Ao lembrar a sua trajetória empresarial, o engenheiro Cyro Laurenza, colaborador da revista O Empreiteiro, traz à tona um poema do Fernando Pessoa e o tempo do cérebro eletrônico. Abaixo, o texto do engenheiro, na íntegra
*Cyro Laurenza – consultor de Engenharia
“A revista O Empreiteiro compartilhou com a engenharia nacional 50 anos de história profissional. As transformações da vida econômica, a evolução política, o despertar científico e tecnológico do Brasil. As transformações do mundo contemporâneo que nos atingiram nos transformaram e nos impulsionaram. Recorro aqui a uma poesia de Fernando Pessoa:
‘De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estamos sempre começando,
a certeza de que é preciso continuar e
a certeza de que somos interrompidos antes de terminar.
Portanto,
devemos fazer da interrupção um caminho novo,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro’.
Meu caminho empresarial está descrito nesta poesia. Não é necessário ir mais longe. Lembro que em 1967 abri a primeira softhouse no Brasil na área de tecnologia aplicada em Engenharia Estrutural. Era o tempo do Cérebro Eletrônico, antigo nome dos computadores. As dificuldades financeiras para investimentos, a não compreensão dos clientes diante das novas ferramentas limitaram a atividade comercial e os programas desenvolvidos passaram para nosso uso interno.
O novo ‘passo de dança’ aconteceu quando o país tentava planejar as cidades. Fomos desenvolver instrumentos técnicos. Percebemos que nossos projetos na área de transportes precisavam de novas tecnologias e, mais uma vez fomos buscar conhecimento. Nos anos 90, mergulhamos na Concessão de Rodovias buscando soluções internacionais, não encontramos. Realizamos um modelo brasileiro.
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Na sequência percebemos que não sabíamos como operar rodovias, que sempre foi expertise estatal. Encontramos parceiros italianos. Hoje, operamos rodovias como grandes mestres.
Despertamos, enfim, para a busca de solução ao setor ferroviário de cargas, totalmente destruído por sucessivos governos. Por último, a descoberta emocionante de que os trens de passageiros necessitam de trens regionais tão necessários para a melhoria da mobilidade humana. Mais uma vez um novo desafio.
Em cada movimento houve uma queda; em cada queda surgiu muito medo de continuar. Aos poucos, com todo o direito que temos de sonhar, construímos novas escadas” e, em novas quedas”, outras pontes. Às vezes as quedas foram muito dolorosas. Extrapolavam problemas técnicos e conjunturais, revelavam facetas desconcertantes do caráter humano.
De toda a “procura” sempre houve um “encontro”. Homens e mulheres que contribuíram para o amadurecimento dos pensamentos empresariais.
Às vezes, não entendo como sobrevivi ao esforço de acompanhar o desenvolvimento tecnológico desta nossa época com tantas ‘quedas, medos e sonhos’.
O engenheiro Cyro Laureza foi conselheiro do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco); integrou os quadros da Academia Pan-Americana de Engenheiros (API); foi membro do Conselho para o Desenvolvimento das Cidades da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) e diretor de P&D da Critério Estudos Especiais.