Evento global em Londres premia túnel submerso Santos-Guarujá

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A Bentley reuniu os empreendimentos de infraestrutura e construção industrial considerados mais significativos do ano para a premiação Be Inspired 2014, distinguindo os projetos que incorporaram as inovações mais relevantes do ponto de vista da engenharia

Joseph Young – Londres (Inglaterra)

O evento reuniu no início de novembro, em Londres, Inglaterra, a inteligência da engenharia global envolvida no projeto e na construção de empreendimentos de infraestrutura, petróleo e industriais, para uma oportunidade singular de intercâmbio de ideias e avaliação mútua das soluções adotadas nas suas obras, longe da correria dos escritórios e canteiros de obras. Júri independente analisou as iniciativas apresentadas em salas fechadas e decidiram pela premiação nas diversas categorias existentes.

Uma bela surpresa foi a premiação conquistada pelo túnel Santos-Guarujá, a ser construído no litoral paulista pela Dersa, cujo projeto está sendo desenvolvido pelo consórcio Engevix-Themag-Planservi, que conquistou a distinção Special Recognition, na categoria Avanço em Infraestrutura Urbana. O túnel submerso de cerca de 1,7 km adota processo construtivo inédito no País de pré-fabricação em concreto, com seções medindo 145 m de comprimento, 10,6 m de altura e 37 m de largura, com duas células de 10,5 m destinadas ao tráfego viário e uma célula central de 5 m reservada aos pedestres e ciclistas. As seções prontas serão rebocadas até sua posição final e submersas no canal marítimo, numa vala escavada para esse fim. Esse túnel submerso vai reduzir o tempo atual de percurso entre as duas cidades, por terra ao longo da baía ou por balsa, estimado hoje, em média, em 90 minutos, para apenas dois minutos.

O engenheiro Estanislau Marcka, assessor da presidência da Dersa, explicou que outras opções de travessia foram avaliadas, inclusive uma ponte estaiada, de cerca de 3,7 km, cujos mastros tornaram-na impraticável pela proximidade de uma base aérea (e futuro aeroporto) e pelo vão de navegação de 85 m exigido para passagem de navios de grande porte pelo canal. Um túnel escavado teria que buscar uma profundidade tal no subsolo que o tornaria antieconômico, com cerca de 2,9 km e rampas muito longas. O projeto do túnel submerso tem a consultoria de uma empresa holandesa, especializada em túneis submersos.

O túnel Santos-Guarujá inclui uma série de readequações viárias no entorno que vai melhorar a circulação de veículos costumeiramente caótica na região nos fins de semana, quando os paulistanos descem da capital para as suas praias favoritas no litoral.

Túnel do Porto de Miami, EUA. Este empreendimento recebeu o Prêmio de Inovação em Megaprojetos, com o trabalho apresentado pelo consórcio construtor formado pela norte-americana Jabocs e a francesa Bouygues. Durante mais de 20 anos, o DOT da Flórida estudou a viabilidade técnica de um túnel para ligar a rede rodoviária de Miami diretamente ao porto, um dos mais movimentados em passageiros e carga dos EUA. Avanços na tecnologia de escavação de túneis e a experiência dessas duas empresas tornaram possível projetar e construir este par de túneis medindo 1.400 m de extensão sob a baía de Biscayne, tirando das vias locais os caminhões que se destinam ou saem do Porto de Miami.

A PPP no valor de US$ 1 bilhão é a primeira do estado da Flórida e a estreia da Bouygues nos EUA, tendo como principal dificuldade a escavação com uma TBM (tunnel boring machine) das oito camadas de geologia variada e complexa típica da região, inclusive o calcário originário de corais marinhos que praticamente se liquefaz em contato com água. Algumas soluções inovadoras incluem misturas diferenciadas de solo-cimento; a mudança dos dois portais de túneis para um único contendo os dois emboques; e uma placa revestida de teflon rotativa para girar a TBM que, ao concluir o primeiro túnel, volta para escavar o segundo, ambos com 14 m de diâmetro.

No Mar do Norte. Mas o projeto que chamou mais atenção em Londres foi o da plataforma autoinstaladora F3-Fa da Centrica, que vai operar no Mar do Norte, na Holanda. A Orca Offshore realizou os estudos para transporte e instalação dessa plataforma de gás, que custou £ 200 milhões. A plataforma tem uma fundação de estaca de sucção que repousa sobre uma barcaça provisória para transporte marítimo, podendo ser realocada através de três ou quatro campos de exploração submarina, com enorme economia de custos. Foi crucial conhecer as cargas hidrodinâmicas com a maior antecedência possível devido ao tamanho da estaca — 15 m de altura por 15 m de diâmetro — e a proximidade com a zona de ondas. Os estudos permitiram reduzir a quantidade de aço empregada na plataforma e comprovaram a viabilidade operacional desse conceito inovador em exploração offshore.

Em Guizhou, na China. O maior rádio-telescópio do mundo, com 500 m de abertura, está sendo montado em Karst, na província de Guizhou, na China. Ele foi premiado, pela Bentley, como Inovação em Engenharia Estrutural. A abertura de 500 m da sua antena de rádio equivale a 30 campos de futebol. Possui uma estrutura composta de cabo de aço com 6.670 cabos principais e 2.225 cabos de fixação, além de um conjunto circular que pesa 216 t. O refletor é formado por 4. 600 elementos refletivos montados sobre a rede de cabos. Desde a escolha do sítio até os projetos de construção, o consórcio formado pelo Beijing Building Construction Research Institute, Beijing Institute of Architectural Design e a National Astronomical Observatories empregou a tecnologia BIM, com os programas AECOsim Building Designer, MicroStation, Navigator, ProjectWise e ProSteel. Com este último programa e técnicas paramétricas do BIM, a equipe de projetistas otimizou os 445 nós da rede de cabos de aço, economizando 4 milhões de yuans em custos.

Água e esgoto. O prêmio de Inovação em Tratamento de Água e Esgoto foi entregue à MWH, responsável pelo projeto da planta de hidrolise térmica na ETE Seafield, da operadora Stirling Water, em Edinburgo, Escócia. Esta planta visa a tratar o lodo de esgoto antes de ingressar no processo de digestão, assegurando a extinção de 99,99% dos agentes patológicos, tornando o produto final seguro para uso na agricultura. Ao mesmo tempo, este tratamento pode tornar a ETE autossuficiente em energia. O software OpenPlant3D tornou efetiva a colaboração entre o fabricante da rede de dutos e as empresas encarregadas do controle de odor e do cabeamento. Ao compartilhar o modelo das redes de tubulações, a MWH pode eliminar a emissão de desenhos detalhados impressos e fazer a aprovação via projetos eletrônicos.

Engenharia offshore. Em Inovação em Engenharia Offshore, o vencedor foi o trabalho de transporte e instalação de uma plataforma SHWE, na Baía de Bengala, Mianmar, realizado pela Dockwise Shipping, subcontratada da Hyundai Heavy Industries. Envolveu o deslocamento pelo mar de uma jaqueta de 22 mil t e sua estrutura de topo de 30 mil t, executado sobre uma balsa com uma configuração inovadora em forma de garrafa. O uso dos programas Moses e SACS nesse projeto possibilitou reduzir 5 mil horas do total de 300 mil homens-hora previsto na execução, representando, assim, a diminuição do período de quatro dias de operações offshore para dois.

Waterview Connection. O prêmio Inovação em Rodovias foi concedido ao complexo chamado Waterview Connection, em Auckland, Nova Zelândia, com extensão de 4,8 km, projetado e construído pelo consórcio Well Connected Alliance — parte de um anel rodoviário de 48 km em torno dessa cidade. As obras consistem de 2,4 km de túneis escavados a 45 m de profundidade, para evitar camadas vulcânicas no subsolo, com uma TBM fabricada sob medida com diâmetro de corte de 14,4 m — uma das dez maiores em operação. São túneis gêmeos de 13,1 m de diâmetro, a ser revestidos com segmentos pré-moldados de concreto. As dimensões dos túneis e a densidade da rocha demandaram toda a experiência técnica do consórcio global formado pela NZ Transport Agency, Fletcher Construction, MacDow, Parsons Brickerhoff, Beca, Tonkin & Taylor e Obayashi Corp. do Japão. O uso de modelagem estrutural reduziu o prazo na fase de projeto. A obra tem conclusão prevista para início de 2017, ao custo de 1,4 bilhão de dólares da Nova Zelândia.

ConstructSim. A Jacobs levou o prêmio de Inovação em construção pelo uso do programa ConstructSim em projetos EPC. Sendo uma das maiores empresas globais de engenharia, a Jacobs expandiu o uso do programa para realizar planejamento centralizado para múltiplas obras, substituindo o gerente de planejamento dedicado de cada projeto. Ampliando o uso do ConstructSim, a empresa gerenciou 14 projetos utilizando 19 modelos, todos gerenciados apenas por um único gerente e um administrador do próprio programa. O valor dos projetos variou de US$ 120 millhões a US$ 670 milhões. Com modelos PDS e PDMS mais completos gerados pelo programa, a Jacobs implementou trocas automáticas de informações para produzir relatórios em tempo real sobre engenharia, materiais, fabricação no fornecedor, transmissão de desenhos, programação, produtividade e turnover. A redução das equipes de planejamento obteve economia de US$ 1 milhão e a padronização da partida das obras reduziu gastos em US$ 500 mil.

Edifícios. O conhecido escritório de arquitetura Morphosis ganhou o prêmio de Inovação em Edifícios com o projeto do Emerson College em Los Angeles, EUA — uma edificação que se propõe a ser um ícone urbano na cidade, fixando a imagem da escola oriunda de Boston, na Costa Leste, e funcionar como um polo cultural de atividades que atraia o público em geral e os estudantes. O uso da tecnologia BIM possibilitou um fluxo de trabalho contínuo entre arquitetos, consultores e subempreiteiras, ao compartilhar modelos 3D detalhados, e contribuiu para a conclusão da obra no prazo e no orçamento — US$ 85 milhões.

Obras de arte especiais. Um dos mais disputados prêmios foi Inovação em Pontes, pela qualidade dos projetos concorrentes. No final, o júri elegeu a segunda ponte sobre o rio Iangsé em Wuhu, província de Anhui, China, projetada pela Anhui Transport Consulting and Design Institute. Esta ponte estaiada com dois mastros, medindo 13 km, é parte da via expressa Wuhu-Tongling de 57 km, destinada a incentivar a expansão econômica da China Central. A ponte possui ainda acessos de 23 km e 21 km nas margens norte e sul, e se destaca pelo uso de seções formadas por vigas metálicas de dimensões excepcionais, além de ser o maior vão estaiado já construído com cabos de aço posicionados em quatro planos. O uso de programas dedicados de design para pontes reduziu a fase de projeto em oito semanas e o modelo em 3D vai economizar US$ 2 milhões em custos de operação e manutenção.

Outro projeto de ponte recebeu o Special Recognition Award. A nova Tappan Zee cruza o rio Hudson, ampliando a já magnífica coleção de pontes cênicas em Nova York, EUA. Ligando os condados de Rockland e Westchester e substituindo uma ponte obsoleta de mesmo nome, a nova estrutura apresenta os vãos principais estaiados suportados por torres gêmeas, com vãos centrais de 400 m. Cada uma das duas pontes gêmeas comporta quatro faixas de tráfego mais acostamentos, faixas de emergência extralargas, e uma via compartilhada por ciclistas e pedestres – que verão paisagens memoráveis de Nova York. A obra foi contratada como projeto mais construção com o consórcio Tappan Zee Constructors, tendo a HDR como projetista-líder que adotou BIM para desenvolver modelos 3D que reduziram a curva de aprendizado na coordenação entre as empresas participantes da obra.

A modalidade projeto e construção produziu uma economia de US$ 1,7 bilhão se comparada a outras alternativas consideradas pelos órgãos estadual e federal. A proposta vencedora ficou 20% abaixo de duas concorrentes, ofereceu o menor prazo de construção e o menor volume de dragagem no rio. Conclusão prevista para 2018.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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