Apesar da queda dos lucros da Petrobras no primeiro trimestre deste ano, a estatal prossegue firme com seus investimentos em todas as áreas. O orçamento de 2007, revisto em janeiro, chegou a R$ 54,998 milhões, incorporando novos projetos e permitindo antecipar outros tidos como prioritários. Do incremento de R$ 7,542 milhões, R$ 3,328 milhões referem-se a projetos vinculados ao Plano de Antecipação da Produção de Gás (Plangás), que visa ampliar a oferta de gás natural no mercado brasileiro e engloba ações como a inclusão das unidades de tratamento de gás de Cacimbas e Caraguatatuba, a antecipação do projeto de Jabuti e do desenvolvimento de Marlim Sul, a planta-piloto de produção do Campo de Bonito, e novos projetos, entre os quais o desenvolvimento do Parque das Conchas.
Mas, a Petrobras foi mais além e está revisando seu plano de investimentos de 2008 até 2012, que deverá superar os US$ 87,7 bilhões previstos no programa em curso. Sem considerar os programas da área internacional, os projetos da estatal para o período 2007-2011 correspondem em reais a R$ 171,7 bilhões. José Sérgio Gabrielli, presidente da companhia, informa que os novos números serão anunciados até agosto e abrangem “uma avaliação complexa, que envolve mais de 700 projetos”. Segundo ele, a política de nacionalização em vigor estima que os projetos terão 65% de seu conteúdo nacional, o que equivale à aquisição de pelo menos US$ 50 bilhões de fornecedores brasileiros.
O investimento que é considerado na atualidade um dos mais importantes em território nacional é o da construção da Refinaria Abreu e Lima (Refinaria do Nordeste), um empreendimento em conjunto com a Venezuela, por meio da Petróleos da Venezuela (PDVSA).
A refinaria, com capital meio a meio das duas empresas, estará situada no Complexo de Suape, junto ao pólo petroquímico em construção, no município de Ipojuca (PE). A refinaria será projetada, construída e operada pela Petrobras e terá capacidade para processar 200 mil barris/dia de petróleo pesado, metade da Petrobras, metade da PDVSA.
O volume inicialmente previsto de recursos, de US$ 2,5 bilhões, foi aumentado para US$ 2,8 bilhões, em função da alta dos custos de materiais e serviços, especialmente do aço. A produção visa atender ao crescimento da demanda de derivados do Nordeste, hoje deficitária, e incrementar a produção de óleo diesel e GLP para reduzir a importação.
O terreno onde será erguida a refinaria foi doado pelo governo pernambucano. Segundo a Petrobras, dois terços da área já foram liberados. A última parte, que pertence à Usina Salgado, deverá ser liberada após a conclusão das negociações.
O governo do Estado responderá pelas obras nas estradas de acesso e no porto. Os estudos de impacto ambiental foram desenvolvidos pela Universidade Federal de Pernambuco previamente às audiências públicas. A área do Porto de Suape onde o empreendimento será construído já possui licença ambiental para atividade industrial e, por isso, a estatal espera que os procedimentos de licenciamento sejam concluídos ainda este mês.
Caso esse cronograma se confirme, as obras de terraplenagem começarão no segundo semestre. Os projetos de engenharia básica são desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).
MAIS GÁS PARA GERAÇÃO TÉRMICA
Contemplada com ações no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a participação da estatal foi anunciada pelo governo federal em 183 projetos a serem desenvolvidos até 2010, dos quais 70% estão relacionados à área de Exploração & Produção.
Os investimentos correspondem aos gastos do plano de investimentos da Petrobras até aquele ano, no valor de R$ 171,7 bilhões. Guilherme Estrella, diretor da área, explica que os principais desafios da companhia nesse campo dizem respeito ao Plangás, que prevê investimentos de R$ 25 bilhões para ampliar a produção diária de gás em mais de 55 milhões m³, para abastecer a geração térmica; o desenvolvimento da produção da Bacia de Campos e do campo em Sergipe; e a aplicação de R$ 15 bilhões nas atividades de exploração terrestre e marítima.
Do Plangás, além do desenvolvimento dos campos de Mexilhão e Golfinho, fazem parte uma unidade de processamento de gás em Cacimbas, no município de Linhares (ES), e uma rede de gasodutos, com previsão de operação dos trechos Cabiúnas-Vitória no quarto trimestre de 2007 e Cabiúnas-Reduc em 2009. Entre os principais projetos de gasodutos em construção destaca-se o de Urucu-Manaus. Com 662 km, ele servirá para escoamento, até a capital amazonense, do gás natural produzido na base de extração de Urucu, em Coari (AM), e do gás liquefeito de petróleo para Coari.
Em maio começaram os trabalhos de lançamento e travessia de dutos no leito do Rio Negro, divididos em dois trechos: o primeiro, de cerca de 10 km de extensão, ligará a Ilha do Marapatá, no distrito de Cacau Pirêra, à Refinaria Isaac Sabbás (Reman), em Manaus, e o segundo, com 6 km, conectará a Olaria Rio Negro, a 3 km do Porto de Cacau Pirêra, à Usina Termelétrica de Aparecida. Durante as obras, que estarão concluídas em julho, a navegação no Rio Negro terá desvios orientados pela Capitania dos Portos de Manaus. A travessia e o lançamento dos dutos estão sendo efetuados por uma embarcação especial – uma balsa com mais de 120 m de comprimento e 30 m de largura, equipada com um guindaste também especial (Clyde) com capacidade de até 1.000 t, para a montagem e lançamento dos dutos, que opera 24 h/dia. Nos trechos do leito do rio, onde a vazante é mais forte e durante a estação de seca, há formação de praias, a tubulação passará sob a terra.
A ampliação e a modernização do parque de refino, que devem receber recursos de R$ 22,6 bilhões até 2010, englobam obras em todas as refinarias da Petrobras.
O objetivo é produzir combustíveis mais “limpos” e também renovar a frota de petroleiros, com a construção, em estaleiros nacionais, de 42 navios, com encomenda inicial de 26, 15 das quais deverão estar entregues até 2010, com investimentos de R$ 4,1 bilhões.
A HORA DO AGROCOMBUSTÍVEL
O programa de biodiesel, também listado no PAC, prevê a instalação inicial de unidades industriais em Candeias (BA), Montes Claros (MG) e Quixadá (CE), para produção, em cada uma, de 50 mil t/ano, com recursos de R$ 570 milhões. O produto será fabricado a partir de vários óleos vegetais e de gordura animal a partir do final de 2007. Está nos planos da empresa a construção, com sócios privados de outras usinas de biodiesel até 2008. A idéia é colocar no mercado 855 mil m³/ano do produto até 2010. Em 2006, foi inaugurada uma planta experimental de biodiesel no Pólo Industrial de Guamaré (RN), a 180 km de Natal.
Ele é constituído ainda por um terminal de armazenamento e transferência de petróleo, três unidades de processamento de gás natural, uma estação de tratamento de óleo, uma planta de produção de diesel, uma unidade de produção de querosene de aviação e três estações de tratamento de efluentes. As duas unidades experimentais da planta de biodiesel do local vão desenvolver as tecnologias criadas pela Petrobras para a fabricação de agrocombustíveis a partir da mamona e de outras oleaginosas típícas do Brasil, com qualidade e baixo custo.
Elas têm capacidade para produzir até 16 mil t/ano de biodiesel. A primeira produz a partir de óleos vegetais com tecnologia convencional até 600 l do produto, e a segunda, que emprega tecnologia desenvolvida pela Petrobras, produz diretamente de grãos de oleaginosas e emprega o etanol como reagente, tendo capacidade para produzir 5 mil l/dia do produto. Nas duas unidades são usados óleos puros de mamona ou misturados com outros óleos e, em ambos os processos é gerada glicerina como subproduto. Para o funcionamento das duas unidades são cultivados na região 3 mil ha de mamona e 10 mil ha de girassol, gerando emprego para 2.500 famílias de agricultores. Com relação ao etanol, encontram-se em fase de implantação os projetos do Corredor de Exportação de Álcool, com a construção de alcooldutos para escoamento do produto.
O primeiro a ser executado liga o município de Senador Canêdo, em Goiás, ao Terminal da Petrobras em São Sebastião (SP), passando pela base de distribuição de combustíveis da Refinaria de Paulínia (Replan). Para isso, a diretoria de Abastecimento assinou memorando de entendimento com a empresa japonesa Mitsui e a construtora Camargo Corrêa para estudos de viabilidade técnico-econômica de implantação. Um segundo alcoolduto deverá ligar Campo Grande (MT) ao Porto de Paranaguá (PR). O objetivo, de acordo com Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento, é preparar a logística para aumento das exportações de etanol, principalmente para a Ásia. O custo dos dois empreendimentos é estimado em US$ 2 bilhões.
A primeira microusina de produção de álcool em que produtores serão responsáveis pela operação e fornecimento foi inaugurada recentemente no município de Redentora (RS), em parceria com a Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil (Cooperbio). Estão previstas outras nove microusinas e uma unidade retificadora central na região Noroeste do Rio Grande do Sul. Segundo Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, o projeto testará a viabilidade de um modelo diferente de produção de etanol, que apresenta mais vantagens sociais e ambientais do que a convencional, que é baseada na monocultura.
Nas microusinas, os agricultores intercalam a produção de alimentos com a de etanol. Na primeira safra de cana, a produtividade chegou a 60 t/ha e a safra foi consorciada com a produção de feijão, com rendimento de 20 sacas/ha. Um terceiro ponto do programa de biodiesel é o processo tecnológico desenvolvido para produção de diesel nas refinarias convencionais, utilizando a mistura de petróleo com óleos vegetais. Chamado HBIO, o processo está sendo implantado este ano em quatro refinarias nos estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, envolvendo recursos de R$ 150 milhões. A idéia da Petrobras é levar o processo às demais unidades de refino até 2010.
AFRETAMENTO DA P-53
Depois de cancelar no começo do ano a contratação dos módulos de geração de energia e compressão de gás das plataformas P-55 e P-57, a Petrobras redefiniu as estratégias para construção das mesmas, de forma a otimizar os projetos e obter melhores condições comerciais.
Para isso, simplificou os projetos e antecipou em três anos (para 2010) o início das operações da P-56, que deve ser uma cópia da P-51, plataforma que está sendo construída pelo consórcio FSTP, liderado pela Keppel Fels, de Cingapura, no estaleiro Brasfles, em Angra dos Reis (RJ), com quem está sendo negociada a construção da P-56. As três plataformas integram o PAC. A P-55 será executada em dois pacotes: o do casco, cujo edital foi lançado em maio, e outro, que inclui o convés, com edital a ser lançado em março de 2008.
O edital da P-57 foi lançado em abril e terá recebimento das propostas até 25 de setembro. A P-55 e a P-57 terão capacidade para produção de 180 mil barris/dia de petróleo.A primeira é do tipo semi-submersível e a segunda será convertida a partir de um casco existente, ficando de 20 a 25% mais em conta do que se fosse construído um casco novo.
Os trabalhos de construção dos módulos da plataforma P-53 estão sendo executados na cidade de Rio Grande (RS). Ela operará no campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos, e terá capacidade de produção de 180 mil barris de petróleo e 6 milhões m³/dia de gás. A P-53 deve entrar em operação em 2009; é construída pela empresa de propósito específico Charter Development Limited Liability Company, constituída pelo Banco ABN Amro Real, vencedor da licitação para o afretamento da plataforma para a Petrobras. A empresa Quip, formada pelo Consórcio Marlim Leste, que tem a Queiroz Galvão, Ultratec e Iesa entre seus acionistas, foi contratada pela Charter Development para construir a plataforma.
Dois canteiros de obras são empregados para a tarefa: o da Ultratec em Niterói, cuja área industrial foi ampliada em 67 mil m², contando com dois cais de acesso, com 30 m e 50 m de comprimento, ambos com 7 m de profundidade; e outro na cidade de Rio Grande (RS), no local onde funcionava uma antiga fábrica alimentícia, cujas instalações foram totalmente reformadas para a execução da etapa de integração da P-53, que compreende a montagem dos módulos e sistemas em cima da plataforma. Em Cingapura, na Ásia, ocorre a etapa de conversão de um petroleiro italiano em uma unidade de produção flutuante, realizada pelo estaleiro Keppel. De acordo com Otoniel Silva Reis, diretor geral da Quip, “a P-53 terá o maior turret já construído, de 25,6 m de diâmetro, reunindo 75 linhas que ficarão ligadas a 18 poços de produção e nove de injeção”.
DIQUE-SECO
Também na cidade de Rio Grande prosseguem as obras de construção do dique-seco, uma instalação que será usada pela Petrobras para construção e reparo de plataformas de produção de petróleo do tipo semi-submersível. O dique-seco do Porto de Rio Grande terá 130 x 140 m e calado de 13,8 m. O grupo WTorre, controlador do Estaleiro Rio Grande, é o vencedor da licitação, pelo valor de R$ 222 milhões. A operação estará a cargo do grupo e sua infra-estrutura, que contém ainda cais, oficinas de processamento de aço e áreas de apoio, será alugada pela Petrobras por um período de 10 anos. As obras serão concluídas em outubro de 2008 e já há previsão, para os próximos 12 anos, de construção de quatro cascos de plataformas flutuantes de grande porte no local.
TERMINAL AQUAVIÁRIO
Instalado em Caucaia, no Complexo Portuário do Pecém, o 45° terminal da Transpetro – o Terminal Aquaviário do Pecém – está em construção para armazenamento de combustíveis, operando integrado a uma base da BR Distribuidora. Considerado o mais moderno do Brasil, idealizado para movimentar anualmente 1,5 bilhão l de combustíveis, ele ocupará uma área de 100 ha localizada a 10 km do píer de líquidos do porto. Nas obras, que serão terminadas no segundo semestre de 2009, a Petrobras investirá R$ 200 milhões. O terminal terá nove tanques, com capacidade de 111,7 mil m³ de diesel, gasolina, querosene de aviação, álcool e biodiesel.
Com a tancagem de 29,6 mil m³ da base da BR Distribuidora, também em execução, a capacidade total será de 141,3 mil m³Os tanques do terminal serão construídos com teto em forma de domo, o que aumenta em um metro a sua altura, permitindo ampliar sua capacidade de armazenamento. Os tetos serão fabricados em alumínio, tornando-se mais leves do que os tetos móveis. Além disso, sua forma geométrica evita o uso de colunas de sustentação, o que torna a montagem mais rápida. Segundo a Petrobras, está em estudo um projeto para instalação futura de esferas para armazenamento e movimentação de gás liquefeito de petróleo (GLP).