Nildo Carlos Oliveira
Muito gente já falou. Sociólogos, antropólogos, urbanistas, políticos. Mas a fala do papa Francisco tem amplificadores poderosos. Ele se manifesta aqui e a repercussão atravessa continentes. A expectativa é de que ela sequer chegue tão longe. Basta chegar aos ouvidos e à consciência (daqueles que a têm), dos governantes daqui mesmo.
Foi numa favela de Varginha, no Rio, que está sob a presença das forças da chamada Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ele disse que a pacificação real só é obtida com a correção das desigualdades sociais. Sem isso, qualquer pacificação é inócua.
Ali, a exemplos de outros locais brasileiros, o fuzil e a metralhadora chegaram primeiro que a escola, a saúde, o transporte público, a moradia. Enfim, a condição de vida com um pouco de dignidade.
O Estado se esquece de ocupar essas localidades com aquilo de que o povo mais precisa. E, quando há indícios de desequilíbrio e de desespero sociais, expressos nos equívocos com os quais se procura uma correção inadequada, via comércio de drogas e outras aberrações, o Estado então aparece. E aparece daquele jeito: equipado como se fosse para uma guerra. Mais tarde instala no local uma UPP como se esta providência representasse a solução definitiva. E não é.
Caso o Estado se antecipasse às reivindicações e às urgência da população, não haveria necessidade das UPPs. Nem de arbitrariedades como a que aconteceu recentemente em São José dos Campos (SP) na comunidade de Pinheirinho, que até hoje tem desdobramentos e significou, para muitos que estudam o problema, uma enorme agressão aos direitos humanos.
Mas o Estado chega atrasado. E chega de fuzil e metralhadora nas mãos, para corrigir um erro que ele próprio deveria ter previsto para se antecipar aos fatos. Daí, a oportunidade da fala serena do Pontífice: “Nenhum esforço de pacificação será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”. Será que o papa está sendo ouvido?
Fonte: Revista O Empreiteiro