Explosão de consumo

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A indústria siderúrgica brasileira teve de se virar como pôde no primeiro trimestre deste ano para atender à explosão de consumo, que pegou os fabricantes de calças curtas, principalmente no segmento de chapas para os mercados automobilístico e de linha branca, sem contar os de máquinas e equipamentos e de construção civil. As vendas no mercado interno cresceram 19%, praticamente o dobro dos 10% previstos para o ano de 2008 inteiro. Por conta disso, o produto saiu da pauta de exportação e foi redirecionado para o consumo interno. Para atender ao mercado externo, foi preciso até importar matéria-prima, como no caso da Usiminas, que importou chapas galvanizadas para atender clientes japoneses do ramo automobilístico.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Siderugia (IBS) revelam que em 2007 o consumo de aços planos foi de 13,35 milhões t. Em janeiro e fevereiro deste ano o volume chegou a 3,23 milhões t. Segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, a produção de aço cresceu 6,5%, enquanto a demanda é o triplo desse número, chegando ao quádruplo no caso de materiais acabados longos. O volume que será produzido em 2008 é de 37 a 38 milhões t.

Mas se percebe que as empresas já estavam preparando expansões, como a da Arcelor Mittal Tubarão (ex-CST), no Espírito Santo, que está duplicando a unidade de João Monlevade (MG). A Usiminas também desenvolvem projetos, mas que devem valer depois de 2010 e 2011, respectivamente. A idéia da Usiminas é tornar-se a principal fabricante de aços planos do Brasil, investindo US$ 8,4 bilhões em expansões. Está incluída nesse montante a obra na unidade de Ipatinga (MG), para aumentar a produção em 3,2 milhões t/ano em 2011. A produção da unidade passará de 4,8 milhões para 7 milhões t/ano. Os trabalhos estão previstos para serem iniciados no primeiro trimestre do próximo ano.

No setor de aços longos, a Votorantim Metais constrói nova unidade em Resende e a Gerdau faz algumas expansões. E a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da ThyssenKrupp e Vale, vai saindo do papel. Esse movimento é indicador de que as coisas não estão estagnadas, embora Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tenha declarado que “o potencial de investimento em siderurgia é maior do que o que está ocorrendo. Os números da siderurgia estão demorando a deslanchar”. Roger Agnelli, presidente da Vale, confirmou esse pensamento, expressando que ainda há uma visão conservadora no País.

Flávio Roberto Azevedo, presidente do IBS, rebate a acusação de Coutinho com o argumento de que a siderurgia só pode se expandir a partir do crescimento do mercado interno. “E o consumo doméstico começou a crescer somente a partir de 2002, após 20 anos de estagnação, refletida pelo baixo crescimento do País”. Ele afirma que os investimentos planejados ou em execução correspondem a US$ 33 bilhões, para que a produção anual passe de 41 milhões t para 63 milhões t até 2013. Segundo ele, o mercado interno, hoje na casa dos 20 milhões t, dobrará de tamanho até 2015. De toda forma, analistas do setor entendem que uma expansão de peso ainda é esperada, principalmente para abastecer o mercado de chapas grossas, que são usadas na construção civil e gasodutos. Para eles, em 2009 a oferta interna e a demanda devem se encontrar num patamar superior a 2 milhões t. É viver para ver.

As novidades

O que pode ser considerado promissor é a criação da Siderúrgica do Pará, que poderá sair de uma parceria da Vale com o BNDES, um projeto avaliado em US $ 5 bilhões. O assunto ainda está em tratativas, mas Luciano Coutinho já declarou que o empreendimento é estratégico para o desenvolvimento da região. A capacidade de produção está sendo estudada pela Vale numa faixa entre 2,5 milhões e 5 milhões t/ano de placas de aço. Embora Agnelli reclame de lentidão na expansão do setor, o início deste projeto é postergado pela mineradora até a realização de obras de infra-estrutura, como o término da eclusa de Tucuruí e o porto.

Outro projeto em siderurgia da Vale que se arrasta desde 1995 é o da hoje denominada Companhia Siderúrgica do Pecém, em sociedade com a sul-coreana Dongkuk Steel. Este projeto, movido a carvão mineral, substitui o da antiga Ceará Steel (movido a gás natural), que por sua vez substituiu o projeto da Usina Siderúrgica do Ceará, e ganhou nova área dentro do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.

A obras da CSA, orçadas em três bilhões de euros, ocorrem no Distrito Industrial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, em área com 9 milhões m². Além das instalações fabris, o projeto contempla a construção de um porto com dois berços de atracação – um para recebimento de 4 milhões t/ano de carvão mineral e outro para escoamento da produção, que será de 5 milhões t/ano de placas de aço, e uma ponte de acesso ligando o terminal portuário ao complexo industrial, com 3.800 m de extensão. Os trabalhos estarão concluídas no início de 2009 e, a partir de março daquele ano, a empresa enviará toda sua produção ao mercado externo, elevando em 40% a exportação brasileira de aço.

Considerada uma das grandes obras em andamento no País, a Companhia Siderúrgica do Atlântico possui no canteiro 18 mil empregados diretors e 3.500 colaboradores da região estão sendo contratados para a fase operacional.

Outros investimentos

A Arcelor Mittal, que inaugurou em novembro de 2007 a expansão da produção para 7,5 milhões t da unidade Tubarão, anunciou na ocasião, por meio do presidente e CEO da matriz, investimentos de US$ 5 bilhões nas operações brasileiras, incluindo manutenção. “Isso inclui projetos como o de expansão do laminador de tiras a quente em Tubarão, para 4 milhões t/ano, e a construção da nova linha de galvanização à quente por imersão em Vega do Sul. Considerando a existência de matéria-prima, minério de ferro de boa qualidade, mão-de-obra altamente qualificada e perspectivas atraentes de crescimento, o Brasil é um ótimo local para produzir aço”, declarou na ocasião Lakshmi Mittal, presidente e CEO da companhia. As obras do laminador foram iniciadas pela Hochtief do Brasil, que já havia construído o convertedor BOF # 3 e a área de manutenção de panelas do edifício da aciaria. O escopo dos trabalhos compreende 7 mil m³ de concreto, com prazo aproximado de execução de 10 meses.

Ele também anunciou a decisão de dobrar a capacidade da planta integrada de produtos longos de Monlevade (MG). Serão investidos perto de US$ 1 bilhão na usina integrada, que passar&aacu

te; de 2,4 milhões t/ano de aço bruto para o dobro. Será construído um alto-forno novo, com capacidade de 1,5 milhão t/ano de gusa e as obras incluem a instalação de uma nova sinterização, para elevar a produção de 1,7 milhão /ano para 5,7 milhões, uma aciaria com capacidade para produzir 2,4 milhões de tarugos ano (o dobro da atual capacidade) e um novo laminador para produzir adicionalmente 850 t de fio-máquina. Segundo Mittal, “a decisão de construir é parte do plano de crescimento do grupo, que tem como meta aumentar as exportações de aço em 20% até 2012, através de crescimento orgânico”.

As obras, iniciadas em março deste ano, têm prazo de conclusão em 27 meses. No pico empregarão até 6 mil pessoas. “É um cronograma apertado, um desafio que assumimos a partir de uma solicitação do grupo Arcelor Mittal”, diz Paulo Geraldo de Sousa, CEO da companhia para aços longos, na região da América do Sul e Central.

R$ 1 bilhão em Resende

A Votorantim Metais está aplicando R$ 1 bilhão na construção de nova unidade em Resende (RJ), onde irá produzir 1 milhão t/ano de aços longos. Os trabalhos foram iniciados em setembro de 2007, com a terraplenagem, e serão encerrados em dezembro de 2009. No entanto, em maio do próximo ano já será iniciada a operação da aciaria; no mês seguinte, a laminação entra em funcionamento; e, em agosto, o down stream.

No momento, os serviços de terraplenagem estão sendo finalizados; os de construção civil seguem o cronograma e, a fabricação e a montagem de estruturas metálicas avança de acordo com as expectativas, segundo informa a direção da empresa.

O terreno tem 4,3 milhões m², sendo que as edificações ocuparão 25% do total. As estruturas que compõem a unidade industrial são o pátio de recebimento de matéria-prima, constituído por portaria, monitoramento rodoviário e ferroviário, balança e pátio de recebimento de sucata; aciaria, formada por forno elétrico, forno panela e lingotamento contínuo; pátio de tarugo; laminação, constituída por forno de reaquecimento e laminador; down stream, formado por endireitadeiras, máquinas de dobrar e laminador de perfis; e pátio de expedição, formado por pátio de produtos acabados e balança.

Fonte: Estadão


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