant lever e o drillfor. "Esses são os equipamentos principais para a plataforma operar. Além deles há outros equipamentos, como geradores, compressores, também produzidos de forma contínua pela Letourneau. Isso representou em ganho de agilidade, redução de trabalho na identificação de fornecedores no mercado, risco de irregularidade nos fornecimentos, etc", explica o engenheiro.

O desafio da infraestrutura e logística

O escopo do contrato com o consórcio prevê a execução do projeto de engenharia, incluindo construção e montagem, além do fornecimento de suprimentos. O contrato já prevê a opção da montagem de uma terceira plataforma, o que será decidido pela Petrobras futuramente, em função do comportamento do mercado.
Coutinho conta que o maior desafio enfrentado nesse contrato é prazo apertado. "Esse é um prazo praticado habitualmente pela Letourneau. E nós estamos nos propondo a fazer esse trabalho no mesmo prazo que uma empresa com enorme experiência, detentora dessa tecnologia."
Durante o processo licitatório, a Petrobrás deu a opção para contratação de cinco tecnologias diferenciadas de plataformas: Letourneau, Friede&Goldman, Fels, Jurong Shipyard (Cingapura) e Gusto MSC. "Nós izemos uma cotação de preço no mercado e optamos pela Letourneau, por oferecer melhor preço e melhores condições" afirma Coutinho.
Montar as plataformas em São Roque do Paraguaçu, no município de Maragojipe, já não foi uma escolha do consórcio. Foi uma imposição da Petrobras. A estatal definiu como requisito, no edital de licitação, que toda a parte de casco das plataformas, de construção naval, fosse executada em São Roque. Coutinho admite que esse foi outro grande desafio do empreendimento.
"O local não dispunha da infraestrutura necessária. Nós tivemos que fazer uma adaptação forte no canteiro, para transformá-lo em um estaleiro. Através de visitas que nós fizemos a estaleiros em Singapura e na Coréia, nós conhecemos modelos de estaleiros próprios para este tipo de construção e instalamos esses modelos em São Roque. No local já existiam instalações precárias e calado de oito metros. Aproveitamos os galpões existentes, mas tivemos que instalar linhas de painéis para fabricação de blocos, adaptações na carreira de embarque, instalamos equipamentos como pórticos e pontes rolantes, etc. No local foi instalado ainda um guindaste de 700 toneladas. No total, foram necessários oito meses para adaptação do canteiro. Hoje, São Roque não deve nada a nenhum estaleiro daqui", garante o diretor do contrato, que prefere não revelar quanto foi investido.
Ele revela, no entanto, que os investimentos serão ressarcidos, ao final do contrato, pela Petrobrás, dona do canteiro de ² de área. São Roque, que soma 400 mil m. A exigência da Petrobras na reativação retomada das atividades do canteiro de São Roque não foi gratuita. Além das dimensões que permitem a construção das matrizes de equipamentos da indústria petrolífera, São Roque está localizado nas proximidades da Baía de Todos os Santos, às margens do Rio Paraguaçu, cujo calado chega a 10 metros, possibilitando o atracamento de navios e balsas de grande porte.
Base de apoio à frota de balsas da Petrobras, S&at

ilde;o Roque funciona também como área de transbordo de cargas e equipamentos. Há no local um heliporto para pouso ocasional de helicópteros, oficinas equipadas com pontes rolantes, armazéns,almoxarifados, espaço a céu aberto para armazenamento de materiais e equipamentos, estação de armazenamento de óleo, estações de energia e vias de acesso para grandes veículos.
Além de tudo isso, o litoral da Bahia concentra as estratégias da Petrobras no Nordeste, região na qual a estatal pretende investir cerca de R$ 35,5 bilhões até 2010. Na Bahia, a companhia pretende aplicar recursos em perfuração de poços, desenvolvimento da produção e implantação de instalações de produção nas Bacias Recôncavo, Tucano e Bahia Sul. Além disso, as operações do Campo de Manati devem ser ampliadas.

O desafio da mão-de-obra

Outro complicador na execução do contrato foi a captação de mão-de-obra capacitada no local. "Até porque trata-se de uma empreitada inédita para as empresas envolvida, que nunca fizeram construção naval e não dispunham de profissionais em esse perfil em seus quadros. Mesmo o nosso pessoal mais experiente teve que passar por um processo de aprendizado, para poder capacitar suas equipes e trabalho. Isso sem falar que não há mão-de-obra de qualidade disponível,visto que o mercado de construção continuou aquecido, apesar da crise", lembra o engenheiro.
O principal foco do consórcio foi, no primeiro momento, captar no mercado profissionais com experiência em planejamento para construção naval. Para as outras atividades, a saída foi promover cursos de treinamento e capacitação.
Para fazer face à demanda de profissionais, o consórcio Rio Paraguaçu fechou acordo com o Senai, para ministrar cursos preparatórios. Além disso, através do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp),foram oferecidos cursos para habilitar cerca de 1.200 profissionais para trabalhar na construção da P-59 e P-60. As vagas foram destinadas aos habitantes de Maragojipe e municípios vizinhos, como Cachoeira, São Félix, Nazaré, Itaparica, Vera Cruz, Salinas da Margarida, Jaguaripe, Santo Antônio de Jesus, Saubara, entre outros.
Para acomodar os alunos aprovados a Petrobras construiu, nas instalações de São Roque, uma estrutura com capacidade para 160 alunos por turno, além de laboratório, auditório, almoxarifado, sala de professores, sala de reunião, sanitários e área de convívio.
Atualmente, trabalham em São Roque do Paraguaçu cerca de 1.500 homens. A expectativa do consórcio é que, ao atingir seu ponto máximo, em maio de 2010, estejam trabalhando no local cerca de 2 mil empregados.

Fonte: Estadão


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